A história entre Portugal e a comunidade judaica é secular, mas na cidade do Porto, em pleno século XXI, está a escrever-se um novo capítulo da relação entre os dois povos. Elad Dror, 39 anos, natural de Telavive, Israel, é um dos principais protagonistas.
À frente da Fortera, um grupo de capital israelita, vai liderar este ano nove projectos imobiliários que representam um investimento de 85 milhões de euros, um valor que perfaz apenas uma parte dos 200 milhões de euros que o grupo quer investir ao longo dos próximos anos no mercado imobiliário da cidade Invicta e arredores e que representa a primeira fase da estratégia de investimento desta empresa israelita em Portugal. “Estamos apenas no início. Queremos ser a porta de entrada de referência do investimento israelita em Portugal”, diz.
A dinâmica que está a atravessar o mercado imobiliário nacional não é nova. Desde 2012, o preço por metro quadrado e o número de transacções imobiliárias tem vindo a aumentar ano após ano. Em 2018 transaccionaram-se quase 179 mil habitações num volume total de 24 mil milhões de euros, os números mais elevados da última década.
É uma época ímpar e os motivos são conhecidos. A alteração da lei das rendas, concretizada ainda em 2012, os programas de captação de investimento como o regime fiscal para Residentes Não Habituais (RNH) e o programa de Autorização de Residência para Actividades de Investimento (ARI) – conhecido como Visto Gold –, foram três pontos fundamentais.
Do lado da promoção imobiliária, não tardaram a chegar grandes fundos de investimento e milionários estrangeiros a investir num mercado que, além de estar a preços de saldo, passou a ter dois programas de estímulo à procura que são mel para o capital estrangeiro.
Só o ARI foi responsável pela captação de 3,9 mil milhões de euros para o sector. E se sobre o RNH não há números relativos ao investimento gerado, é sabido que a população estrangeira com estatuto de residente está a aumentar desde 2015. Depois, a recuperação económica e o boom do turismo fizeram o resto.
Desde 2012, o preço por metro quadrado e o número de transacções imobiliárias tem vindo a aumentar ano após ano.
A retoma começou por Lisboa e pela reabilitação urbana do centro da capital. Também aqui fomentada por um instrumento público, as Áreas de Reabilitação Urbana (ARU), onde a actividade da construção tem uma taxa de Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) de 6% contra os 23% de áreas não classificadas como tal. Só em 2018, as 13 150 transacções na ARU de Lisboa representaram um investimento de 5,9 mil milhões de euros. “É natural que os investidores e os grandes grupos vão primeiro a Lisboa.
É a capital e cidade mais conhecida do país. Em Israel, ninguém conhece o Porto”, explica o responsável da Fortera. Elad Dror confessa à FORBES que a empresa tem projectos pensados para a capital e até para outras cidades do país, numa óptica de diversificação geográfica e por segmentos, mas, por enquanto, é no Porto que estão focados.
“O Porto é cada vez mais o destino de eleição do investimento em Portugal”, afirma Patrícia Barão, responsável da consultora JLL pelo segmento residencial.
“Prova disso, é a deslocalização de promotores que procuram uma alternativa a Lisboa e que, apesar de terem iniciado os seus investimentos na capital, estão neste momento mais activos no Porto”, explica a especialista.
Os números do Instituto Nacional de Estatística demonstram a tendência. Apesar da menor dimensão do mercado da Área Metropolitana do Porto (AMP) face à de Lisboa – o que dá mais quota de mercado (em volume) à região da capital – nos últimos quatro anos, a taxa de crescimento do número de transacções na AMP só não foi superior à da Área Metropolitana de Lisboa (AML) em 2016.
E, em 2018, até a taxa de crescimento do volume transaccionado foi mais acelerada na AMP – 30%, contra 24% na AML. Elad Dror não tem dúvidas. “Neste momento, o Porto tem mais potencial do que Lisboa”, defende, justificando a afirmação com o binómio rendimento/receitas geradas nos hotéis.
