Durante anos, fechei a sete chaves o meu passado, congelei memórias, segui, determinada, o meu caminho, com uma pergunta que sempre gritou no meu interior:
Quem és tu?
O medo da resposta, fez-me ser várias personagens ao longo da minha vida. É como se tivesse vivido a correr para me encontrar. Saltava de personagem em personagem, de história em história, à minha procura. Mas para contar tudo, desde o início, temos de puxar o tempo atrás. Há mais de 40 anos.
Cresci com uma mãe doente, que me repetia vezes sem conta, como se fosse possível esquecer: “eu vou morrer em breve, tu vais ficar sozinha e só podes contar contigo.”
Dizia-me mais, claro. Numa lucidez que me esmagava, sabia que eu ia conseguir. “Filha, tu consegues tudo aquilo que quiseres.”
Uma mãe doente, inteligente, de pulso firme, extremamente ciumenta e possessiva na relação que vivia comigo. Uma mãe que me condicionou a viver, com culpa, o amor mais bonito e verdadeiro entre mim e o meu pai.
Três meses após eu ter completado 20 anos, ela morre, vítima de um cancro de mama e deixa-me no chão.
Podia ter sido só isto, mas não.
Dezoito meses depois, morre o meu pai, vítima de um enfarte, súbito, do miocárdio.
Fiquei sozinha. Eu. 21 anos. Sozinha no mundo com uma responsabilidade que não acabava.
E agora? Lembro-me que foi a pergunta que me fiz, quando cheguei a casa e encontrei o meu pai sem vida, sem roupa, deitado na cama.
Gritei, gritei muito e até hoje nunca consegui chorar esse grito.
Sempre me senti mais madura do que a média das miúdas, mas a realidade é que, nessa época, havia uma metade de mim que se sentia sozinha, carente e com medo. Foi a outra metade, corajosa, forte e pragmática, que se sobrepôs e decidiu ir à luta.
“Foi a outra metade, corajosa, forte e pragmática, que se sobrepôs e decidiu ir à luta.”
Já tinha começado a trabalhar cedo no negócio da família, devido à doença da minha mãe, por isso, com a morte dos meus pais, assumi essa responsabilidade.
Já na época éramos cerca de 40 pessoas na clínica, entre médicos, enfermeiros e staff. Não tive sequer tempo de me questionar se era mesmo isto que queria para a minha vida. Se seria capaz de liderar tantas pessoas. Eu, tão jovem… mas foi tudo tão rápido. Fiz o melhor que sabia com as ferramentas que tinha na época. Parece um cliché, mas não é!
A vida é uma sucessão de acontecimentos, sem rede, em que somos convidados a escolher e a fazer o melhor que sabemos e podemos. E está tudo bem!
Quem é, afinal, Ana Gomes?
Normalmente começa-se pelo início mas eu gosto do final das histórias porque acredito em finais felizes e porque são sempre o começo de algo novo.
Sou Mulher de um homem especial. Quis a vida que fosse madrasta de quatro, ficando afinal com uma família grande, já adulta!
Sou empreendedora, adoro trabalhar e gerir pessoas. Lidero uma equipa de 80 seres especiais. Sou CEO da Remax ForEver, há quase 10 anos. Top três single office, em volume de negócios, há sete anos consecutivos, na rede Re/max, líder de mercado em Portugal.
Uma história comum de sucesso, resultado de muito trabalho, resiliência, persistência, constância e compromisso. Como todos sabemos, a sorte dá muito trabalho!
O que eu descobri nestes últimos anos da minha vida é que nós não somos o que fazemos, nem somos o contexto onde nascemos e crescemos, embora sejamos profundamente condicionados e influenciados pelo mesmo. Aquilo que nos define é bem maior e mais profundo do que isto.
Costumo dizer que todos nascemos com um superpoder, o da escolha. Eu escolhi vencer, erguer-me, seguir firme aos 21 anos, sem olhar para trás. Confiei em algo que não sabia bem o que era e que hoje chamo de fé. Não sou religiosa, mas sou uma mulher de fé. Acredito em mim própria, tenho consciência do meu valor, mereço ser feliz, ser amada, viver em paz e sei bem o que quero.
“Costumo dizer que todos nascemos com um superpoder, o da escolha.”
Tenho uma bagagem pesada que nunca me venceu. Para trás, e antes do meu casamento e da vida maravilhosa que tenho, deixei dois divórcios, tive quatro abortos que me abanaram a estrutura e me fizeram crescer no meu caminho.
Tanto que a vida me tem ensinado. No dia em que disse para mim, estou disponível para viver um grande amor, apareceu o meu marido. É preciso abrir espaço nas nossas vidas para deixar entrar o novo. Foi com o David que chegou o desafio para empreender numa nova área, o imobiliário. Parceiros na vida e nos negócios. 10 anos se passaram e tanto aconteceu.
No escritório criei, também, uma galeria de arte, onde vivo esta paixão de dar palco a quem merece. Trabalhar tudo isto, com o marido, é um enorme desafio mas é possível. Nós somos o exemplo disso.
Gerir um casamento, é como gerir uma empresa. Brinco e digo: “que pena, eu só ter entendido isso ao terceiro! E como o humor torna tudo mais leve.”
Nós fazemos tantos sacrifícios para fazer crescer o nosso negócio, fechamos os olhos a tantas coisas, investimos tanto tempo e dinheiro em ferramentas e formações de coaching, PNL, vendas, para sermos melhores profissionais, melhores pessoas, para acelerar os resultados. Contratamos especialistas para analisarem o negócio e nos ajudarem a desenvolver estratégias mais eficazes. Temos objetivos. Esforçamo-nos para os alcançar. Desenvolvemos competências técnicas e sociais para nos conectarmos, cada vez mais, com os nossos clientes. Por que razão não usamos o mesmo mindset para fazer dar certo o casamento que tanto desejámos? É tao simples. Dá trabalho? Muito. Vale a pena? Ó, se vale!
Tenho 46 anos e hoje sei que quando mudamos o nosso interior, tudo muda ao nosso redor. De todo o trabalho de expansão de consciência e de autoconhecimento que tenho feito, hoje posso afirmar, de um lugar de muita humildade e de verdade, que nós só podemos entregar aquilo que mais vibra em nós. Que eu só atraio para a minha vida aquilo que já abunda no meu interior. Como posso desejar ser amada se eu não me amar? Não há separação entre vida pessoal e profissional. Nós somos um todo.
A mulher que todos veem, empoderada, cheia de propósito, feliz, em paz e de sucesso é a minha melhor versão, hoje. Ser e fazer mais e melhor todos os dias, tornou-se o meu mantra de vida.
Sou apaixonada pelo que faço. A liderança é hoje o meu maior desafio e o meu caminho feliz. Aprendi com a vida que não existe verdadeira liderança sem auto liderança. O exemplo é, e será, a forma mais eficaz de liderar, em qualquer área de negócio. Quando nos conectamos com a nossa essência, vem o propósito, e com ele veio a missão de inspirar mulheres a liderarem de dentro para fora. Muitos projetos a caminho e a certeza de que o melhor estará sempre por vir.
Perguntam-me, várias vezes, quem é Ana Gomes e foram precisas mais de quatro décadas para encontrar a resposta.
Cá estou eu.
Sempre pronta a recomeçar e com uma vida tão boa e feliz! Na Índia, ouvi esta frase e guardo-a como uma mantra: “No fim, tudo fica bem. Se não está bem, é porque ainda não chegou ao fim.”
Se querem saber vamos mesmo sempre a tempo!
Não se atrevam a desistir!
Ana Gomes, CEO RE/MAX ForEver