Opinião

Ao “Made in Portugal” falta credibilidade digital

Francisca Oliveira

O setor têxtil português vive hoje um daqueles momentos em que o futuro se apresenta cheio de desafios, mas também de possibilidades extraordinárias. É um tempo de transformação que exige reflexão e posicionamento. Mais do que produzir para o mundo, somos chamados a pensar no papel que queremos ocupar nele — e no que significa, hoje, sermos uma indústria de referência.

Com uma tradição profundamente enraizada na fiação, tecelagem e desenvolvimento de tecidos de elevada qualidade, Portugal consolidou-se como um hub global capaz de unir legado, inovação e visão. Eu própria cresci dentro desta realidade — primeiro através dos meus avôs, depois do meu pai, e hoje dando os primeiros passos para eu própria assumir o compromisso de continuar a escrever esta história.

Se o nosso valor sempre se destacou pelo saber fazer e pela capacidade de fundir artesanato com tecnologia de ponta, a verdade é que o “Made in Portugal” precisa agora de ganhar uma nova força. Uma força que já não reside apenas na criação do tecido, mas também no domínio do algoritmo e do digital — na capacidade de mostrar ao mercado global, através das ferramentas digitais, que quem nos escolhe encontra um parceiro que produz com qualidade, inovação, transparência e a solidez de gerações de experiência.

A verdade é que, olhando para o mercado europeu, não encontro uma indústria como a nossa: inovadora, sustentável e circular. Uma indústria que aposta no desenvolvimento de produtos e materiais têxteis rastreáveis, de origem biológica, renovável e certificada, sem comprometer a performance. Fábricas modernas, tecnológicas, que investem na sustentabilidade dos seus processos e na descarbonização da sua atividade.

O digital assume, por isso, um papel determinante. É preciso reconstruir a narrativa “Made in Portugal” e o valor inestimável que ela representa. O preço nunca será o nosso diferencial; o que nos distingue é o serviço, o saber-fazer e a capacidade de criar valor genuíno.

Precisamos de contar ao mundo a nossa história, de partilhar o que sabemos e como transformamos materiais em propósito, produtos em experiências e fábricas em centros de inovação. É esta narrativa que cria credibilidade, inspira confiança e revela porque a indústria da moda encontra em Portugal um parceiro estratégico único.

Olhemos para o passado com orgulho, mas é tempo de construir uma imagem da nossa indústria que nos posicione não apenas como produtores, mas como uma referência global – sempre com a criatividade como motor de tudo o que faz.

Francisca Oliveira,
Business Development Manager da Riopele

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