“O cliente paga quase o mesmo, o que torna o Porto mais atractivo porque, apesar de tudo, os preços de aquisição são mais reduzidos”, explica.
Recuperação tardia
Elad Dror chegou ao Porto quase por acaso. Como a maioria dos jovens israelitas, após a temporada obrigatória no exército, emigrou à procura de oportunidades de negócio. “O ambiente em Israel é muito competitivo. É normal sair do país em busca de oportunidades”, explica à FORBES.
Depois de passar pelos EUA, Bélgica, Reino Unido, o agora director executivo do grupo Fortera acabou por assentar em Madrid. O mercado espanhol, rico em centros comerciais, era propício ao seu negócio: carros telecomandados (brinquedos).
Após quatro anos na capital espanhola, mudou-se para a Corunha e, num passeio casual, foi parar ao Porto, onde aproveitou de imediato para expandir o seu negócio. No Natal de 2010 conseguiu dez contratos com lojas dos centros comerciais Dolce Vita para vender os seus brinquedos.
No ano seguinte fez mais 25, um crescimento que o obrigou a deslocações frequentes à cidade e ao contacto com a realidade económica do país. “Vivia-se uma profunda crise”, diz.
Os números – que até dói lembrar – assim o diziam. Nesse ano, o Produto Interno Bruto (PIB) encerraria o ano a cair 4% e a taxa de desemprego fixar-se-ia nos 15,5%. No mercado imobiliário portuense, o cenário era igualmente depressivo: o preço médio do metro quadrado praticado, cerca de 1356 euros, continuaria a decrescer até 2015, e o número total de transacções no ano ficava-se pelas 13399, menos de metade das realizadas em 2018. No entanto, apesar de se viver uma crise, Elad Dror viu uma oportunidade.
“O potencial estava à vista”, adianta.
O tempo deu-lhe razão. Hoje, no site do grupo é publicitada uma yield – taxa de rendibilidade anual dos investimentos – de 24%. “Está desactualizada”, diz à FORBES, de sorriso estampado.
Seja para aquisição de um imóvel devoluto ou para a compra de uma habitação de luxo, os preços praticados na segunda maior cidade do país sempre foram inferiores aos da capital e a actual recuperação foi mais tardia no Porto.
“Só no terceiro trimestre de 2018 é que os preços no Porto superaram os níveis de 2007, e em apenas 6%. Em Lisboa, essa variação é superior a 60%”, explica Ricardo Guimarães, director do Confidencial Imobiliário. Segundo dados recolhidos pela empresa, apesar do intenso aumento dos preços verificado em 2017, continua a existir uma grande diferença de valores entre as duas principais cidades do país.
“Lisboa nunca chegará a Londres ou Paris em termos de preços, e entre Lisboa e Porto é a mesma coisa, mas é natural que a diferença se atenue”, diz Carlos Vasconcellos, presidente-executivo da Quantico, uma das promotoras que está a apostar na cidade Invicta.
“O Porto está a mudar. Passou a estar no radar dos investidores e os preços estão a acompanhar”, explica Carlos Vasconcellos, presidente-executivo da Quantico.
Após vários anos a operar no mercado alfacinha, onde conta com projectos de reabilitação urbana no valor de 120 milhões de euros (todos em zonas prime), a empresa decidiu rumar ao Porto, onde comprou parte do edifício do Café Embaixador e está a desenvolver o projecto “Montevideu 156”, dois projectos que representam um investimento total de 30 milhões de euros.
Este último situado na avenida que lhe dá o nome, será um novo marco no segmento prime do mercado portuense ao ser comercializado a preços entre os 8 mil e os 9 mil euros o metro quadrado, de longe o valor mais elevado praticado na cidade. Em Lisboa, salvo raras excepções, o tecto de preços ronda os 12 mil euros.
Carlos Vasconcellos tem consciência do desafio, mas mostra-se optimista.
