Com o mote da celebração do Dia Mundial da Consciencialização para a Inteligência Artificial a Amazon Web Services (AWS) fez um estudo para aferir sobre a adoção e o impacto que esta tecnologia já está a ter na economia. No estudo “Desbloquear as Ambições de Portugal sobre Inteligência Artificial (IA) na Década Digital em 2025” estão espelhados os reflexos positivos que a IA está a ter na economia portuguesa. Em entrevista à Forbes Portugal, o porta-voz da AWS em Portugal e Head of Technology Software & Tech Companies, para a Europa do Sul e França da AWS, André Rodrigues, revela que há “um dinamismo impressionante na adoção de IA em Portugal”. André Rodrigues realça que hoje 41% das empresas portuguesas já utilizam IA, o que significa que cerca de 96 mil adotaram esta tecnologia pela primeira vez no último ano. O responsável da AWS em Portugal explica ainda que isto significa que, no País, no último ano, uma nova empresa começou a usar IA a cada cinco minutos. Por categorias de empresas, André Rodrigues destaca que as start-ups estão na liderança, com uma taxa de adoção de 62%, sendo que mais de metade já integrou a IA na sua estratégia de negócio. Mesmo com os desafios que ainda estão por vencer como a incerteza regulatória, os custos iniciais e a falta de competências digitais, o Head of Technology Software & Tech Companies, para a Europa do Sul e França da AWS reitera a urgência em se criar cada vez mais condições para a adoção da IA, já que, esta ferramenta está a impulsionar ganhos de produtividade, eficiência e inovação em vários setores em Portugal.
A AWS divulgou os resultados do estudo “Desbloquear as Ambições de Portugal sobre Inteligência Artificial (IA) na Década Digital em 2025”. Quais são os principais destaques no que diz respeito à adoção de IA pelas empresas portuguesas?
O nosso estudo, “Desbloquear as Ambições de Portugal sobre Inteligência Artificial (IA) na Década Digital em 2025”, revela um dinamismo impressionante na adoção de IA em Portugal. Atualmente, 41% das empresas portuguesas já utilizam IA, o que significa que cerca de 96 mil empresas adotaram esta tecnologia pela primeira vez no último ano – ou, e colocando em perspetiva –, significa que, em Portugal, no último ano, uma nova empresa começou a usar IA a cada cinco minutos. Um excelente exemplo é a Visor.ai, uma start-up portuguesa que, ao utilizar o serviço Amazon Bedrock, registou um aumento de 30% na satisfação dos seus clientes através da implementação de plataformas de conversação inteligentes.
O que diferencia o nível de maturidade em IA entre PMEs, start-ups e multinacionais em Portugal?
O nível de maturidade na utilização de IA varia bastante. As start-ups estão claramente na liderança, com uma taxa de adoção de 62%, e mais de metade já integrou a IA na sua estratégia de negócio. A Unbabel é um bom exemplo: inicialmente migrou a sua infraestrutura para a AWS (reduzindo custos em 10 vezes), como mais recentemente desenvolveu os seus próprios modelos de IA, agora disponíveis mundialmente a todos as organizações através do Amazon Bedrock. Nas grandes empresas, a taxa de adoção também é de 55%, mas a maioria ainda está em fases iniciais. Apenas 11% usam IA de forma transformadora, comparando com 35% das start-ups. As PME acompanham a média nacional, mas 65% ainda se encontram nos níveis mais básicos.
Existem setores mais avançados do que outros?
Há exemplos promissores em vários sectores. A Secil, por exemplo, está a implementar agentes de IA generativa para melhorar os processos de RH e operações de segurança, mostrando que a IA pode ter impacto transformador até nas indústrias mais tradicionais.
Portugal está ao mesmo nível dos seus parceiros europeus em termos de adoção de IA? Quais são os principais pontos fortes do país e onde é que ainda estamos mais atrasados?
Portugal demonstra um forte dinamismo, com um crescimento de 24% no investimento em IA no último ano, acima da média europeia de 22%. As start-ups portuguesas superam a média europeia, com 55% a ter estratégias de IA integradas, em comparação com 38% na Europa. No entanto, há espaço para crescer na adoção por parte das grandes empresas, onde apenas 19% das empresas portuguesas têm uma estratégia de IA abrangente, em comparação com 25% na Europa. A grande vantagem competitiva das start-ups portuguesas reside no ecossistema de inovação e na capacidade de adaptação, mas o desafio é escalar a adoção estratégica para o segmento das grandes empresas e PMEs. Esta dinâmica parece alinhada com a estratégia nacional de transformação digital e com os recentes investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O país tem trabalhado para se posicionar como um hub tecnológico europeu, e de atração de talento internacional e empresas globais, o que cria um ecossistema favorável à inovação em IA.
