A biodiversidade e o capital natural surgem como tópicos de investimento em voga e no entendimento de Álvaro Cabeza, Diretor-Geral da UBS Asset Management Iberia, a questão para os investidores é encontrar formas de quantificar com rigor os riscos da biodiversidade para poderem fazer escolhas estratégicas mais acertadas do ponto de vista ambiental, tendo em conta a nossa compreensão atual em torno do clima.
Álvaro Cabeza destaca o impacto do investimento na biodiversidade e no capital natural, que pode ser tanto positivo, como negativo. E desse impacto, se negativo, resultarão perdas ainda mais irreparáveis para o ambiente, para as populações e para a economia.
Na realidade, serão perdas que se acrescentarão às atuais: de acordo com o estudo “Economia da Biodiversidade” (“Economics of Biodiversity”), liderado pelo economista da Universidade de Cambridge, Partha Dasgupta, o capital natural já diminuiu uns impressionantes 40% per capita desde 1992.
Esse estudo da Universidade de Cambridge argumenta que o capital natural, há muito ignorado pelo pensamento económico, deve ser visto como um ativo, como o capital produzido e o capital humano.
A esse propósito, o responsável ibérico da UBS lembra que o Instituto de Liderança em Sustentabilidade da Universidade de Cambridge (The University of Cambridge Institute for Sustainability Leadership – CISL) estima que pelo menos US$ 10 triliões do PIB mundial serão perdidos devido à diminuição dos serviços dos ecossistemas até 2050.
E diz ainda que as estimativas do Fórum Económico Mundial são ainda mais duras, colocando a cifra em US$ 44 triliões – afirmando que mais de metade do PIB mundial é “moderada ou altamente dependente da natureza e dos seus serviços”.
Mais de metade do PIB mundial é “moderada ou altamente dependente da natureza e dos seus serviços”.
Refere Álvaro Cabeza que a biodiversidade é vista como estando “interligada a tudo o que está relacionado com a jornada de descarbonização. O desmatamento reduz simultaneamente a capacidade de absorção de carbono natural do planeta e coloca stress nos habitats naturais, impactando assim a biodiversidade”.
“O aumento global de ondas de calor e incêndios florestais devido às alterações climáticas têm consequências negativas para as colheitas e a vida selvagem”, sublinha este analista que acrescenta que a erosão do solo e a redução de mangais têm efeitos duplos semelhantes na captura de carbono e na perda de biodiversidade.
O consultor afirma que os investidores devem ainda estar cientes “das diferenças nos elementos do capital natural. Uma tonelada de carbono emitida é a mesma em qualquer lugar, de Miami a Moçambique. Mas com a natureza e a biodiversidade, a localização importa. Desflorestar um hectare de pinheiros na Finlândia não é o mesmo que cortar um hectare de palmeiras numa floresta tropical amazónica” pela biodiversidade reinante em cada um destes ecossistemas.
Os dados e o nexo climático
“A história pode ser uma aliada poderosa para nós aqui. Olhar para trás, mesmo num período de tempo relativamente curto, pode ajudar-nos a desenvolver uma noção de como o mundo natural está a mudar – espécies animais perdidas, mudança nos padrões de migração de pássaros, quão verde, ou não, a terra é. Mas a história e a experiência do movimento de investimento em torno do clima também podem dar-nos alguns lembretes úteis”, afirma Álvaro Cabeza.
Este analista lembra que existem muitos dados sobre o capital natural. “Existem dados sobre uso da terra, desmatamento, consumo de água e stress hídrico, por exemplo. Há evidências de que, tendo como base, a erosão do capital natural podemos rastrear os níveis de poluição ou as rotas pelas quais as empresas obtêm as suas matérias-primas. Existe tecnologia de satélite que pode ajudar a rastrear a perda florestal. Este é um bom começo”.
“Do ponto de vista do portfólio, o desafio então está na capacitação interna. Será fundamental desenvolver as capacidades dos gestores e analistas de portfólio para entender os dados, avaliar os sinais de risco e, principalmente, atribuir-lhes um preço. Existem algumas iniciativas interessantes que podem orientar sobre como avaliar governança, risco e desempenho, sublinha Álvaro Cabeza.
Envolver ou excluir
Para este analista, “como investidores, embora saibamos o quanto é enorme o tema do capital natural, também temos que tentar torná-lo tangível, para que possamos incorporá-lo nos nossos portfólios e seus modelos. Existem várias maneiras de abordar isso”. Uma delas, refere o responsável ibérico da UBS é evitar”, sendo que por “evitar” ocorre quando “um investidor está a tentar reduzir a sua pegada de biodiversidade optando por não investir em setores que estão realmente expostos; empresas de petróleo e gás ou produtos químicos, por exemplo”.
“Outra maneira é ‘inclinar-se’ para o problema, estando preparado para investir”, visando os setores “que possuem melhores práticas e padrões em vigor”. Ocorre aqui um envolvimento com empresas para tentar mitigar o seu impacto. “Aqui, passamos um tempo naquelas áreas onde já existem metodologias desenvolvidas – em torno de água, uso da terra e desmatamento – que são bem compreendidas pelas empresas. Também nos concentramos nas situações em que podemos ajudar a fazer mudanças. Alguns investidores incorporam indicadores-chave de desempenho em torno da biodiversidade e da economia circular nas suas análises das empresas que têm” no seu portfólio, refere Cabeza.
Na perspectiva do Diretor-Geral da UBS Asset Management Iberia “é vital integrar as preocupações em torno da biodiversidade e do capital natural nas discussões que temos com as empresas em que temos investimentos sobre o clima. Em particular, os investidores precisam colocar essas perguntas quando grandes decisões estão a ser tomadas sobre gastos de capital, a fim de evitar consequências não intencionais. Várias empresas de petróleo e gás estão a ampliar o uso de biocombustíveis, por exemplo, com base na visão de que são uma alternativa viável aos combustíveis fósseis. No entanto, a pesquisa mostrou que, quando mal concebidos e geridos, os biocombustíveis derivados de culturas alimentares, predominantemente soja e milho, podem potencialmente emitir 1,8 vezes o CO2 das fontes de combustível tradicionais. Embora possam acreditar que estão a resolver o problema, o perigo é que podem estar a piorar a situação”, conclui este analista.