“O Porto está a mudar. Passou a estar no radar dos investidores e os preços estão a acompanhar”, explica, sublinhando que o mercado portuense atravessa um momento semelhante ao que Lisboa passou antes de 2017 e que agora está a ficar maduro. “Agora, as yields dos investimentos andam em torno dos 12% a 15%, quando há alguns anos conseguiam-se rendibilidades superiores a 20%”, diz.
A Avenue, uma promotora detida pelo fundo europeu Weinberg Real Estate Fund II, sediado em Londres, é outra “gigante” que está a descobrir o Porto. Depois de investir em vários projectos na capital, onde se destaca a aquisição do emblemático edifício do Diário de Notícias, em pleno Marquês do Pombal, para conversão em habitação de luxo, a promotora liderada por Aniceto Viegas já concluiu um projecto na Invicta, o “Aliados 107”, e espera iniciar a comercialização de outros dois até ao final do ano.
“Neste momento, eu diria que há um aumento da procura internacional, que existia apenas de forma residual no passado recente”, explica o responsável da Avenue, sublinhando que a cidade está a saber impor-se no panorama internacional.
Um sinal disso mesmo é a inclusão, pela primeira vez, da cidade no ranking da Barnes, uma conceituada agência de imobiliário de luxo. na segunda posição, à frente de cidades como Londres ou Madrid.
Alta pressão
Tal como para Elad Dror, que descobriu o Porto no fundo da crise, Ricardo Costa vê o que está a acontecer na cidade com naturalidade. Para o presidente-executivo da imobiliária de luxo Luximo’s Christie’s International Real Estate, o trabalho do anterior executivo da câmara, ao endireitar as contas do município, foi fundamental.
“Depois vieram as companhias aéreas low-cost e o turismo fez o resto”, exclama, sublinhando também o marketing que o actual executivo camarário tem feito para projectar a cidade a nível internacional.
Se o turismo é hoje uma variável fundamental para a economia nacional, não é diferente para a economia portuense e para o mercado imobiliário local: entre 2011 e 2018, o número de passageiros no aeroporto Francisco Sá Carneiro duplicou de 6 milhões para 12 milhões – um aumento que veio juntar o útil ao agradável.
Com um património arquitectónico, cultural e natural ímpares, aos quais se juntam uma hospitalidade e gastronomia únicas, a cidade começou a coleccionar prémios internacionais, entre eles o de “Melhor Destino Europeu” do ano, ganho em 2012, 2014 e 2017.
Tal notoriedade não passou ao lado das grandes cadeias hoteleiras como a Maison Albar Hotels, que comprou o Hotel Monumental à Mystic River do empresário Mário Ferreira por 38 milhões de euros, para ali erguer um hotel de cinco estrelas, ou do grupo de capitais asiáticos GCP Hospitality, que adquiriu o hotel InterContinental Palácio das Cardosas por 55 milhões de euros.
A maioria do investimento é realizado por grandes grupos e fundos imobiliários, mas os particulares nacionais endinheirados já viram no imobiliário portuense um parque para estacionar fortunas.
De acordo com dados da Cushman & Wakefield, no final de 2017 existiam no Porto 130 unidades hoteleiras, 62% das quais de 4 e 5 estrelas, que totalizavam 8900 camas. E, segundo dados do Confidencial Imobiliário, 25% dos 256 hotéis licenciados entre 2015 e 2018 são no Porto.
Embora a maioria do investimento direccionado para o turismo seja realizado por grandes grupos e fundos imobiliários, também os particulares nacionais endinheirados viram no mercado imobiliário portuense um parque com elevada rendibilidade para estacionar fortunas.
A família David Rosas, distribuidora de referência de marcas de luxo de jóias e relógios, ou Manuela Medeiros, dona da cadeia de lojas Parfois, e António de Oliveira, ex-jogador e seleccionador de futebol, são apenas alguns dos milionários que estão a cavalgar o crescimento do turismo na Invicta.
Mas, com o advento do alojamento local, o mercado de investimento tornou-se ecléctico, o que despoletou o investimento das empresas promotoras na reabilitação do centro histórico devido à elevada procura …de camas. A Fortera agarrou os dois tipos de negócio.
Actualmente, tem em curso dois boutique hotels que pretendem dinamizar com a ISSTA Lines, a maior agência de viagens israelita, e com o Fattal Group, o maior grupo hoteleiro de Israel, detentor de mais de 200 hotéis em 17 países do mundo, entre eles as referências de luxo Herods, Leonardo Hotels e NYX Hotels.
E, no alojamento local, tem já construídos, comercializados e em planta vários projectos onde predominam as tipologias T0 e T1 – ideais para investidores que procuram no arrendamento de curta duração um rendimento alternativo e superior às baixas taxas de juro praticadas pela banca.
É essencialmente ao segmento do alojamento local que Vasco Pais se dedica há 11 anos, desde que deixou a banca e o sector da saúde, por onde teve uma breve passagem. O imóvel onde recebeu a FORBES, um edifício com sete pisos comprado à Caixa Geral de Depósitos na freguesia do Bonfim, com dez tipologias T0, seis T1, um T2 e uma loja, exemplifica a transformação dos edifícios no centro histórico do Porto e nas freguesias limítrofes.
O T0 onde nos reunimos, com 39 metros quadrados, foi vendido em planta por 140 mil euros, mais a decoração, o equivalente a 3600 euros o metro quadrado. Ainda assim, o promotor diz ser possível alcançar uma yield entre 5% e 8%. “Depende se forem os próprios a explorar ou não e da escala. Quem tiver mais apartamentos consegue taxas de rendimento mais elevadas”, explica Vasco Pais.
A maioria dos compradores são portugueses, uma tendência confirmada por Elad Dror, e muitos de Lisboa. “Como o mercado de Lisboa já passou por esta evolução estão mais abertos a este tipo de investimento”, diz. Entre os estrangeiros, os brasileiros são a maioria.
Desde que enveredou pela promoção imobiliária, Vasco Pais faz em média 25 a 30 transacções por ano. “Nuns casos vendo com obra feita, noutros só com projecto, e às vezes até devoluto, porque na maior parte dos casos adquiro os imóveis com inquilinos”, diz. Um prédio com inquilinos tem sempre um desconto no preço, retirá-los pode tornar-se difícil e moroso e, no imobiliário, tempo é dinheiro.
Uma recente reportagem produzida pela SIC revelou algumas práticas menos éticas de alguns senhorios para “incentivar” os inquilinos e libertar o imóvel para uma potencial reabilitação e ou venda. Um dos grupos mencionados era israelita, o que deixou a comunidade judaica portuense incomodada. “Senti-me envergonhado”, diz à FORBES Elad Dror. “Nunca agiríamos daquela forma. Temos os nossos valores numa posição muito diferente e sempre antes do dinheiro”, exclama.
Pela sua actuação no mercado, Vasco Pais conhece bem o tema. “Fala-se muito e há muita especulação à volta da protecção dos inquilinos, e eu concordo com as medidas que os protejam, mas nunca se fala dos casos bem-sucedidos”, afirma, adiantando que conhece dezenas de casos em que todos melhoram as suas condições de vida.
“Na maioria estamos a falar de pessoas que vivem em habitações antigas com condições miseráveis”, comenta. O Governo fez aprovar em Outubro do ano passado uma lei com o objectivo de combater esta problemática, mas Vasco Pais diz que pode ter efeitos perversos no investimento.
Foi aumentado o período de reflexão dos inquilinos de oito para 30 dias e foi-lhes concedido o direito de preferência no caso de compra do imóvel. Vasco Pais, concorda com o primeiro ponto, mas levanta dúvidas sobre o segundo.
