Trocou o Brasil por Portugal. Atrás de um sonho, de um país seguro, de ondas. Portugal encontrou-o e assim nasceu a Blue Room pelas mãos de Guilherme Paz nascido em Porto Alegre e sem preocupações de break even, porque há um bem maior que nos confidencia: a valorização. Formado em Direito, a sua história começa com uma oficina de madeira no Brasil e a partir dai o seu mar nunca esteve… “flat”.
Guilherme, antes de mais, o nosso obrigado por esta visita guiada em dia solarengo ao vosso espaço. E durante a mesma, fiquei com esta dúvida: o Guilherme é um surfista que resolveu empreender ou um empreendedor que resolveu surfar?
Bom, Guilherme Paz é um empreendedor inquieto, com vontade de vencer e aprender. Que resolveu surfar por vários motivos. O surf ensina a cair e levantar, ensina a ser paciente e corajoso para enfrentar os medos e mudanças do mar. A escola de vida do surf é incrivel, nos deixa mais aptos a enfrentar mares revoltos, logo, nos ajuda a empreender. Todos os CEOs deveriam surfar!
Foi por isso que trocou o Brasil por Portugal?
Estratégia de negócios e qualidade de vida. Unir o útil ao agradável. Sempre sonhei em viver num local paradisíaco e perto do mar. Eu nasci em Porto Alegre, no sul do Brasil, no estado do Rio Grande do Sul e a minha cidade natal não tem mar, apenas um rio. Estrategicamente, para o meu negócio, Portugal é o lugar perfeito por vários motivos: O surf é valorizado e muito praticado, além de a Europa estar cada vez mais apaixonada por esse desporto; a língua portuguesa parecidíssima, ajuda na adaptação; a mão de obra é a mais barata do continente europeu e o mais importante é o acesso a toda a União Europeia (facilita a exportação).
Criou por isso a Blue Room…
O core business da Blue Room é fabricar para marcas com potencial financeiro alto, porém, ainda, sem tanto destaque no cenário global. Na Europa, a cada ano, surgem novas marcas de surf de países que até então era atípico. Os nossos dois maiores clientes são a Sincly da Suíça e a Eleveight da Alemanha.
E já agora porquê esse nome?
O nome Blue Room foi criado em conjunto com o colaborador Radamés Michel, responsável pelo marketing da empresa. O nome vem da característica do principal local dentro de uma fábrica de prachas, a sala do shape (sala azul), que é toda dessa cor por causa das luzes que refletem na parede, assim podendo ver as linhas com mais exatidão. E um outro motivo mais particular foi um link com o meu quarto de infância que era azul, por amor ao surf.
Estamos na Costa da Caparica, na vossa fábrica agora em remodelações. Novos voos?
A produção de pranchas de surf existe há muitos anos com vicios ocultos, ou seja, pouco profissionalismo na qualidade do produto e falta de interesse do fabricante no pós venda. A prancha de surf por ainda ter um processo artesanal tem como consequência um mercado assim. Atualmente o surf é um desporto olímpico e com profissionalismo, o meu negócio sempre vai expandir.
Mas, objetivamente, o que vos diferencia?
A qualidade de nossas pranchas é o principal motivo de a Blue Room ser hoje reconhecida internacionalmente no mercado da indústria do surf. Para ter uma boa qualidade é necessária liderança, equipe qualificada e bem construída em cada setor do processo de construção das prachas.
Estando em Portugal, como olha para o país a nivel de apoio à classe emptresarial?
Não vejo um apoio com grande afinco, mas a União Européia disponibiliza algum incentivo através de fundos de investimento, mas sinceramente, achei muito difícil o acesso a essa ajuda. Preferi continuar focado e trabalhando nos meus objetivos.
Em termos de retorno do investimento, como tem corrido o negócio?
Tenho um pensamento diferente como empreendedor. O retorno mais valioso que podemos ter é a aprendizagem que adquirimos durante o caminho nos negócios. Acredito que os investimentos financeiros são feitos para ter retorno sim, e já consegui fazer a Blue Room funcionar nesse aspecto. Mas o meu pensamento nos negócios são de valorizar algo para um dia vender bem. A Blue Room não passa de uma marca, e marcas devem crescer e para crescer é necessário investidores ou sociedade empresarial.
O trabalho diferenciado e profissional que estamos fazendo na Blue Room já me fez ter diversas propostas relacionadas com novos sócios, investidores ou venda. Criei um produto valorizado e reconhecido a nivel global que enche os olhos de quem vê.
Como vê a relação Portugal-Brasil?
Portugal e Brasil sempre vão ter uma relação próxima referente à língua portuguesa. Temos culturas diferentes mas a essência é a mesma. Somos parecidos. Devido a isso existem alguns tratados e acordos entre os dois países. Isso ajuda muito.
Qual o seu maior sonho?
O meu maior sonho é transmitir toda essa experiência e mostrar esse link entre a vida, empreendedorismo e surf, através de um livro para ajudar as pessoas que são atraídas pelo empreendedorismo. A ideia é mostrar que tudo na vida é cíclico, que tudo muda, e, principalmente, que caímos e levantamos a todo o momento, e que um empreendimento é feito para o mundo e não para você, tal qual um filho.
As Ondas Portuguesas são reconhecidas internacionalmente. O que lhe dizem a si?
As ondas portuguesas são incríveis. Há versatilidade nas ondas. Aqui temos ondas gigantes até ondas para iniciantes e performance. Um país com tantas opções de ondas é maravilhoso. Mas como eu comecei a surfar mesmo com 30 anos, hoje aos 40, prefiro surfar na Costa da Caparica por o mar ser fundo de areia, ou seja, menos perigoso.
Com os pés bem assentes, diria, na prancha, Guilherme Paz aconselha o surf a todos, e à Forbes ofereceu uma costumizada com as nossas capas, partilhada no instagram da Forbes Portugal, um reminder de que devemos estar sempre na crista da onda.