O economista-chefe do Banco Mundial, Indermit Gill, alertou ontem que a permanência das taxas de juro “mais altas durante mais tempo” pode empurrar os países mais pobres para a bancarrota, à semelhança do que aconteceu nos anos 70.
“Apesar de todos os choques, não vimos nenhuma grande economia entrar realmente em problemas, mas as boas notícias basicamente acabam aqui, porque o problema agora é que, por causa das elevadas taxas de juro, o crescimento está a abrandar muito”, disse Indermit Gill na conferência de imprensa que marcou a abertura oficial dos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que decorrem esta semana em Marraquexe, Marrocos.
Ficaram 24 países na bancarrota nos anos 70
“Nos anos 70, quando a Reserva Federal subiu as taxas de juro durante bastante tempo, uma das lições que aprendemos é que o ciclo de ajustamento não durou só um ou dois anos, e deixou cerca de 24 economias na bancarrota, e acho que podemos antever que alguns países vão ter problemas agora”, disse o economista-chefe do Banco Mundial.
A perspetiva de taxas de juro mais elevadas durante mais tempo foi uma das preocupações centrais do Banco Mundial durante a conferência de imprensa, mostrando a importância do impacto que os juros elevados têm nos países menos desenvolvidos, que dependem de empréstimos e financiamentos externos, normalmente em dólares, para financiar o desenvolvimento económico e social.
“A permanência das taxas de juro mais altas durante mais tempo (higher for longer, na expressão em inglês) pode ser um evento complicado de várias formas, desde os investimentos às pessoas que, ao longo dos anos, se habituaram a um ambiente de juros baixos”, disse o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga.
O FMI prevê que o crescimento global desacelere para 3% em 2023
A preocupação do Banco Mundial, expressa na conversa com os jornalistas em Marraquexe, segue de perto a avaliação feita pelo FMI, que nos relatórios apresentados esta semana nos encontros anuais prevê para 2024 uma inflação menor que atualmente, mas ainda assim elevada, e um abrandamento económico maior do que atualmente.
O FMI prevê que o crescimento global desacelere de 3,5% em 2022 para 3% em 2023 e 2,9% em 2024, abaixo da média histórica (2000-19) de 3,8%, com a previsão para 2024 a cair 0,1 ponto percentual face ao relatório de julho.
Nas previsões para a inflação, a organização sedeada em Washington antevê que a inflação global diminua de 8,7% em 2022 para 6,9% em 2023 e 5,8% em 2024, uma revisão em alta em 0,1 pontos percentuais e 0,6 pontos percentuais respetivamente, não esperando que regresse à meta da maioria dos bancos centrais até 2025 na maioria das economias.
Mário Batista/Lusa