A indústria de Hollywood fez um grande regresso aos Estados Unidos este ano, mas muitos dos filmes mais esperados de 2021 ainda não chegaram às bilheteiras de grande parte dos países fora do território norte-americano – em parte por causa do confinamento da COVID-19 (e das restrições na lotação das salas) e em parte por causa dos desafios regulatórios no maior mercado de box office do mundo, China.
Resultado: o box office que Hollywood estimava poder alcançar à conta dos mercados extra-EUA está mais comprometido.
De acordo com a Comscore à Variety, mais de 39% das receitas de bilheteira global registadas em 2021 foram provenientes da China. Os EUA responderam por 21% da receita global de box office em 2021, segundo a Comscore.
A bilheteira doméstica dos EUA em 2021 foi estimada em cerca de US $ 4,4 biliões em receita (3,8 mil milhões de euros), o dobro dos US $ 2,2 biliões (1,9 mil milhões de euros) obtidos em 2020. Todavia, quando comprado com o que foi arrecadado em 2019, último ano pré-pandemia, a diferença é significante: US $ 11,4 biliões (10 mil milhões de euros) de 2019, de acordo com a Variety.
Homem-Aranha, campeão do Box Office
O filme de maior bilheteira de 2021 é “Homem-Aranha: No Way Home”, que arrecadou mais de US $ 1,1 bilião (967 milhões de euros), de acordo com os analistas de receita de bilheteiras, Box Office Mojo. Os dois seguintes filmes de maior receita de bilheteira são duas películas chinesas, “The Battle at Lake Changjin” e “Hi, Mom”, que arrecadaram US $ 922 milhões (810 milhões de euros) e US $ 822 milhões (722 milhões de euros), respetivamente, ambos impulsionados pelo público chinês radicado nos EUA, que representou quase 100% da receita de bilheteira desses filmes.
Dois outros filmes em inglês completaram os cinco primeiros: “F9: The Fast Saga” e “No Time To Die”, que estrearam em mais de 57 mercados em todo o mundo, incluindo a China, e atribuíram mais de 75% da sua receita à bilheteira estrangeira.
Três dos cinco filmes de maior bilheteira nos EUA – “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, “Venom: Let There Be Carnage” e “Black Widow” – não conseguiram captar mais de 60% da receita de bilheteira estrangeira, em parte devido ao facto de essas fitas ainda não terem estreado num dos mercados mais lucrativos para o cinema, a bilheteira chinesa.
Receitas comprometidas devido a tensão na China
As tensões políticas entre os EUA e a China tiveram também um papel importante na exclusão dos filmes americanos do mercado chinês e comentários controversos sobre a cultura chinesa proferidos pelo ator principal de “Venom”, Tom Hardy, e a reação chinesa contra os estereótipos percebidos em “Shang-Chi” também supostamente deixou estas películas sem data de estreia na China.
A China ainda não definiu uma data de estreia para o filme “Homem-Aranha No Way Home” deste ano, e o motivo por trás da decisão não é claro.
Os principais filmes domésticos como “Black Widow” e “Shang-Chi” também foram prejudicados pela pandemia, já que foram lançados em menos de 50 mercados em todo o mundo, enquanto alguns países apertaram as restrições devido ao aumento dos casos da variante Delta da COVID-19, a seguir ao verão.
Estratégias das produtoras
A pandemia de COVID-19 obrigou ao encerramento das salas de cinema em 2020. Com a incerteza a abater-se sobre a economia dos cinemas devido ao coronavírus, a Warner Bros. anunciou que lançaria a sua lista completa de estreias para 2021 simultaneamente nos cinemas e na plataforma de streaming HBO Max.
A Disney seguiu um formato semelhante com alguns dos seus filmes lançados no início de 2021, como “Mulan”, “Cruella” e “Black Widow” a estrearem-se nos cinemas e no Disney Plus, ainda que, a meio do ano, tenha ajustado este seu plano, mudando para um formato de exibição exclusiva nas salas de cinema, com o lançamento de “Shang-Chi” e a “Lenda dos Dez Anéis”.
Vários filmes como “Venom: Let There be Carnage” e “Clifford The Big Red Dog” também foram reagendados ao longo do ano devido a surtos de coronavírus causados pela variante Delta, ainda antes mesmo da Ómicron.
Para 2022, a Warner Bros. já veio afirmar que voltará a lançar os seus filmes apenas nas salas de cinemas. No entanto, em face do continuado acréscimo das infeções de coronavírus nos EUA devido à variante Ómicron, o impacto nos cinemas no ano que agora começa está por compreender.
E se tomarmos em linha de conta com o que alguns países europeus fizeram, como Bélgica, Holanda e Dinamarca, de fecharem os cinemas em meados de dezembro por causa da pandemia, a estratégia dos grandes estúdios pode ter de se adaptar. E 2022 será uma incógnita quanto aos valores finais de box office.