Este ano, a UNICRE celebra 50 anos. Neste período, quais foram as grandes transformações que assistimos em termos de soluções de pagamento?
Com um legado de 50 anos, temos tido a oportunidade de acompanhar todas as transformações que se deram no setor financeiro ao longo das últimas décadas em Portugal. Fomos pioneiros em trazer para o mercado diversas novas soluções tecnológicas de pagamentos. Desde logo, fomos responsáveis pela emissão dos primeiros cartões de crédito em Portugal (através da nossa marca UNIBANCO), bem como fomos a primeira rede de aceitação de pagamentos a nível nacional (sob a marca REDUNICRE – hoje REDUNIQ).
Desde então, temos estado na front row do pioneirismo e inovação tecnológica nesta área, compromisso que nos tornou até hoje o maior acquirer a operar em Portugal. Prova disso foi o que facto de, em 2000, termos sido responsáveis por lançar o primeiro cartão de crédito para utilização exclusiva em compras online, o UNIBANCO Net Net. Já em 2010, fomos uma das entidades responsáveis por um projeto piloto de implementação dos primeiros cartões contactless em Portugal.
Mais recentemente, temos vindo a desempenhar um papel importante na disrupção do mundo dos pagamentos, com o lançamento de diversos produtos e serviços inovadores que vêm responder às novas necessidades de consumidores (e negócios), que procuram soluções cada vez mais digitais, mas também cada vez mais simplificadas, rápidas e seguras. Destaco, de forma breve, o Projeto MassTransit – fruto de uma parceria com a Visa e operadores de transportes – que veio facilitar aos cidadãos a utilização de transportes públicos nas cidades do Porto (em 2020) e de Lisboa (em 2023), com recurso apenas a um cartão de pagamentos contactless. Lançámos ainda este ano o Parcela Já com UNICRE – a primeira solução de aceitação de pagamentos parcelados em loja em Portugal, que vem responder a uma necessidade dos consumidores que precisam de realizar compras de valores mais avultados, mas que não têm liquidez financeira no momento para o fazer.
Estes são apenas alguns dos marcos que atestam a inovação trazida pela UNICRE nestes 50 anos, período em que mantivemos sempre o objetivo de corresponder às necessidades dos nossos clientes e do mercado, sempre em constante evolução.
A digitalização tem sido um dos maiores catalisadores de mudança no setor financeiro. Quais foram as maiores inovações que a UNICRE implementou recentemente e qual o seu grau de penetração?
Eu acredito que a digitalização tem sido um catalisador de mudança em todos os setores, mas o impacto que traz ao ecossistema financeiro é profundo, exponencial e inegável. A UNICRE tem, na sua génese, uma forte ligação à tecnologia e, nesse sentido, sempre procurou acompanhar a acelerada evolução das novas tecnologias e a sua aplicabilidade no universo dos pagamentos.
Mas já que estamos a falar de inovações recentes, é francamente impossível não referir aquela que tem sido a grande novidade na sociedade como a conhecemos: a Inteligência Artificial (IA). Não é, de todo, uma novidade, mas a verdade é que o último ano tem vindo a marcar diversos avanços nesta matéria. A começar pela redução de possíveis erros e otimização das operações, permitindo que os profissionais do setor se concentrem em atividades mais estratégicas e que aportem valor ao negócio. Da mesma forma, a IA contribui também para fornecer um apoio altamente personalizado aos consumidores, através da criação de assistentes virtuais e chatbots.
Mas talvez a vantagem mais tangível e significativa da aplicação da IA e do machine learning no universo da UNICRE esteja na gestão de risco mais controlada, capaz de antecipar, prevenir e mitigar atividades fraudulentas ou ataques cibernéticos. Na UNICRE temos recorrido a técnicas de análise preditiva que antecipam comportamentos suspeitos, e em especial usufruímos de uma ferramenta de predição de risco de incumprimento de crédito baseada em IA, que nos possibilita uma resposta célere perante situações de risco de não pagamento por parte dos clientes, uma vez que a identificação de padrões de comportamentos proporciona uma deteção atempada de operações atípicas ao nível dos pagamentos e transações. Através desta abordagem conseguimos adotar estratégias preventivas junto do cliente, de modo a que este possa cumprir com as suas obrigações transacionais.
Outra das inovações que está a marcar o setor e o negócio da UNICRE (sendo este o nosso grande foco), é o crescimento do Buy Now Pay Later. Segundo o que os números nos indicam, é expectável que este método de pagamento venha a obter uma evolução gradual no que respeita à sua adoção pelo mercado europeu (mercado português incluído). Na UNICRE, mantendo o seu compromisso de inovar e promover a atividade económica, fomos a primeira instituição financeira do país a desenvolver uma solução Buy Now Pay Later direcionada especificamente para os terminais de pagamento dos negócios dos mais variados setores. É com expectativa que olhamos para esta tendência de pagamentos como uma oportunidade em crescendo nos próximos anos, que nos leva a manter o nível de investimento em soluções inovadoras para corresponder às necessidades dos nossos clientes e promover uma experiência de pagamento mais inclusiva e conveniente.
