O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira que vai voltar a subir as taxas de juro.
“Projeta‑se que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo, por conseguinte, o Conselho do BCE decidiu hoje aumentar as três taxas de juro diretoras do BCE em 50 pontos base, em conformidade com a sua determinação em assegurar um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo”, diz a instituição em comunicado.
“O Conselho do BCE decidiu aumentar as três taxas de juro diretoras do BCE em 50 pontos base. Por conseguinte, a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito serão aumentadas para, respetivamente, 3,50%, 3,75% e 3,00%, com efeitos a partir de 22 de março de 2023.”
Com efeitos desde | Facilidade permanente de depósito | Operações principais de refinanciamento | Facilidade permanente de cedência marginal de liquidez | |
2023 | 22 mar. | 3 | 3,5 | 3,75 |
8 fev. | 2,5 | 3 | 3,25 | |
2022 | 21 dez. | 2 | 2,5 | 2,75 |
2 nov. | 1,5 | 2 | 2,25 |
Acerca de tudo o que se está a passar com o Credit Suisse, o BCE diz estar “a acompanhar de perto as atuais tensões no mercado” e diz-se “preparado para responder conforme necessário” para “preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do Euro”.
“O setor bancário da área do Euro é resiliente, apresentando posições de capital e liquidez fortes. Em todo o caso, o conjunto de instrumentos de política monetária do BCE permite inteiramente proporcionar, se necessário, apoio em termos de liquidez ao sistema financeiro da área do euro e preservar a transmissão regular da política monetária”, refere a entidade.
Os especialistas do BCE consideram agora que a inflação se situe, em média, em 5,3% em 2023, 2,9% em 2024 e 2,1% em 2025.
A inflação excluindo preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares continuou a subir em fevereiro e os especialistas do BCE esperam que seja, em média, de 4,6% em 2023, valor que é mais elevado do que o avançado nas projeções de dezembro. Subsequentemente, projeta‑se que desça para 2,5% em 2024 e 2,2% em 2025.
Relativamente ao impacto nos empréstimos à habitação desta subida das taxas de juro, Miguel Cabrita, responsável do idealista/créditohabitação Portugal, explica que “a notícia tem uma dupla vertente consoante o público a que se dirige: para as famílias com crédito habitação de taxa variável, este novo aumento representa um duro golpe devido ao aumento que irão sofrer nas suas prestações mensais, o que pode acabar por colocar em dificuldades os agregados mais vulneráveis. Não esqueçamos que em março do ano passado a Euribor a 12 meses ainda estava negativa, pelo que a revisão anual da prestação mensal vai levar a um aumento significativo. Por outro lado, as medidas aplicadas pelo regulador europeu para combater a espiral inflacionista parecem estar a ter um maior impacto na capacidade económica das famílias com empréstimos do que no próprio mercado imobiliário, que embora esteja a abrandar ligeiramente face a 2022 , não está a desacelerar de maneira significativa. Adicionalmente, e ao contrário do que possa parecer, estes aumentos das taxas de juro e da Euribor não estão a ser transferidos de forma tão forte para o preço dos novos créditos habitação que estão a ser oferecidos pela banca. Os bancos pretendem continuar a emprestar dinheiro e a concorrência entre entidades financeiras para atrair clientes solventes é ainda difícil. Desta forma, o aumento do custo do financiamento não está, pelo menos para já, a impactar tanto o mercado imobiliário como previam alguns especialistas”, conclui o especialista.