“Julgo que foi pensada para prédios em propriedade horizontal, mas há muitos em propriedade total e ninguém vai querer comprar 70% ou 80% de um edifício”, explica. O promotor adianta que conhece já muitos casos em que não se fez negócio devido à nova legislação, porque depois é difícil convencer o inquilino a fazer o que o investidor quer, como, por exemplo, realizar obras de reabilitação no prédio.
À beira do limite
A pressão sobre os inquilinos, na ânsia de reabilitar, vender, voltar a comprar e repetir é uma evidência de um mercado com “pouco peixe para tanto tubarão”.
A cidade do Porto é pequena para a crescente procura e a menor oferta está a começar a pressionar os preços para valores especulativos em algumas zonas da cidade. Esta é pelo menos a opinião de David Pinto, um promotor local com mais de 20 anos de experiência que, num encontro na Foz, junto ao mar, a sua zona de acção e eleição, manifestou-se apreensivo em relação ao futuro próximo.
“Por um lado, a matéria-prima – prédios devolutos e terrenos – não está a preços razoáveis e, por outro, sinto o mercado a fechar”, justifica, adiantando que começa a existir um valor psicológico a partir do qual os seus principais clientes, os portugueses, não avançam. “Acima de 1 milhão de euros só os brasileiros compram”, diz, confessando que é por isso que opta por projectos com tipologias T2 e T3 com áreas médias.
“As casas grandes começam a ser difíceis de vender”, adianta.
Segundo David Pinto, os clientes estrangeiros – brasileiros e franceses, sobretudo – estão melhor informados e se encontrarem o mesmo produto num município vizinho a metade do preço optam pela solução mais económica, o que explica uma presença forte de estrangeiros a comprar habitação na Maia ou até em Braga.
“Acima de 1 milhão de euros só os brasileiros compram”, diz David Pinto, um promotor local.
“Eles preocupam-se menos com o status ou em estar perto do centro da cidade, porque não trabalham lá”, defende.
Além da prudência, há mesmo casos de retrocesso como é o caso da Vogue Homes. Em conversa com a FORBES, Joaquim Silva Lico mostra-se preocupado com a euforia vivida no mercado imobiliário do Porto. “Faz-me lembrar uma época, ali entre os anos 2000 e 2002, quando os espanhóis invadiram Lisboa”, diz.
O promotor explica que, na altura, os preços eram tão baixos comparativamente aos praticados em Espanha que os espanhóis desataram a comprar para reabilitar, só que, como só havia mercado interno, os imóveis não se vendiam. Depois, a crise, que, entretanto, chegou a Espanha, provocou uma onda de vendas ao desbarato.
Joaquim Silva Lico confessa que chegou ao Porto já um pouco atrasado, onde está a desenvolver o “MGC 720”, na Avenida Marechal Gomes da Costa, um empreendimento de luxo, com áreas superiores a 400 metros quadrados, mas já decidiu abandonar o mercado.
“O preço da matéria-prima está muito elevado. Consigo comprar imóveis em Lisboa mais baratos do que no Porto”, afirma, adiantando que recebeu no passado recente uma oferta para comprar um prédio bem localizado com vista para o rio Douro a 4 mil euros o metro quadrado. “Uma loucura. Mais os custos de obra, teria de vender a 7 mil euros ou mais. Não conheço nada no Porto a vender a este preço”, exclama.
Do lado dos compradores finais, o promotor também sente algum abrandamento. O “MGC 720”, por exemplo, ainda só está 25% vendido, “algo que nunca me aconteceu, tendo em conta a fase em que o projecto se encontra”.
Para o promotor, a boa fase do mercado atraiu muitos players na busca por lucro fácil, o que está a gerar muita pressão nos preços e que irá, naturalmente, resultar em maus negócios para os promotores.
“Vamos continuar a assistir a valorizações, mas mais modestas do que as que vimos no passado recente”, diz, adiantando que, para a sua carteira, o “Porto está fora do radar.”
