Conforme anunciado em novembro de 2022, na Gala de anúncio das distinções do Guia Michelin de Espanha e Portugal para 2023, o nosso país, pela primeira vez, passaria a ter os seus restaurantes selecionados e apresentados numa edição do Guia e num evento exclusivo, que decorreu ontem, 27 de fevereiro no Algarve, no NAU Salgados Palace & Congress Centre, em Albufeira.
Perante 500 convidados (entre chefes de cozinha, proprietários de restaurantes, jornalistas e outras personalidades ligadas ao meio gastronómico), foram apresentados individualmente, com chamada ao palco e entrega de jaleca personalizada, 30 novos restaurantes destacados pelo Guia Michelin, dos quais cinco almejaram as famosas estrelas: o Antiqvvum, de Vítor Matos, situado no Porto, que ascende à categoria das duas estrelas, e o 2 Monkeys, coliderado pelo mesmo Vítor Matos e pelo chef residente Francisco Quintas, o Desarma, de Otávio Freitas, localizado no Funchal, o Ó Balcão, de Rodrigo Castelo, em Santarém, e o Sála, de João Sá, em Lisboa, que passam a integrar o lote de restaurantes distinguidos com uma estrela.
Em sentido contrário, o Eneko e o Largo do Paço encerraram e, por isso, viram a estrela naturalmente deixar de constar da lista, assim como o Vistas perdeu a sua estrela como consequência da saída do chefe que a tinha conquistado, Rui Silvestre, há poucos dias anunciado como novo chefe do Fifty Seconds. Em suma, um crescimento real de apenas duas estrelas.
Neste clima, o grande destaque da noite foi Vítor Matos que, além das duas estrelas recebidas no Antiqvvm e no 2 Monkeys, viu o restaurante Blind, no Porto, passar a integrar o guia como restaurante recomendado e viu também a sua chef residente, Rita Magro, ser distinguida como Jovem Chef. Trata-se aliás de uma novidade recente do Guia Michelin, que nos últimos anos vem distinguido individualmente alguns atores gastronómicos (uma vez que as estrelas são atribuídas aos restaurantes e não aos respetivos chefes), tendo ainda destacado pelo seu trabalho no serviço de sala Pedro Marques, do Gastronomic by The Yeatman (restaurante que manteve as suas duas estrelas) e Leonel Nunes, do Il Gallo d’Oro, como sommelier.
Outra das novidades dos últimos anos é o cuidado em distinguir projetos que adotam práticas mais sustentáveis, tendo sido criada pela Michelin a estrela verde. Aos distinguidos noutros anos Esporão, Mesa de Lemos e Il Gallo d’Oro, juntaram-se agora a Malhadinha Nova (que tem Joachim Koerper como chef consultor e João Sousa como chefe residente) e o Ó Balcão, cujo chefe e proprietário, Rodrigo Castelo, juntaria momentos depois a primeira estrela à nova estrela verde.
Além das estrelas, foram ainda chamados ao palco os chefes cujos restaurantes foram distinguidos com o prémio BIB Gourmand, uma categoria que pretende destacar espaços com uma cozinha de qualidade, mas de preço mais acessível. Neste momento, subiram para vestir a jaleca João Guedes Ferreira, do Flora (Viseu), Tiago Costa e Miguel Rodrigues, do Inato Bistrô (Braga), Hugo Alves do Norma (Guimarães), o marido de Mónica Gomes do Olaias (Figueira da Foz), Luís Moreira do OMA (Baião), Annakaren Fuentes d’O Pastus (Paço de Arcos), Simão Soares e Afonso Ramos do Pátio 44 (Porto) e, finalmente, João narigueta do PODA (Montemor-o-Novo).
Finalmente, passaram a integrar o guia como restaurantes recomendados, com direito a subida dos respetivos chefes ao palco, Aurora Goy do Apego (Porto), Nuno Dinis do BAHR (Lisboa), Rita Magro e Vítor Matos do Blind (Porto), Gonçalo Pinto e Pedro Lemos do Bonfim 1896 (Pinhão), Ruben Trindade Santos da Casa do Gadanha (Estremoz), Bruno Caseiro da Cavalariça (Comporta), Justin Jennings do Down Under (Lisboa), José Diogo Branco do Fago (Marvão), Tiago Amorim do Fauno (Porto), Ricardo Dias Ferreira do Gastro by Elemento (Porto) Santiago Agnolles do Horta (Funchal), Ana Moura do Lamelas (Porto Covo), Ricardo Casqueiro do MA (Coimbra), Noélia Jerónimo do restaurante homónimo (Tavira), Nuno Martins do Numa (Portimão), Marco Almeida d’O Palco (Coimbra), Óscar geadas do Quinta do Tedo (Folgosa), David Jesus do Seiva (Leça da Palmeira), Lara Prado e George Macleod do SEM (Lisboa), Tiago Maio do Sem Porta (Muda) e, finalmente, Henrique Sá Pessoa e Jonathan Seiller do Vinha (Vila Nova de Gaia).