Como vê o impacto das novas tecnologias como a inteligência artificial, blockchain e as fintechs no futuro dos pagamentos e serviços financeiros em Portugal? Que inovações vão estas realidades fazer surgir em termos de meios de pagamento?
A normalização das novas tecnologias na área dos pagamentos acarreta um impacto bastante positivo na constante atualização e modernização da oferta prestada pelas organizações deste setor. A IA é, naturalmente, aquela onde perspetivamos uma margem de oportunidade mais expressiva, considerando as reais potencialidades desta tecnologia.
Falo, especificamente, da sua capacidade: de impulsionar a segurança nos pagamentos, uma vez que consegue processar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões e potenciais atividades fraudulentas; de simplificar todo o processo, como a recolha e análise de dados ou a elaboração de relatórios, reduzindo possíveis erros e permitindo que os profissionais do setor se concentrem em tarefas mais estratégicas para o negócio; e de ajudar os negócios a tornar as suas operações mais eficientes, uma vez que, através da criação de assistentes virtuais e chatbots, poderão fornecer um apoio altamente personalizado e eficiente aos consumidores durante o processo de pagamento.
Para além disto, a IA poderá também desempenhar um papel importante nos pagamentos internacionais e na conversão de moedas, uma vez que irá ajudar a reduzir a complexidade e os custos associados às transações internacionais, fornecendo taxas de câmbio em tempo real e identificando as melhores opções de pagamento para cada transação.
Do lado das fintech, o prognóstico é igualmente positivo, na medida em que o ecossistema das fintechs vai continuar a ter um papel muito importante para a inovação no setor financeiro, e nós, na UNICRE, queremos ter um papel dianteiro nesta matéria. Sabemos que a mudança vem de novas ideias, e estas novas ideias e a constante “pressão” para a aceleração digital do setor financeiro e da economia são espoletadas pelas soluções disruptivas que as fintechs apresentam ao mercado. Queremos, por isso, manter uma relação próxima com este ecossistema, como forma de contribuir para um país mais moderno, atrativo e, acima de tudo, competitivo.
No fundo, antecipam-se anos muito promissores e estou certo de que continuaremos a assistir à adoção de métodos de compra e pagamento cada vez mais disruptivos, alinhados com a tendência do mercado. Atrevo-me a prever que num futuro não muito longínquo, podemos estar a falar de possibilitar pagamentos por voz e/ou por reconhecimento biométrico.
Do lado da UNICRE, haverá novidades em termos de novos produtos a lançar para estes próximos meses? Quais?
Após 50 anos de legado no setor dos pagamentos em Portugal, é nossa ambição conseguir levar o nosso know-how e ambição além-fronteiras. Já no final deste ano demos um primeiro passo na expansão do nosso negócio para novos mercados – a começar pelo alargamento da nossa oferta de soluções de aceitação de pagamentos ao país vizinho, Espanha, com a solução Tap2Phone, uma ferramenta tecnológica que já havíamos lançado em Portugal sob o nome REDUNIQ Soft. O propósito deste importante passo prende-se com a identificação de uma acentuada procura por soluções de pagamento digitais e cada vez mais simplificadas por parte dos negócios em diversos mercados por toda a Europa. A seguir a Espanha, a nossa ambição é expandir este produto no próximo ano a outros mercados europeus, como o austríaco, o italiano e ainda o neerlandês.
No futuro, tanto a curto como a longo prazo, continuaremos comprometidos com a inovação e com o desenvolvimento de soluções de pagamento cada vez mais simples e seguras. Queremos contribuir para a aceleração da digitalização da economia.
Olhando para 2025, que tendências antecipa para o setor financeiro e para a UNICRE em particular?
Acredito veemente que estamos perante um cenário de tremenda disrupção tecnológica, que irá impactar não apenas a área dos pagamentos, mas toda a sociedade. No que à nossa área de atuação diz respeito, o impacto desta mesma disrupção vai traduzir-se numa acentuada desmaterialização dos pagamentos.
A evolução tecnológica, nomeadamente a integração da IA, está a revolucionar a área dos pagamentos, na medida em que permite criar soluções mais acessíveis e personalizadas para os consumidores, melhorando a sua experiência de pagamento. Nessa medida, estou expectante para assistir à transformação de que o nosso setor vai sofrer, e da qual queremos fazer parte, juntamente com os nossos parceiros.
Ao mesmo tempo, os próximos anos serão claramente marcados por desenvolvimentos na política monetária europeia a propósito da moeda digital, sendo que o Banco Central Europeu apresentou o mês de outubro de 2025 como o mês de finalização do processo de preparação. A par desta, antevejo, como já referido, uma crescente adoção de soluções como o Buy Now, Pay Later ou as wallets digitais.
Estas tendências emergentes refletem a mudança nas preferências e comportamentos dos consumidores em relação aos pagamentos. Na UNICRE, estamos comprometidos em acompanhá-las e em continuar a inovar. A nossa missão é fornecer soluções de pagamento que sejam seguras, acessíveis e adaptadas às necessidades dos nossos clientes. Estamos entusiasmados com os próximos 50 anos e confiantes de que a UNICRE continuará a desempenhar um papel fundamental na evolução do sistema financeiro no futuro.