Mais de metade do crédito a empresas está concedido a negócios com risco alto e severo de serem afetados pelo aumento das temperaturas, segundo as conclusões do relatório sobre riscos climáticos hoje divulgado pelo Banco de Portugal (BdP).
O Relatório Anual Sobre a Exposição do Setor Bancário ao Risco Climático analisa as 50 mil empresas com mais crédito bancário em Portugal em dezembro de 2021 (este crédito representa 79% do total a empresas em Portugal na mesma data), sendo analisadas as localizações das sedes das empresas para avaliar os principais riscos. Os riscos climáticos e ambientais significam que as operações das empresas podem ser afetadas e, logo, a capacidade de pagarem à banca os créditos contraídos.
No «stress térmico» (aumento das temperaturas), 20% do crédito está sujeito a risco severo, 37% a risco alto e 37% a risco médio. Nos incêndios, o risco severo é inexistente, o risco alto de 41% e o risco médio de 55%.
Segundo o estudo, no caso do «stress hídrico» (falta de água), 5% do crédito está sujeito a risco severo, 66% a risco alto e 27% a risco médio. No «stress térmico» (aumento das temperaturas), 20% do crédito está sujeito a risco severo, 37% a risco alto e 37% a risco médio. Nos incêndios, o risco severo é inexistente, o risco alto de 41% e o risco médio de 55%.
Apesar dos riscos descritos neste relatório, para já não há indicação aos bancos de que devem penalizar o crédito concedido a empresas mais afetadas por estes riscos (por exemplo, com mais altas taxas de juro).
No caso do crédito à habitação, o estudo não faz estimativas, mas diz que a capacidade das famílias em pagarem os empréstimos pode ser afetada pelo aumento dos preços da energia e pela desvalorização das casas com menor eficiência energética. “As situações de maior vulnerabilidade face ao aumento dos preços da energia estão concentradas nos escalões de rendimento mais baixo (com menor capacidade de ajustamento)”, refere, no seu relatório, o banco central.
Este estudo do Banco de Portugal insere-se num conjunto de estudos que os bancos centrais da zona euro estão a fazer para avaliar a resiliência dos setores bancários face aos riscos climáticos e ambientais.
A segunda-feira passada foi dia o mais quente alguma vez medido em termos mundiais, superando pela primeira vez a barreira da média dos 17 graus centígrados (ºC), segundo as primeiras medidas feitas na terça-feira pela Agência dos Estados Unidos para a Atmosfera e os Oceanos (NOAA, na sigla em Inglês).
A temperatura média diária do ar na superfície do planeta a 3 de julho foi medida em 17,01°C. Este valor supera o recorde diário precedente (16,92°C) estabelecido em 24 de julho de 2022, segundo os dados dos centros nacionais de previsão ambiental da NOAA, que remontam a 1979.
Lusa