A gala
O clima foi de festa, sobretudo na primeira parte da Gala, conduzida por Catarina Furtado, com a subida ao palco de muitos jovens chefes e projetos mais diferenciadores, que arrancaram palmas e “vivas” da plateia. Maria Paz Robina e Gwendal Poullennec, da Michelin, dirigiram-se à plateia em português, tendo expressado o grande entusiasmo dos inspetores na descoberta de novos restaurantes e que a noite seria de surpresas. O Presidente do Turismo de Portugal e o Ministro da Economia do Mar, sublinharam a vontade das autoridades nacionais apostarem na gastronomia, tendo sido anunciado uns meses antes um investimento de cerca de 400 mil euros para trazer o anúncio das estrelas e o guia para solo luso.
Além de duas músicas de Cuca Roseta, os momentos mais emocionantes da noite foram protagonizados por Noélia Jerónimo, a mediática cozinheira algarvia que ainda não constava do guia e que levou aos primeiros aplausos de pé e por uma emocionada Annakaren Fuentes, cujo marido e chefe do novo BIB O Pastus, Hugo Dias de Castro, morreu em dezembro passado, trabalho esse tido em consideração pelo Guia. Rodrigo Castelo ao acumular a estrela verde e a primeira estrela também levou a plateia a grande entusiasmo, tendo ecoado um grito “Vai Ribatejo!” na plateia, logo entusiasticamente aplaudido.
No final do anúncio dos prémios, até pelo elã dado pelo Diretor Geral do Guia no seu discurso inicial, sentiu-se alguma desilusão, sobretudo por não ter sido ainda este ano que Portugal passou a contar com um restaurante na elite dos triestrelados. Por isso foram chamados ao palco os chefes dos restaurantes com duas estrelas (todas renovadas no guia de 2024), para receberem uma nova jaleca. José Avillez do Belcanto, Dieter Koschina do Vila Joya, Hans Neuner do Ocean, Henrique Sá Pessoa do Alma, Benoit Shinton do Il Gallo d’Oro, Ricardo Costa do Gastronomic by The Yeatman e Rui Paula da Casa de Chá da Boa Nova receberam no restrito grupo Vítor Matos que se junta com o Antiqvvm a este semi olimpo.
Seguiu-se um jantar volante dado pelos sete chefes algarvios distinguidos com estrelas Michelin (Dieter Koschina, Vila Joya, Coordenador; João Oliveira, Vista, Coordenador; Hans Neuner, Ocean; José Lopes, Bon Bom; Liborio Buonocore, Gusto by Heinz Beck; Louis Anjos, Al Sud; e Luís Brito, A Ver Tavira), que apresentaram aos convidados alguns pratos dos seus menus de degustação. A festa acabou já pela madrugada, sob a música de Fernando Alvim, apresentador e DJ.
Declarações
Francisco Quintas, chefe residente do novo estrelado 2 Monkeys passa a ser o mais jovem chefe português a ganhar uma estrela Michelin (ainda que sob a tutela de Vítor Matos), tendo referido à Forbes que a distinção “é o resultado de um trabalho feito de maneira consistente, embora muito rápido, com pessoas por trás que trabalham muito arduamente e que se dedicam muito ao projeto, não só o Chef Vítor Matos ou eu, e gostava de agradecer a essa equipa e também à empresa que nos apoia”.
João Sá, em declarações à imprensa momentos após o final da Gala, dizia que hoje o restaurante estaria fechado para celebrar com a equipa e que agora há que “desfrutar, ser feliz a fazê-lo, sem obsessões e sem stresses. E tratar bem os nossos clientes! Temos de ser felizes e desfrutar, desfrutar, desfrutar!”
Em 2025 será lançada nova edição do Guia, devendo saber-se nos próximos meses que cidade portuguesa irá receber o evento.
Duarte Lebre de Freitas