A associação cultural Turbina e a livraria Mundo Fantasma juntaram-se para criar uma bedeteca no Porto, recuperando um projeto cultural de promoção de banda desenhada que existiu na cidade nos anos 1990.
“É um projeto independente, pequenino, ‘small is beautiful’, mas que pode ter alguma importância aqui à escala do Porto e do país. Uma bedeteca tem de lidar antes de mais com o público local e é esse o nosso objetivo”, explicou à agência Lusa Júlio Moreira, um dos mentores desta biblioteca de banda desenhada.
A Bedeteca – é assim mesmo que se intitula o projeto -, é inaugurada a 10 de fevereiro dentro do centro comercial Brasília, local onde já funciona a livraria Mundo Fantasma, e conta com um acervo de alguns milhares de obras de banda desenhada, ‘fanzines’ e revistas de BD.
Feita com base em voluntariado, as obras da Bedeteca, numa primeira fase, só estão disponíveis para consulta e leitura na sede do projeto, estando ainda a ser estudado o empréstimo domiciliário.
Segundo Júlio Moreira, grande parte do catálogo provém do acervo que estava fechado há várias décadas e que pertencia a uma primeira bedeteca que existiu no Porto nos anos 1990.
Nessa altura, quando surgiu, era apresentada como a primeira bedeteca do país, fundada por “um grupo de entusiastas”, que organizou o Comicarte – Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, e pela Comissão de Jovens de Ramalde.
Por vicissitudes várias, a bedeteca fechou em 1995, sendo agora recuperada, e o acervo, que tem sido enriquecido com doações, inclui edições nacionais, ‘fanzines’ “e todo um manancial de publicações que já não se encontram no mercado”.
Para este programador e dinamizador cultural, a Bedeteca no Porto surge numa altura em que “há um público emergente que tem vindo a puxar por alguma da edição da banda desenhada nacional”.
“É um momento em que temos uma grande dinâmica na edição nacional, com muitas editoras a trabalharem. Há diversos públicos de BD e vamos tentar ir ao encontro desses diversos públicos”, disse.
Várias bibliotecas municipais têm núcleos e serviços dedicados à banda desenhada e com programação própria, como as bedetecas de Beja e da Amadora, mas a Bedeteca no Porto diferencia-se por ser uma iniciativa privada, embora os seus promotores estejam em diálogo com a autarquia do Porto sobre hipotéticos apoios.
“A importância das bibliotecas e das bedetecas [é] quantas mais existirem melhor. Esta, a única coisa que posso dizer que se diferencia é que é gerida por entusiastas de banda desenhada, pessoas que conhecem bem a BD e que têm uma preocupação de fazer um trabalho de divulgação de todo o tipo de banda desenhada”, sublinhou Júlio Moreira.
Na página oficial da Bedeteca, os promotores desta iniciativa dizem que querem “potencial a presença da banda desenhada nos hábitos de leitura e contribuir para o alargamento a novas gerações”.
“Todo o bom amante de banda desenhada gosta de ter o seu livro em casa, mas a verdade é que uma bedeteca também pode ajudar a escolher e a afinar o seu gosto e as suas opções”, disse Júlio Moreira.
Este responsável reconhece que o preço dos livros está mais alto, mas acredita que “continua a haver espaço para o mercado [da banda desenhada]. Hoje o mercado está mais dinâmico do que nos anos 1990 ou no início do século. Há melhores edições, mais bem feitas e mais caras”.
A Bedeteca vai existir com uma programação cultural associada, convocando uma rede de produção artística e edição independente da região.
Para a inauguração está previsto, por exemplo, um clube de leitura em torno do livro “Palestina”, de Joe Sacco, pelo Goteira – Coletivo de BD, uma exposição sobre o livro “Companheiros da Penumbra”, de Nunsky, com a presença do autor, uma oficina de diário gráfico por Paulo Mendes, premiado no AmadoraBD, e uma edição do Mercado do Contra, de ‘fanzines’ e BD independente.
Lusa