Brasil e o impacto das “Tarifas Trump”: há risco de perda de até 20 mil empregos só no setor do calçado

A tarifa adicional de 50% que os EUA começaram a aplicar na quarta-feira sobre as importações de produtos brasileiros afetará 80% dos exportadores de calçados do Brasil e pode causar a perda de até 20.000 empregos no setor. A percentagem de empresas afetadas pela sanção foi determinada numa sondagem que a Associação Brasileira da Indústria…
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A tarifa adicional de 50% que os EUA começaram a aplicar na quarta-feira sobre as importações de produtos brasileiros afetará 80% dos exportadores de calçados do Brasil e pode causar a perda de até 20.000 empregos no setor.
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A tarifa adicional de 50% que os EUA começaram a aplicar na quarta-feira sobre as importações de produtos brasileiros afetará 80% dos exportadores de calçados do Brasil e pode causar a perda de até 20.000 empregos no setor.

A percentagem de empresas afetadas pela sanção foi determinada numa sondagem que a Associação Brasileira da Indústria do Calçado (Abicalçados) realizou entre os seus associados.

“Entre os impactos já relatados estão atrasos ou paralisação nas negociações, redução da faturação e cancelamento de encomendas, algumas até mesmo de calçados já produzidos ou em produção”, afirmou o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, citado no comunicado da associação.

A entidade patronal garante que um dos maiores efeitos será a perda de cerca de 20.000 empregos, entre diretos (8.000) e indiretos (12.000), esperada para os próximos meses.

“Calculamos para os próximos meses uma queda de 9% nas exportações”, afirmou Ferreira.

De acordo com os dados da entidade patronal, os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de calçado, com cerca de 20% das vendas.

Só no primeiro semestre deste ano, o Brasil exportou 5,8 milhões de pares de sapatos para os Estados Unidos, um número 13,5% superior ao do mesmo período do ano passado.

Apesar das exportações brasileiras enfrentarem estas duras tarifas, o presidente brasileiro Lula afirmou, à agência Reuters que as novas barreiras comerciais dos EUA não deverão causar prejuízos elevados. Segundo Lula da Silva, “se os EUA não querem comprar, nós vamos procurar outro [país] para vender; se a China não quiser comprar, nós vamos procurar outro [país] para vender. Se qualquer país que não quiser comprar, a gente não vai ficar chorando que não quer comprar, nós vamos procurar outros”, disse. Atualmente, o comércio do Brasil com os EUA representa apenas 12% da balança comercial brasileira, contra quase 30% da China.

Lula referiu que planeia telefonar para líderes do grupo Brics de países em desenvolvimento, começando pela Índia e pela China, para discutir a possibilidade de uma resposta conjunta às tarifas dos EUA.

Brasil aciona OMC contra tarifas de Trump por violação flagrante de compromissos

O Governo brasileiro acionou, entretanto, a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os Estados Unidos por considerar que as tarifas de 50% que entraram em vigor esta quinta-feira “violam flagrantemente compromissos” da organização.

“Ao impor as citadas medidas, os EUA violam flagrantemente compromissos centrais assumidos por aquele país na OMC, como o princípio da nação mais favorecida e os tetos tarifários negociados no âmbito daquela organização”, lê-se num comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Por essa razão, o Brasil apresentou um “pedido de consultas” aos Estados Unidos no âmbito do Sistema de Solução de Controvérsias da OMC.

O Brasil reiterou ainda a disposição que mantém para uma negociação e disse esperar “que as consultas contribuam para uma solução para a questão”.

“A data e o local das consultas deverão ser acordados entre as duas partes nas próximas semanas”, acrescentou.

Nesta manhã, o Governo do Brasil anunciou também que vai manter novas conversações com a Administração dos Estados Unidos (EUA) após a entrada em vigor das tarifas de 50% imposta por Washington sobre parte das importações brasileiras.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou à imprensa que vai conversar na próxima quarta-feira com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o que “oficializa o interesse em dialogar”.

A conversa entre Fernando Haddad e Scott Bessent vai ser virtual, mas poderá evoluir para um encontro presencial a depender do diálogo.

“Dependendo da qualidade da conversa, poderá ser desenvolvida uma reunião de trabalho presencial com o objetivo de chegar a um entendimento entre os dois países”, assegurou o ministro brasileiro.

A taxa, assinada na semana passada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, afeta 36% das importações provenientes do Brasil e aplica-se a uma variedade de produtos que vão desde a carne bovina ao café.

Ao mesmo tempo, Trump excluiu da tarifa de 50% uma lista de quase 700 produtos que representam 45% das importações provenientes do Brasil e aos quais continuará a ser aplicada a tarifa mínima de 10% anunciada em abril para a maioria dos países.

Outros 19% das importações, como é o caso do aço e dos veículos, enfrentam tarifas setoriais.

As tarifas de 50% impostas pelo Presidente dos Estados Unidos a vários produtos brasileiros entraram em vigor, numa tentativa de Washington de pressionar a favor da amnistia ao ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Numa crise diplomática sem precedentes entre os dois países, Donald Trump e a Casa Branca têm apelidado de “caça às bruxas” o processo no qual Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Na quarta-feira, e no mesmo dia em que foram anunciadas as tarifas, os Estados Unidos impuseram mais sanções ao juiz do Supremo Tribunal Federal do Brasil Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro.

Alexandre de Moraes decretou esta segunda-feira prisão domiciliária a Jair Bolsonaro por incumprimento de medidas cautelares impostas no processo de tentativa de golpe de Estado, como a utilização de redes sociais, e já garantiu que vai “ignorar as sanções” impostas pelos Estados Unidos.

Lula da Silva e o seu Governo continuam a negociar com Washington a retirada da lista de tarifas de cerca de 700 produtos brasileiros como carne, café e frutas, tal como aconteceu com a aviação ou o ferro, mas garantem que a soberania do país e a independência dos tribunais são inegociáveis.

“A nossa democracia está sendo questionada, nossa soberania está sendo atacada, nossa economia está sendo agredida. Este é um desafio que nos não pedimos e que não desejamos”, disse na terça-feira o chefe de Estado brasileiro, num evento em Brasília.

com Lusa

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