Apesar dos receios gerados pelo aumento rápido dos preços, é consensual entre os promotores que o mercado continua apetecível e com potencial, mas será necessário olhar para outros segmentos, localizações e até novos conceitos.
A boa fase do mercado atraiu muitos players na busca por lucro fácil, o que está a gerar muita pressão nos preços.
“Comprar um imóvel no centro histórico para arrendamento turístico continua a ser um investimento sólido, mas já não é o nosso negócio”, diz Elad Dror, sublinhando que o mercado está a mexer e não se pode parar num determinado segmento ou localização.
A diversificação geográfica dos investimentos é uma das componentes da estratégia do grupo Fortera. Além de Espinho, onde estão a comercializar o “Espinho ONE”, um empreendimento com 38 apartamentos orientado para famílias ou para investidores numa óptica de longo prazo, a empresa tem também em curso um projecto de oito unidades de luxo no Cais da Fontinha, em Gaia. São poucos os promotores que apreciam a margem sul do Douro.
Consideram-na ainda muito emergente e citam os difíceis e morosos acessos ao Porto como um entrave à preferência dos compradores. Mas, para o sector hoteleiro, já não é bem assim. Vasco Pais confessa à FORBES que está a fechar a compra de um terreno ao lado da Ponte D. Luís para construir um pequeno hotel. Já para Elad Dror, toda a linha de rio de Gaia tem um enorme potencial. “Sei que o Ashtrum, um grupo semelhante à Sonae cá em Portugal, vai desenvolver um empreendimento com 230 apartamentos na Afurada que vai mudar a zona para sempre”, revela.
Ricardo Costa também concorda com o potencial da margem sul. Segundo o director da Luximo’s Christie’s International Real Estate, é verdade que chegar de Gaia ao Porto é um desafio a determinadas horas, “mas porque é que uma pessoa de Gaia precisa de ir ao Porto?”, questiona, fazendo a analogia entre Cascais e Lisboa.
Na opinião do especialista, Gaia oferece um produto distinto do Porto, como por exemplo casas de praia, e aponta as freguesias da Madalena, Canidelo e Francelos, como locais de enorme potencial nesta óptica.
Já na margem norte, há também zonas em emergência até para David Pinto, cuja tese é que “a Foz é a única zona da cidade com pedigree”. Para o responsável da Promotop, Campanhã é uma delas. Projectos como o Matadouro – que está parado – e o novo parque da cidade colocaram a zona no radar dos investidores, mas é preciso paciência.
“Já há muita especulação”, diz. Depois há as localizações óbvias. Próximo do centro histórico, a freguesia do Bonfim é uma delas e Ramalde e Paranhos são duas localizações a ter em conta na nova fase em que o mercado vai entrar: a construção de habitação nova.
Construtoras grandes, como a Casais, que até há pouco tempo tinham pouca presença no mercado do Porto, começam agora a rechear o seu portefólio com obras nas margens do Douro.
“Com a subida dos preços, as margens começaram a ser atraentes para compensar o risco”, diz António Carlos Rodrigues, presidente-executivo da construtora. Na base desta carência poderão estar as ARU, que apesar de incentivarem a reabilitação acabam por ter o efeito contrário na construção nova, fora das áreas classificadas. “Para os promotores, pagar menos 17% de IVA é relevante”, diz Elad Dror. Mas vem aí uma nova fase.
Dados do Confidencial Imobiliário indicam que se encontram em licenciamento cerca de 10,9 mil fogos na AMP, dos quais 5650 no município – uma oportunidade para investidores que queiram apostar no mercado de arrendamento, e há mais em “pré-pipeline”. Por exemplo, Carlos Vasconcellos revela à FORBES que a empresa está a negociar um terreno de dimensões generosas no município para construção de habitação a custos acessíveis.