Que benefícios tangíveis é que as empresas portuguesas reportaram no estudo como resultado da implementação de soluções de IA?
Os benefícios são notáveis. 77% das empresas que adotaram IA reportam melhorias significativas de produtividade. A Clever Advertising transformou o seu fluxo de trabalho criativo ao utilizar o Amazon Bedrock e os modelos Amazon Nova, o que reduziu significativamente os tempos de produção de campanhas. Estes exemplos espelham como a IA está a impulsionar tanto a eficiência como a inovação em vários setores em Portugal.
Pode partilhar exemplos práticos em Portugal onde a IA tem sido um fator de transformação?
Sem dúvida. Um caso exemplar de transformação através da IA em Portugal é o da OutSystems, um dos unicórnios nacionais e parceiro da AWS de longa data. A empresa lançou recentemente o AI Agent Builder, uma solução inovadora que, com o apoio dos serviços Amazon Bedrock e Amazon Kendra, permite que os seus próprios clientes integrem IA generativa nas suas aplicações de forma muito simples. Na prática, isto possibilita aos clientes internacionais da OutSystems a criação de aplicações que tiram nativamente partido de IA, o que demonstra como a IA não está apenas a otimizar processos internos e rotineiros, mas a ser incorporada no núcleo de produtos que chegam ao mercado.
A mudança é transversal…
A transformação não se limita ao setor tecnológico. Vemos a versatilidade da IA em indústrias mais tradicionais, como é o caso da Secil, que está a implementar agentes de IA generativa para modernizar a gestão de recursos humanos e as suas operações de segurança industrial. Outro exemplo é a Ascendi, que gere a cobrança de portagens e que recorre à IA da AWS para melhorar a inteligência dos seus chatbots e automatizar as interações com os clientes. Estes exemplos, de diferentes setores, mostram que o potencial transformador da IA está a ser explorado em todo o ecossistema empresarial português.
De acordo com o estudo, quais são as principais barreiras que ainda limitam a adoção da IA em Portugal?
Os dados do estudo identificaram três desafios principais que impedem as empresas portuguesas de tirar o máximo partido da IA. Em primeiro lugar, a incerteza regulatória, com 37% das empresas a considerá-la uma barreira fundamental. É interessante notar que 44% das start-ups portuguesas afirmam que esta incerteza atrasou ou alterou as suas estratégias, o que impacta diretamente o segmento mais inovador do mercado. Em segundo lugar, a perceção dos custos. 34% das empresas citam os custos iniciais como um obstáculo, e neste caso a adoção da Cloud pode ser fundamental porque permite a todas as organizações testar rapidamente e pagar apenas o que for consumido, sem grandes investimentos iniciais. Por último, a lacuna de competências continua a ser um desafio crítico. 42% das empresas identificam a falta de competências digitais como uma barreira e 57% afirmam que isso está a dificultar a inovação. Com a previsão de que a literacia em IA seja necessária em 48% dos novos empregos em Portugal nos próximos três anos, é urgente resolver esta questão.
A falta de competências digitais é um obstáculo recorrente. O que é que a AWS está a fazer para ajudar a colmatar esta lacuna?
A AWS está a tomar medidas concretas para colmatar a falta de competências digitais nos mercados em que trabalhamos, inclusivamente em Portugal. A nível mundial, assumimos a meta de formar gratuitamente 29 milhões de pessoas em competências de cloud e dois milhões em Inteligência Artificial até 2025, através da iniciativa AI Ready. Este compromisso traduz-se em várias iniciativas no terreno, com o objetivo de democratizar o acesso à formação tecnológica. Em Portugal, colaboramos com o Governo e organismos locais com o intuito de acelerar a qualificação em competências digitais em todo o país. Uma das nossas principais apostas é o AWS re/Start, programa gratuito de requalificação profissional destinado a pessoas desempregadas ou subempregadas, sem necessidade de experiência prévia. E que já está a ser desenvolvido em Lisboa, Porto, Matosinhos e Braga, em parceria com entidades locais como a CESAE Digital e a Code for All.
E no ensino superior?
