O artista alemão, Gregor Schneider, conhecido pelas suas obras de arte provocadoras e imersivas, está a levar a arte da morte para a era digital. Schneider anunciou que vai disponibilizar, para download, réplicas digitais de participantes com pouco tempo de vida, permitindo que o público explore a mortalidade de uma forma totalmente nova e interativa. As mesmas vão estar disponíveis no site do artista e através de um app, em Outubro.
Schneider, que sempre foi fascinado pela morte e pelos espaços onde ela ocorre, afirmou que esta sua iniciativa faz parte de um projeto maior em que está a trabalhar. Famoso por criar ambientes que confrontam os visitantes com temas desconfortáveis e muitas vezes tabu, esta nova proposta do alemão não é diferente.
O artista já recebeu vários prémios, entre eles o Golden Lion na Bienal de Veneza, em 2001.
As réplicas digitais são criadas utilizando scanners 3D de alta precisão e um avançado software de modelagem. Os participantes são pessoas reais, nos estádios finais da sua vida. A tecnologia utilizada permite ao artista capturar detalhes minuciosos destes últimos, desde a textura da pele às suas expressões faciais, proporcionando uma experiência visceral e realista ao público. No site do artista vai ser possível aceder a alguns dos arquivos digitais de Schneider e fazer o download das réplicas em 3D, em dispositivos compatíveis com realidade aumentada ou virtual.
Gregor Schneider ganhou notoriedade com a instalação Totes Haus u r, que recria ambientes desconfortáveis que refletem sobre a morte.
Segundo Schneider, a ideia é permitir que as pessoas confrontem a realidade da morte de uma forma segura e controlada, utilizando a tecnologia para criar uma ligação mais íntima e pessoal com o processo da morte. Contudo, o projeto levanta várias questões éticas e filosóficas sobre a representação da morte e a privacidade dos indivíduos envolvidos – temas estes que o artista espera que sejam discutidos amplamente.
A reação do público ao projeto de Scheinder tem sido mista.
Enquanto que alguns críticos de arte elogiam a ousadia do artista alemão em confrontar a mortalidade, outros questionam as réplicas virtuais do alemão e aludem aos limites da arte e à responsabilidade dos artistas em saber lidar melhor com temas tão sensíveis.
Apartir de outubro deste ano, várias das réplicas de alta qualidade vão ser expostas em lugares públicos pela cidade de Munique.
Como parte da mostra, os participantes escolheram o local onde querem que a sua réplica virtual apareça. Não só tiveram a oportunidade de partilhar com o artista o porquê de terem escolhido certos lugares, como puderam gravar uma mensagem pessoal para o público que por eles passar.
O certo é que este projeto, intitulado, Ars Moriendi (em português, a arte de morrer), sinaliza uma nova era na arte digital, em que a tecnologia é usada para explorar aspectos profundos e tópicos frequentemente evitados da experiência humana. O uso de ferramentas digitais para desafiar percepções e dar aso a discussões importantes sobre temas tabu é algo recente, e as suas implicações na forma como a sociedade lida com a morte e o luto continuam por ser totalmente compreendidas.