Baloise: “Temos quase 2,9 mil milhões de ativos sob gestão”

Com sede em Basileia, Suíça, o grupo Baloise é um fornecedor europeu de serviços de seguros e pensões que emprega 8.025 colaboradores. A Baloise Vie Luxembourg é especializada na oferta de produtos de seguros de vida vinculados a fundos de investimento, operando sob o regime de Liberdade para Prestação de Serviços (LPS). Emprega 120 colaboradores…
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A seguradora suíça Baloise definiu Portugal como um mercado essencial para o desenvolvimento. O country manager da filial portuguesa, João Marmelo, revela a estratégia que já conquistou mil clientes.
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Com sede em Basileia, Suíça, o grupo Baloise é um fornecedor europeu de serviços de seguros e pensões que emprega 8.025 colaboradores. A Baloise Vie Luxembourg é especializada na oferta de produtos de seguros de vida vinculados a fundos de investimento, operando sob o regime de Liberdade para Prestação de Serviços (LPS). Emprega 120 colaboradores e gere 11,3 mil milhões de euros em ativos. Em entrevista à Forbes o country manager da Baloise em Portugal, João Marmelo, detalha que este mercado representa 24% do negócio sendo já o mais significativo fora do Luxemburgo. Tem cerca de mil clientes, em que 80% são cidadãos portugueses e os restantes 20% incluem várias nacionalidades como brasileiros, franceses, suecos, alemães, ingleses, espanhóis, italianos e suíços. João Marmelo refere ainda que em território nacional gere 2,9 mil milhões em ativos.

Como está delineada a estratégia de crescimento do grupo Baloise?

A estratégia de crescimento da Baloise concentra-se em alcançar um progresso positivo por meio de uma iniciativa de reorientação, que visa melhorar a rentabilidade e focar nos segmentos principais do negócio. A empresa demonstrou crescimento no seu segmento de seguros não-vida, apoiado por todas as subsidiárias nacionais, com destaque para Alemanha e Luxemburgo, que registaram crescimentos de 8,4% e 7,2%, respetivamente. O rácio do Swiss Solvency Test (SST) permanece forte em 210%, refletindo a sólida posição financeira da Baloise. Apesar das condições de mercado desafiadoras, a Baloise espera que o segmento de seguros de vida continue a contribuir de forma positiva. No geral, a estratégia de crescimento da Baloise envolve: focar nos segmentos principais e rentáveis, manter reservas de capital sólidas e navegar eficazmente no ambiente de mercado em constante mudança. Além disso, Portugal é um mercado-chave para a Baloise Vie Luxembourg, representando mais de 24% dos prémios emitidos. O objetivo é continuar a crescer e investir neste mercado para aproveitar ao máximo o seu potencial.

Considerando que Portugal é um país de menor dimensão comparado a outros onde o grupo está presente, quais são os argumentos que justificam o investimento no mercado português?

Portugal é um mercado essencial para o desenvolvimento da Baloise Vie Luxembourg, sendo, anualmente, um dos maiores mercados em termos de volume de prémios, com um aumento de 24% nas vendas em 2023. Portugal representa o maior mercado fora de Luxemburgo, correspondendo a cerca de 25% do negócio total, que inclui operações na Bélgica, França, Itália, Alemanha, Mónaco e Polónia. O mercado português cresceu significativamente a partir de 2010, com prémios de cerca de 80 milhões de euros no primeiro ano, atingindo um máximo de 350 milhões de euros em 2016. Apesar de uma desaceleração no setor de seguros de vida desde a crise da COVID-19, o volume de prémios permanece elevado, com cerca de 220 milhões de euros em 2023. Os ativos sob gestão no mercado português totalizam quase 2,9 mil milhões de euros. Como reflexo deste crescimento, a equipa da Baloise em Portugal aumentou de três para 11 colaboradores, entre 2010 e 2024.

No segmento de Family Offices, considera que tem sido uma opção viável para as empresas portuguesas? Como tem evoluído este segmento?

Neste segmento específico, o mercado assume particular importância, pois representa a maior parte dos clientes. Observamos uma crescente preocupação entre os Family Offices com o planeamento sucessório. Os produtos de seguro Unit-Linked têm sido cada vez mais procurados devido às suas características, que estão alinhadas com este aumento da procura do mercado. A principal preocupação dos Family Offices não é de natureza fiscal, mas sim relacionada com o planeamento sucessório, ou seja, a estruturação do processo de sucessão, uma preocupação que, nos últimos anos, tem vindo a aumentar significativamente. Além disso, no que diz respeito aos Family Offices, a Baloise tem formado alianças com profissionais especializados para oferecer soluções de seguro personalizadas aos seus membros. Estas parcerias ajudam a Baloise a atender às necessidades específicas de diferentes grupos profissionais, garantindo cobertura abrangente e suporte adequado.

Qual é o número de clientes e como caracteriza o seu perfil?

A Baloise Portugal atende aproximadamente mil clientes, sendo que 80% são cidadãos portugueses. Os restantes 20% incluem clientes de várias nacionalidades, como brasileiros, franceses, suecos, alemães, ingleses, espanhóis, italianos e suíços. O perfil dos clientes situa-se, em grande parte, na faixa etária entre 40 e 75 anos. Estes clientes são, em geral, pessoas conscientes da necessidade de gerir a sua riqueza de forma intergeracional, com preocupações voltadas principalmente para o bem-estar dos seus filhos e netos.

