Moderado pelo jornalista Richard Laverty, o primeiro painel do segundo dia da Thinking Football Summit teve como tema o apoio e investimento ao futebol feminino. Bruno Cheyrou, tecnical advisor do Lyon, Pedro Malabia Sanchis, diretor da Liga F [liga feminina espanhola], e Arianna Criscione, ex-jogadora e fundadora da Valeur Sport e Mercury 13, foram os três nomes escolhidos para abordar o tema.
Poucos são capazes de discordar do sucesso do Euro 2022 e do Mundial 2023, duas competições que colocaram a modalidade num bom momento. Além disso, o sucesso de algumas equipas na Europa, seja a nível de clubes ou seleções. Mas como manter esse momentum?
“A competição é cada vez mais difícil, temos de investir mais para manter”, explicou Bruno. “Os governos têm de ajudar os clubes. Precisamos de mais pessoas que acreditem porque é uma questão de dinheiro, mas é também uma questão de ter visão, perceber o que pode vir a ser”.
Ao mesmo tempo, quem investir tem de ter a consciência de que inicialmente pode perder dinheiro. Trata-se de pensar no que podem ganhar no futuro e não hoje. É esta a visão de Pedro, que realçou a importância de “começar a trabalhar”, mesmo que esse compromisso signifique que se vai continuar a perder dinheiro por uns tempos. É talvez por isso que defende a necessidade de “pessoas malucas”. Em Espanha, elogia o investimento dos grandes clubes.
Mas para Arianna é preciso mais. E usa o painel desta manhã para justificar isso mesmo: A conversa é sobre futebol feminino, mas entre quatro pessoas apenas uma é mulher. Outro exemplo são as próprias ligas, e a portuguesa é indicativa disso mesmo, onde assistimos a competições entre equipas profissionais, com acesso a boas condições, e outras que têm maiores dificuldades e não conseguem dar as melhores condições às suas jogadoras.
Da parte de Bruno, a resposta passa por conseguir que mais nomes grandes do futebol de cada país invistam em equipas femininas. Só que essa solução não ajuda as equipas mais pequenas que hoje fazem parte das ligas.
“Temos quatro clubes que são independentes [não estão ligados a clubes com equipa masculina] e eles estão com dificuldades, não só a nível financeiro, mas também profissional. O nosso papel como liga é ajudá-los. Eles têm de começar a construir uma gestão em torno do clube. É sobre entender o mercado, conseguirem contratar boas jogadoras”, acrescentou Pedro Cheyrou.
Fazer a modalidade crescer passa, assim, por muito mais do que a transferência monetária: “É preciso fazer muito mais pelo futebol feminino, tem de haver uma gestão em volta. Só dinheiro não é um investimento, é preciso fazer tudo o resto”, sublinhou Arianna Criscione.
E se hoje as atenções estão todas viradas para o tema dos salários e da melhoria das condições, assim que o crescimento da modalidade o permitir é necessário começar a focar em outros tópicos. Arianna é da opinião de que, para impedir que o jogo feminino vá pelo mesmo caminho que o masculino, se estabeleça depois um teto salarial.
“Tem de haver um teto salarial. Vemos o dinheiro no futebol masculino a chegar a montantes que não fazem sentido. Precisamos de pôr dinheiro em coisas que desenvolvem todo o ecossistema. Há vários aspetos que precisamos de trabalhar. Vai chegar o momento em que precisamos de parar de falar sobre os salários e temos de falar sobre tudo o resto”, diz.
Para que momentos como esse cheguem, o desafio passa por uma mudança cultural. “Nós pagamos por tudo, vamos também pagar por futebol feminino”, disse Arianna. “Os clubes têm duas equipas principais, a masculina e a feminina, foquem-se nisso”, acrescentou Pedro.