Até 2011, as vendas da Arquiled registavam um crescimento “luminoso” até aos 3 milhões de euros. Porém, pouco tempo depois, começam a descer e, em 2012, os capitais próprios negativos acrescidos de um enorme endividamento faziam adivinhar o pior. “Era necessário organizar a gestão da empresa e reorientá-la para o negócio da eficiência energética”, diz o actual presidente-executivo da empresa.
Miguel Allen Lima chegou à liderança da Arquiled em 2014 com um mandato bem definido. “Temos a certeza que vai ser muito difícil e estamos preparados para encerrar a empresa em 12 meses.
O Miguel tem liberdade total para tentar a recuperação da empresa, através da estratégia que entenda mais adequada”, disseram-lhe os investidores. Um ano antes, a Arquiled tinha ganhado um novo investidor. A Capital Criativo, através do fundo de capital de risco Revitalizar Sul, adquiriu 1% do capital da companhia através de um aumento de capital – posição que em conjunto com a participação da EDP Ventures permite aos dois investidores assumir a gestão da empresa e avançar com a realização da reorientação da empresa. “Encontrei uma situação muito complicada do ponto de vista financeiro e das relações interpessoais. Foi uma crise difícil de gerir”, confessa Miguel.
“Era necessário organizar a gestão da empresa e reorientá-la para o negócio da eficiência energética”, diz Miguel Allen Lima.
Na gíria da gestão, as reestruturações estão geralmente associadas a despedimentos, mas na Arquiled não foi assim. “O que fizemos foi actuar nas áreas do produto, dos processos, da imagem e do marketing, e mudámos totalmente de clientes-alvo”, diz o gestor, que começou por contratar quadros para os pelouros financeiros, marketing, produção e engenharia. Miguel tinha consciência da tarefa que tinha pela frente.
A forte regulação do sector energético e a exigência de qualidade obrigava a um enorme esforço, mas tinha também alguns trunfos.
A seu favor tinha um accionista com poder no sector.
A EDP Distribuição, subsidiária da EDP, tem a concessão da esmagadora maioria das redes de baixa tensão pertencentes aos municípios – vantagem à qual se somava uma oferta (produto) quase impossível de recusar.
As vendas começaram por promover projectos piloto, para convencer as Câmaras das poupanças geradas. “Quando surge uma nova tecnologia há sempre preconceitos. Percorremos Portugal de lés-a-lés a mostrar a nossa solução”, explica o gestor, sublinhando que “os primeiros dois anos foram muito difíceis”. Mas, produtivos. O produto era difícil de recusar. “Comparativamente às luminárias de sódio, as de LED gastam entre 65% a 70% menos, consoante os modelos, e todos os anos vamos conseguindo mais um pouco de poupança”, avança o presidente executivo da Arquiled.
Ou seja, para os municípios, que gastam anualmente milhões de euros em electricidade, era uma proposta difícil de recusar, mesmo para aqueles com escassez de capital para investir.
Reinventar um negócio
Cientes da realidade financeira de alguns municípios, a empresa criou duas soluções que contornam a necessidade de avultados investimentos iniciais. “Os municípios ricos ganham mais, mas os outros também ganham, embora menos”, afirma Miguel. Leiria, por exemplo, optou por investir 900 mil euros na substituição de 6500 luminárias na parte urbana da cidade e encaixar a totalidade da poupança gerada – entre 60% a 70% – na factura energética.
Porém, para os que não podem, a Arquiled propõe a locação ou a cedência da exploração do negócio a uma ESE – Empresa de Serviços Energéticos. O primeiro modelo baseia-se no aluguer operacional do equipamento: a Câmara tem o custo da renda, mas fica com a poupança integral da mudança.
No segundo, a poupança na factura energética da câmara é partilhada com a ESE. Qual o melhor? Miguel diz que é uma questão de dimensão. “A locação é mais adequada a projectos pequenos, enquanto as ESE são mais adequadas a projectos com mais de 4 mil luminárias”, explica.
Perante as estimativas da gestão para o valor do volume de negócios, em 2018 a Arquiled deverá facturar cerca de 10,5 milhões de euros.
Aljustrel, por exemplo, usou o modelo de locação para substituir 3500 luminárias e depois de pagar a renda consegue poupar 240 mil euros ano. Já Valongo, usou o modelo ESE para substituir 16 mil luminárias, o que obrigaria a um investimento de 8 milhões de euros, e ficou a poupar 600 mil euros por ano na factura energética.
Com um produto e soluções de financiamento que o tornam irrecusável, a Arquiled conta actualmente com 40 municípios em carteira, um crescimento conseguido sobretudo nos últimos quatro anos e que se reflecte na folha das vendas: entre 2014 e 2017, o volume de negócios da empresa cresceu de 1,8 milhões para 7,6 milhões de euros, e este ano deverá ultrapassar os 10 milhões.
Mas, para ser possível fazer este caminho, foi necessário dotar a empresa para responder à procura e às exigentes normas que regulam a actividade: entre as máquinas e a infraestrutura estão aplicados em Mora cerca de 4 milhões de euros. Além disso, foi também preciso investir em recursos humanos.