Há planos para aumentar este número?

Os planos para aumentar a base de clientes incluem o desenvolvimento de soluções específicas para limitar o acesso à liquidez por parte de cada geração, preservando os ativos para as gerações futuras. Estas novas soluções ainda estão em fase de desenvolvimento interno, sendo projetadas para atender a estas necessidades de preservação e planeamento sucessório.

Já é possível avaliar o desempenho em 2024 em comparação com o plano de negócios?

Para 2024 a meta era alcançar pelo menos 200 milhões de euros em contratos Unit-Linked, e esse objetivo foi alcançado. No entanto, isso não foi tão simples como em anos anteriores, devido às regulamentações mais rigorosas em Luxemburgo relacionadas à origem de riqueza dos clientes, em especial as regulamentações AML (Anti-Money Laundering). A União Europeia alterou a legislação exigindo evidências mais detalhadas sobre a origem da riqueza, obrigando os cidadãos a identificar e fornecer documentos que comprovem sua riqueza de forma detalhada. Essas exigências impõem às instituições financeiras a responsabilidade de verificar a origem económica dos fundos dos seus clientes, bem como certificar-se de que todos os impostos devidos no país de residência foram pagos. Como resultado, houve um aumento significativo no tempo necessário para atender a essas exigências, com a carga de trabalho a aumentar, pelo menos, em 70%, para atingir os mesmos resultados.

Como responderam a este cenário?

Esse cenário também exigiu a ampliação das equipas, resultando em custos operacionais mais altos, que eventualmente precisarão ser refletidos no custo final para os clientes. Este contexto apresenta um dos maiores desafios para os próximos anos, dada a rigorosa legislação de Luxemburgo, que continua comprometido em manter a sua posição de liderança entre os países da União Europeia, implementando rapidamente novas diretivas europeias para combater crimes financeiros e branqueamento de capitais. Estes esforços irão culminar na criação de uma Agência Europeia de Combate ao Branqueamento de Capitais (AML) em 2027, que supervisionará toda esta área na UE, integrando empresas financeiras, entidades reguladoras e autoridades nacionais e internacionais. O objetivo geral da Baloise em Portugal é manter o benchmark de crescimento, com um volume de 200 milhões de euros em ativos sob gestão. Este crescimento será principalmente focado em residentes nacionais portugueses e outros residentes internacionais que decidam mudar-se para o país.

Num mercado como o português, onde os investimentos ainda são direcionados para produtos mais tradicionais, quais os desafios que enfrentam?

No que diz respeito aos investimentos, como mencionado anteriormente, o nosso produto de seguro de vida Unit-Linked tem vindo a ganhar uma aceitação crescente no mercado português. Observamos que os clientes estão cada vez mais preocupados com o planeamento sucessório, e a estrutura dos nossos produtos tem tido uma procura crescente ao longo dos anos, refletida no nosso crescimento.

Relativamente aos desafios do mercado…

Identificamos seis fatores principais. Um é a conformidade regulamentar: a conformidade com os novos requisitos legislativos (Solvência II, IDD, SFDR, ESG, entre outros) continua a ser um desafio significativo, exigindo uma gestão robusta de riscos e adequação de capital. As atualizações contínuas e as adaptações às regulamentações da União Europeia requerem recursos significativos e especialização técnica. Outro desafio é a transformação digital: a mudança para a digitalização representa tanto uma oportunidade como um desafio. Continuamos a investir em tecnologia para melhorar a experiência do cliente, aumentar a eficiência operacional e inovar com novos produtos. Os riscos de cibersegurança associados às operações digitais precisam ser geridos de forma eficaz. A incerteza económica é outro desafio: as flutuações económicas, como as resultantes da pandemia de COVID-19, podem impactar o consumo de produtos de seguros. Além disso, períodos de deflação ou de queda na inflação, bem como a flutuação das taxas de juro, apresentam novos desafios para as seguradoras de vida. A concorrência crescente, tanto de seguradoras tradicionais como de novos entrantes, como empresas Insurtech, exerce pressão sobre as margens e exige inovação contínua. É necessário diferenciar as nossas ofertas e melhorar a qualidade do serviço para aumentar o envolvimento dos clientes e manter a maior quota de mercado possível. O envelhecimento da população em Portugal que apresenta desafios e oportunidades. Existe uma procura crescente por produtos de seguros de vida adaptados a diferentes faixas etárias e necessidades demográficas. E, por fim, as alterações climáticas e riscos ambientais: Há uma necessidade crescente de desenvolver estratégias para avaliação e mitigação de riscos associados às mudanças climáticas, bem como de oferecer novas soluções e produtos sustentáveis/“verdes” em conformidade com as regulamentações ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) e SFDR (Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis). Apesar dos desafios, acreditamos que o mercado português apresenta um potencial significativo, especialmente com a crescente consciencialização dos clientes sobre a importância do planeamento sucessório e das soluções sustentáveis.

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