Capitalizar os migrantes
Além do turismo que está a estimular a reabilitação dos centros da cidade, sector da hotelaria, e a procura local por habitação a custos acessíveis, são várias as multinacionais que estão a assentar arraiais na cidade Invicta em busca do capital humano formado nas universidades do Porto, Aveiro e Braga. Em consequência, o segmento dos escritórios e das residências para estudantes estão ao rubro.
Talento, qualidade de vida, boas ligações aéreas e custos menores que na capital ou em noutras cidades europeias são o mote. Entre os nomes mais sonantes contam-se a Amazon, a Farfecth e a BMW, quase sempre com instalações ligadas a áreas tecnológicas, um sector onde entre 2007 e 2017 o emprego aumentou 74%, segundo dados da Cushman & Wakefield.
Ricardo Ferreira Martins, administrador da SGFM Participações, que detém um fundo imobiliário que investe neste segmento, confirma a tendência. “Há muita procura e pouca oferta de escritórios no Porto e em Braga”, diz. O responsável encontrou-se com a FORBES no Centro de Escritórios da Circunvalação, detido e reabilitado por um dos fundos do grupo em 2017.
“Temos aqui cerca de 15 mil metros quadrados ocupados, mas se tivéssemos 30 mil estariam igualmente preenchidos”, exclama o gestor.
Apesar da procura por habitação para estudantes estar em alta, a evolução demográfica levanta dúvidas aos investidores.
O segmento de escritórios está por natureza a cargo de grandes fundos imobiliários, alguns de cariz familiar, como é o caso do gerido por Ricardo Ferreira Martins ou dos fundos do grupo Violas, que irão este ano disponibilizar 35 mil metros quadrados no Porto Office Park, junto à Avenida da Boavista, ou ainda de promotores especializados, como a Lionesa, que até 2025 irá expandir até 100 mil metros quadrados o Centro Empresarial da Lionesa, em Matosinhos. Mas também é acessível a “investidores miúdos”.
Este ano, Vasco Pais irá reabilitar uma moradia na freguesia da Foz para responder à procura de escritórios por parte de profissionais liberais.
“É uma forma de diversificar”, explica.
E é isso que Elad Dror e o grupo Fortera estão a fazer. Além de um espaço com 6 mil metros quadrados no Bonfim, que estará pronto dentro de sete meses, a empresa irá iniciar um projecto de co-living, um conceito que junta escritórios, um hostel e pequenas tipologias para servir migrantes profissionais e estudantes.
“O ‘B Live’ é um conceito experimental que pretendemos testar aqui e exportar para outros países”, adianta o investidor israelita, sublinhado que estão a estudar investir em residências, mas para seniores.
Apesar da procura por habitação para estudantes estar em alta, devido ao redireccionamento da oferta para o alojamento turístico, a evolução demográfica e a política de controlo de vagas nas universidades do litoral do país levantam dúvidas aos investidores.
Numa entrevista, que poderá ler nas páginas seguintes, Ricardo Valente, vereador da Câmara do Porto com o pelouro da Economia, aborda esta e outras questões de relevo para o desenvolvimento da cidade do Porto que, na óptica de Elad Dror, tem um futuro brilhante do qual o seu grupo e a comunidade israelita querem fazer parte.
Para isso, o empresário conta com as ligações do sócio e ex-político Nir Shalom. “É uma pessoa muito bem relacionada”, diz. E os resultados estão à vista: além do investimento do grupo, todo financiado por capital israelita, esta nacionalidade é já a quarta mais importante entre os compradores de habitações no Porto, só superada pelos brasileiros, sul-africanos e franceses, e são cada vez mais as empresas daquele país a chegar a Portugal.
Depois do grupo Ashtrum, será a Together Pharma, uma farmacêutica cotada na Bolsa de Telavive, que vai produzir canábis medicinal em parceria com a Fortera. “Gosto disto. Vivo na Foz, faço o meu surf e a minha família também gosta de viver na cidade do Porto. É um dos melhores sítios que conheço para viver. Conto ficar por cá muitos anos”, diz Elad Dror.