Em tempos de transformação acelerada, onde a reputação se constrói dentro e fora das empresas, o perfil digital de um líder é hoje tão relevante quanto a sua gestão de resultados. O estudo “CEO Monitor: O estado dos líderes no LinkedIn em Portugal”, apresentado, esta manhã, pela LLYC Portugal, analisa pela primeira vez de forma sistemática a identidade digital dos principais executivos nacionais e revela um retrato paradoxal: a maioria tem perfis bem estruturados, mas pouca atividade e interação.
O levantamento avaliou 68 CEO e líderes de topo das maiores empresas portuguesas (excluindo o sector financeiro), segundo o ranking Informa D&B. A metodologia LinkedIn Challenge, desenvolvida pela LLYC, cruza duas dimensões fundamentais: otimização do perfil, que inclui a informação básica, distintiva e rede de contactos, e atividade e conteúdo, que mede publicações, interação e influência.
O resultado é inequívoco: enquanto os líderes portugueses dominam a parte “higiénica”, com perfis completos, fotografia adequada e informação profissional estruturada, a sua presença ativa e capacidade de gerar diálogo ainda é limitada. Os indicadores de Atividade Básica, Interação e Influência obtêm valores muito inferiores aos da otimização, chegando, em alguns casos, a apenas dois pontos em cinco.
“Surpreendeu-me ver que muitos líderes ainda não cumprem o mínimo de cuidado no perfil. Um líder sem fotografia ou com um perfil incompleto transmite descuido. O LinkedIn é uma plataforma de comunicação pública e, como tal, deve ser tratada com rigor e coerência”, observa Marlene Gaspar, diretora-geral da LLYC Portugal.
Mais do que um ranking, um espelho de liderança
A responsável faz questão de sublinhar que o objetivo do CEO Monitor não é classificar por vaidade, mas avaliar a consistência da presença digital dos líderes.
“Sim, não deixa de ser um ranking, mas com critérios muito claros. Não é um ranking de performance, é uma análise de comportamento digital. O que quisemos foi mostrar o impacto da combinação entre otimização e presença ativa. Não premiamos quem publica mais, mas quem comunica melhor e gera confiança”, explica.

Os 16 executivos que atingiram pontuações mais elevadas – considerados “perfis tipo A” – são aqueles que conseguem conjugar autenticidade, frequência e consistência.
Entre eles, destacam-se Javier González Pareja (Bosch), Sofia Tenreiro (Siemens), António Pires de Lima (Brisa), Ana Figueiredo (Altice), Miguel Almeida (NOS) e Miguel Cruz (Infraestruturas de Portugal), entre outros.
Para Miguel Cruz, que surge em 12.º lugar no estudo, o mérito da iniciativa está em abrir espaço para reflexão. “O ranking é importante enquanto instrumento de estímulo e aprendizagem, mas isto não é uma competição de egos, é uma medição da eficácia de uma estratégia de comunicação”, afirma, sustentando que “o relevante é compreender se a presença digital do líder serve a estratégia da organização. O LinkedIn é um canal de visibilidade institucional, de atração de talento e de reforço de confiança junto dos stakeholders. O importante é a utilidade dessa presença, não a posição no ranking.”
De líderes discretos a comunicadores conscientes
O estudo também identifica uma tendência geracional: as lideranças mais jovens e as que operam em setores de inovação e tecnologia têm maior propensão para usar o LinkedIn como ferramenta estratégica. Já os líderes com trajetórias mais longas tendem a encarar a exposição digital com reserva.
Uma atitude que, segundo Marlene Gaspar, está lentamente a mudar. “Ainda existe resistência, sobretudo entre quem sempre liderou de forma mais discreta e não sente necessidade de exposição pública. Mas o contexto mudou: a comunicação é parte da liderança. Há cada vez mais exemplos de CEO que entendem o LinkedIn como uma extensão natural do seu papel”, afirma.
Os setores industrial, tecnológico, energético e de infraestruturas lideram em qualidade de presença digital, refletindo a crescente importância da reputação pública para a atração de talento e investimento.

O relatório destaca, ainda, que os líderes com maior impacto digital são os que combinam autenticidade e propósito, e não necessariamente os que comunicam com maior frequência.
“A liderança digital não se mede em número de publicações, mas na coerência da mensagem e na capacidade de gerar conversas significativas. Um CEO que se expõe com autenticidade cria valor para si, para a marca e para o setor”, lê-se nas conclusões do relatório.
A comunicação como extensão da estratégia
O CEO Monitor sugere que o LinkedIn já não é apenas uma plataforma profissional, mas um espaço de influência, reputação e diplomacia empresarial.
Para Marlene Gaspar, esta nova dimensão exige uma abordagem estratégica: “O LinkedIn tornou-se uma ferramenta de thought leadership. Um líder que comunica bem reforça o posicionamento da marca, contribui para o employer branding e constrói relações de confiança. É uma forma de a empresa se apresentar ao mundo através da sua liderança.”
Miguel Cruz concorda: “Gerir um perfil no LinkedIn é um desafio. Não basta estar presente, é preciso gerir essa presença. A visibilidade tem de ser consistente e útil, alinhada com os objetivos da organização.”
Um estudo com continuidade
A LLYC Portugal já prevê dar continuidade ao relatório, com atualizações regulares que permitam acompanhar a evolução da maturidade digital das lideranças nacionais.
“Esperamos que sim. Este estudo exigiu tempo e investimento, mas valeu a pena. O retorno foi muito positivo e já sentimos vontade de o atualizar. Queremos que o CEO Monitor sirva para promover maior consciência sobre o papel da presença digital na construção da reputação dos líderes”, confirma Marlene Gaspar.
Mais do que um retrato estático, o CEO Monitor propõe uma nova métrica de liderança, que mede não apenas o que os líderes fazem, mas o modo como comunicam, inspiram e influenciam. No século XXI, liderar é também comunicar e a influência é o novo indicador de valor.