Além da contratação de profissionais para os pelouros financeiro e de marketing, realocou-se a prata da casa, como aconteceu a alguns colaboradores da gestão anterior, e procurou-se cativar novos quadros qualificados. Numa vila com cerca de 5 mil habitantes, que vive sobretudo do sector agroindustrial e do turismo, não abundam quadros com a formação desejada por uma empresa de electrotecnia.
A ligação próxima com o Instituto de Emprego e Formação Profissional local e com a câmara municipal, que Miguel diz ser um parceiro, seja na facilitação dos processos burocráticos relativos a licenciamentos, seja na indicação de potenciais quadros, é uma ajuda. Na maioria, os trabalhadores da Arquiled vêm ou têm formação nas áreas dos serviços e do turismo, acabando por ser formados no local de trabalho.
Porém, numa área de negócio estimulante do ponto de vista da engenharia, a empresa pode orgulhar-se de ser uma atracção em termos profissionais. João Crespo, 24 anos, licenciado em engenharia de nanotecnologia na Universidade Nova e mestre pela Universidade de Cambridge, é um desses casos. Com o currículo que tem, João podia estar a fazer investigação num qualquer instituto ou universidade mundial, mas optou pela Arquiled.
“Estou muito satisfeito. Era mesmo isto que eu procurava. Aqui na indústria aplica-se o conhecimento e aprende-se muito com pessoas mais experientes”, explica à FORBES o engenheiro de produto da Arquiled, ao mesmo tempo que faz uns pequenos ajustes num arduíno – placa electrónica de hardware – de forma a programá-lo para o efeito desejado.
Preparar o futuro
Se inicialmente Arquiled era uma empresa de serviços, rapidamente teve que se transformar numa eficiente produtora de luminárias LED. O primeiro passo deu-se com a compra da fábrica da sua fornecedora, a Leid.
É nas instalações desta, em Mora, que está hoje a Arquiled, mas com um funcionamento obrigatoriamente mais eficiente. Quatro anos volvidos do reposicionamento da Arquiled, a empresa encontra-se numa posição sólida. O endividamento mantem-se elevado, mas o volume de negócios inverteu a queda.
Perante as estimativas da gestão para o valor do volume de negócios, este ano a Arquiled deverá facturar cerca de 10,5 milhões de euros, 10 vezes mais do que no pior ano da empresa (2011) e quase cinco vezes mais desde que a actual gestão entrou em funções e reestruturou o negócio. É também esperada uma nova investida no aumento do crescimento.
Para financiar a próxima etapa, a empresa fez um Junho um aumento de capital que colocou nas mãos do fundo “Revitalizar Sul” 52,5% do capital da empresa. O fundo EDP Ventures acompanhou, mas os fundadores representados pela Arquicapital e a Climar não, o que acabou por diluir a posição destes accionistas.
Agora, com a casa arrumada e uma estrutura accionista sólida e em consonância, Miguel Allen e os seus companheiros da gestão estão prontos para lançar a Arquiled no mercado mundial.
Actualmente, a empresa factura pouco mais de 300 mil euros no estrangeiro, dinheiro oriundo sobretudo do segmento da iluminação cénica, mas está determinada a alterar este desequilíbrio. Na Europa, por exmeplo, têm alguns projectos nos balcãs, e querem entrar no mercado espanhol.
Não é tarefa fácil. Apesar da empresa e das luminárias cumprirem todos os critérios de qualidade exigidos pelas normas europeias, é difícil entrar no mercado do centro do Velho Continente, dominado por grandes colossos do mercado mundial, sobretudo para uma empresa portuguesa.
“Se fossemos uma empresa alemã…”, diz Miguel, sublinhando que a ausência de tradição nacional no sector da electrotécnica é um entrave à penetração em alguns mercados. Mas, há outros caminhos.
Depois de testar o mercado brasileiro, a Arquiled iniciou recentemente uma investida no mercado colombiano onde o presidente executivo deposita grandes expectativas. “O Brasil é um mercado difícil e as tarifas aduaneiras encarecem muito os nossos preços”, justifica.
Porém, na Colômbia além deste problema já não se ecolocar, a empresa está bem posicionada. “Temos já uma parceria com a Mota-Engil para futuros projectos”, revela Miguel, adiantando que já tiveram conversas com empresas locais. Uma delas foi a EPM, a empresa pública de distribuição de energia da cidade de Medellin, à qual deixaram uma luminária para testar.
“Disseram-nos que era a melhor luminária que jamais tinham testado”, refere, adiantando que é um país amistoso para as empresas portuguesas e para a inovação. Por enquanto têm lá apenas um profissional a tempo inteiro, que está a tratar da finalização dos processos de certificação, e a fazer prospecção do mercado.
Em breve segue-se a contratação de uma equipa de vendedores e o desenvolvimento de um pólo tecnológico.
“Mais para a frente, num espaço de cinco anos, pretendemos ter lá uma unidade de produção”, revela o presidente-executivo da Arquiled.
Ou seja, a Arquiled está determinada a acompanhar o crescimento do mercado a nível mundial e já sabe por onde começar.