No ensino superior, a AWS Academy permite que universidades e politécnicos integrem currículos prontos a lecionar nas áreas da cloud. Instituições como o ISCTE, a Universidade de Aveiro, a Universidade de Coimbra e os Politécnicos de Porto, Santarém e Coimbra já participam ativamente, e preparam os alunos com certificações reconhecidas pelo setor. Complementarmente, a AWS Educate oferece a estudantes e educadores recursos de autoaprendizagem e acesso a serviços AWS, promovendo o desenvolvimento de competências em áreas como IA, gaming ou reconhecimento facial. Estas iniciativas são reforçadas por colaborações estratégicas com o CCISP [Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos] e outras entidades públicas, e o objetivo é que contribuam para a modernização do sistema educativo e dos serviços públicos em Portugal, e promovam um acesso mais inclusivo e alargado à educação tecnológica. Estes projetos da AWS estão alinhados com a Agenda Portugal Digital e com as metas europeias para 2030, que estabelecem que 80% da população europeia deve ter competências digitais básicas. Portugal tem a oportunidade de estar na vanguarda desta transformação e tem o nosso apoio nesse trajeto.
Como vê o impacto da incerteza regulatória? O que seria necessário para proporcionar maior segurança jurídica às empresas que procuram investir em IA?
A incerteza regulatória é, de facto, um desafio. O estudo indica-nos que 68% das empresas na Europa têm dificuldade em compreender as suas responsabilidades no âmbito do EU AI Act e estimam que, por cada 100 euros investidos em tecnologia, 40 euros são para custos de compliance. As empresas que se sentem incertas com a regulamentação planeiam investir 28% menos em IA no próximo ano. Apesar dos desafios, várias empresas têm conseguido avançar ao colaborar com as nossas equipas de segurança e compliance. As Regiões AWS estão certificadas pelo Gabinete Nacional de Segurança (GNS) português ao nível ‘Restrito Nacional’, garantindo uma base segura para a adoção de IA, especialmente em setores altamente regulados.
O que a AWS recomenda para acelerar a adoção da IA em Portugal nos próximos anos?
Para acelerar a adoção de IA em Portugal, recomendamos uma abordagem com base em três pilares estratégicos. Primeiro, continuar a apoiar as start-ups portuguesas através de programas como o AWS Activate, que oferece até 100 mil dólares em créditos e apoio técnico a cada start-up. Segundo, acelerar a transformação digital em todas as indústrias. Terceiro, expandir o apoio a PMEs e grandes empresas para que integrem a IA de forma estratégica, através de centros de inovação, aceleradores setoriais e parcerias entre universidades e empresas. A adoção pelo setor público é também um fator crucial. Os números mostram que 85% das empresas portuguesas estão mais dispostas a adotar IA quando o setor público dá o exemplo. É por isso que apoiamos ativamente as iniciativas de transformação digital do Governo com programas dedicados e conhecimento técnico.
Existem iniciativas ou programas de apoio específicos da AWS para ajudar as PMEs e start-ups portuguesas a integrar soluções de IA?
Sim, para as PME’s e start-ups portuguesas, existem vários programas específicos. Através do AWS Activate, fornecemos até 100 mil dólares em créditos AWS, apoio técnico e formação. Colaboramos com aceleradoras locais como a Beta-I, a Startup Sintra e a Startup Portugal, e com empresas de capital de risco como a Indico Capital Partners, para apoiar o crescimento rápido das empresas do seu portfólio. Fazemos também parte do conselho estratégico da Startup Portugal e somos parceiros da Unicorn Factory Lisbon, o que ajuda a fomentar a próxima geração de start-ups de IA no país.
Como podem a formação, o investimento público e a colaboração com as universidades desempenhar um papel mais estratégico nesta jornada?
A colaboração entre formação, investimento público e universidades é essencial para o futuro da IA em Portugal. A parceria com o Governo português reflete esse compromisso: trabalhamos com o CCISP na modernização dos politécnicos, colaboramos com universidades através da AWS Academy. Recentemente a AWS selecionou a NOVA School of Science and Technology como uma das dez universidades de elite a nível mundial para participar na primeira edição do Amazon Nova AI Challenge, ao lado de nomes como Universidade da Califórnia e Columbia University, para competir num concurso com prémios que ultrapassam os cinco milhões de dólares e promove o desenvolvimento de software seguro e fiável assistido por IA da AWS. Apoiamos igualmente iniciativas como a PEWiT (Portuguese Executive Women in Tech) para promover um ecossistema tecnológico mais inclusivo. Também colaboramos com a Câmara Municipal do Porto na sua estratégia de smart city, com recurso à tecnologia do nosso parceiro Veniam, um exemplo claro de como as parcerias público-privadas podem impulsionar a inovação urbana.