Em 2023, cerca de 11,26% dos inquiridos que sofreram um episódio de doença optaram por não utilizar o sistema de saúde e, destes, 75,6% optaram por se automedicar. A diminuição da percentagem das pessoas que opta pela automedicação ocorrida entre 2020 e 2022 inverte-se em 2023 atingindo valores 32,3 pontos percentuais superiores aos registados em 2022 e 11,4 pontos percentuais superiores aos registados no pico do período pandémico (64,2%).
Os dados constam do mais recente Relatório Acesso a Cuidados de Saúde 2023, da autoria dos investigadores Carolina Santos e Pedro Pita Barros, detentor da Cátedra BPI | Fundação ‘la Caixa’ em Economia da Saúde, no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação ‘la Caixa’, o BPI e a Nova SBE.
Quando analisadas as razões para a escolha por automedicação, verifica-se que a experiência com problemas similares no passado, é preponderante não só devido à vivência recorrente com certos problemas de saúde (especialmente entre indivíduos com doenças crónicas) mas também devido à existência de medicamentos disponíveis em casa (o que reduz o custo implícito de não procurar auxílio profissional no sistema de saúde).
Os dados permitem ainda revelar que em 2023 verificou-se um aumento na percentagem dos indivíduos que escolhem automedicar-se por sugestão de amigos ou familiares e devido aos tempos de espera no SNS sendo ainda de realçar que, desde 2020, não há inquiridos a reportar terem optado por se automedicar devido a informação que recolheram na internet, rádio, televisão ou em campanhas publicitárias. No entanto “a elevada e crescente percentagem de indivíduos que reporta automedicar-se sinaliza que este é um comportamento que deve ser estudado e monitorizado, pelas consequências que pode ter, tanto para a saúde da população, como para a sustentabilidade e eficiência dos cuidados prestados no sistema de saúde”.
Barreiras financeiras
Analisando as barreiras financeiras no acesso a cuidados de saúde, verifica-se “um acentuado gradiente socioeconómico, com os indivíduos com maiores carências económicas a registarem uma probabilidade substancialmente superior de não adquirir todos os medicamentos necessários ao tratamento de um episódio de doença, ou de não irem a uma consulta ou urgência por falta de dinheiro”, salienta a análise.
Apesar da eliminação da maioria das taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS), a principal barreira no acesso aos cuidados de saúde em Portugal continua a ser a financeira.
E “apesar da eliminação nos últimos anos da maioria das taxas moderadoras no SNS, as barreiras financeiras no acesso a consultas ou urgências permanecem elevadas. As dificuldades financeiras reportadas no acesso a consultas e urgências extravasam os verdadeiros custos associados a taxas moderadoras no SNS e podem dever-se a despesas com medicamentos receitados na sequência de uma ida a uma consulta ou urgência, ou aos custos de transporte necessários para deslocação ao serviço de saúde”, afirma esta análise.
O relatório completo está disponível aqui para consulta, se desejar: