Opinião

As casas das dores de crescimento (e dos empreendedores)

Miguel Ricardo

Um ecossistema de inovação rico e coeso assiste frequentemente a momentos de tensão em que as chamadas dores de crescimento se fazem sentir com maior intensidade. Nestes momentos, decisivos na vida de empreendedores e profissionais dedicados à inovação, é essencial ter espaço para crescer, para partilhar desafios com outros profissionais e preparar a adaptação a novas circunstâncias.

Acredito que na cultura popular portuguesa encontramos provérbios que traduzem grandes verdades. Neste caso, recuperaria duas máximas: à ideia “Quem não arrisca não petisca”, central para qualquer empreendedor, acrescentaria “Casa arrumada, vida organizada”. Num ecossistema de inovação, repleto de curvas de aprendizagem e rampas de lançamento, o ambiente onde passamos por estas experiências pode infl uenciar profundamente as decisões que tomamos. Este ambiente, para além de arrumado, deve ser dinâmico e efervescente, potenciando a criação de novas ideias.

Agora que várias empresas e profissionais independentes escolhem percursos mais flexíveis, será que procuram espaços de trabalho orientados para o crescimento? Será que analisam um espaço e anteveem o seu potencial para a evolução, a inspiração e até a falha?
O simples ato de nos sentarmos à mesma secretária diariamente tem impacto na forma como percecionamos o trabalho que desenvolvemos, e acima de tudo, o nível de motivação com que o desenvolvemos. Cada vez mais, os espaços de trabalho, quer seja em escritórios de empresas ou em ambiente de coworking com mais fl exibilidade, são pensados em regime de open-space, com pequenos pólos destinados a momentos de reunião e concentração. No fundo, criou-se um paradigma segundo o qual as barreiras físicas começaram a cair, em nome da colaboração e da criação de ambientes de trabalho mais dinâmicos.

Estar preparado para a ampliação de um projeto significa, em parte, reconhecer a importância do espaço que nos rodeia, das pessoas que o frequentam, do estilo de vida que a sua localização nos permite levar. Certos espaços permitem-nos efetivamente expandir o número de colaboradores sem grandes atritos, mas refiro-me, acima de tudo, ao crescimento gerado através do contacto diário com espaços, projetos, eventos e profissionais inspiradores na forma como se relacionam com a inovação no seu quotidiano.

Como profissional inserido neste tipo de ecossistemas, que tanto beneficia do contacto direto com empreendedores, não consigo deixar de sublinhar que as casas onde experienciamos dores de crescimento, que nos levam usualmente a caminhos mais interessantes e enriquecedores, devem ser valorizadas e selecionadas cuidadosamente. Nos tropeções do empreendedorismo, nos momentos de falha, nas conquistas, é essencial partilhar espaços comuns com quem já poderá ter passado pelo mesmo e até com quem já poderá andar sem rede de segurança, e nos inspire a explorar saltos maiores.

Miguel Ricardo,
General Manager do SITIO

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