Opinião

Além do negócio: como o empreendedorismo feminino está a redefinir o futuro

Maria Duarte Bello

Em tempos de mudanças económicas e sociais aceleradas, o empreendedorismo feminino assume uma posição central no futuro das economias. Não só é motor de crescimento e inovação, como também representa uma visão de negócios inclusiva, que valoriza o impacto social e as necessidades reais das comunidades. Mas que força impulsiona esta transformação? O que torna o empreendedorismo feminino tão essencial? É na resposta a estas questões que encontramos um olhar mais profundo sobre as contribuições únicas das mulheres para a economia e a sociedade. No entanto, a trajetória das empreendedoras ainda está longe de ser livre de obstáculos.

Num cenário global, negócios liderados por mulheres já representam uma parte significativa da economia, especialmente em setores inovadores e de alto impacto. Segundo vários estudos internacionais, as mulheres empreendedoras não só geram empregos, como também tendem a reinvestir no desenvolvimento local, criando redes que beneficiam as suas comunidades e que, ao mesmo tempo, fortalecem as bases económicas de um país. Este crescimento, porém, só pode atingir o seu verdadeiro potencial quando as mulheres têm acesso igualitário a recursos, como financiamento e redes de apoio, e contam com um ambiente que incentiva as suas ideias e o seu valor. O empreendedorismo feminino não é apenas uma tendência económica, é uma abordagem única e necessária para a construção de uma economia mais diversa e inclusiva.

No entanto, a realidade prática para muitas mulheres empreendedoras revela desafios profundos e, por vezes, invisíveis. Um dos maiores entraves é o acesso ao financiamento, uma questão complexa que limita significativamente o crescimento de muitas empresas. De acordo com alguns estudos, menos de 3% do capital de risco global é direcionado para negócios liderados por mulheres, o que coloca as empreendedoras numa posição de desvantagem competitiva, mesmo quando os seus projetos são inovadores e economicamente promissores. Acrescente-se a isto a ausência de representação em redes de mentoria e investimento, onde contactos masculinos predominam e, muitas vezes, monopolizam o acesso a oportunidades essenciais para a expansão de qualquer negócio.

Para além do financiamento, as mulheres enfrentam também barreiras culturais que tornam a conciliação entre a vida pessoal e profissional um desafio diário. Apesar das novas dinâmicas de trabalho e da crescente atenção à igualdade de género, as expectativas sociais continuam a atribuir à mulher um papel de cuidadora, criando pressões invisíveis e desiguais que limitam o tempo e os recursos que podem dedicar aos seus negócios. Esta realidade evidencia a necessidade de um ecossistema de apoio estruturado e sensível aos desafios específicos que as mulheres enfrentam no mundo dos negócios.

É neste ponto que entram as políticas públicas e os programas de incentivo. Em vários países, governos e organizações já estão a implementar medidas para promover o empreendedorismo feminino, desde linhas de crédito exclusivas a programas de mentoria focados nas necessidades das empreendedoras. Estas iniciativas são cruciais não só para ajudar mulheres a lançar e expandir negócios, como também para criar uma cultura empresarial que reconhece e valoriza o potencial feminino. Em Portugal, o impacto destas políticas pode significar uma nova era para o empreendedorismo feminino, mas é fundamental que o setor privado também desempenhe o seu papel.

A colaboração entre políticas públicas e o setor empresarial é essencial para transformar o ecossistema de negócios. Ao promover redes de apoio e programas de formação específicos para mulheres, grandes empresas podem inspirar uma nova geração de empreendedoras e ajudar a cimentar a diversidade e inclusão como pilares de uma economia moderna. Por outro lado, o compromisso das organizações em construir equipas de gestão diversificadas e apoiar a liderança feminina pode servir de exemplo e fortalecer as bases de uma cultura inclusiva que beneficia tanto homens como mulheres.

À medida que reconhecemos o valor do empreendedorismo feminino, damos um passo concreto rumo a uma economia mais equilibrada e sustentável. As mulheres que lideram empresas são, em muitos sentidos, agentes de mudança, promovendo uma nova visão de negócios que valoriza a colaboração e a resiliência. Apoiar o empreendedorismo feminino é, portanto, mais do que uma questão de igualdade: é uma estratégia inteligente para uma economia que preza pela inovação e pelo crescimento sustentável.

Se queremos ver mais mulheres a liderar e a moldar o futuro do mercado de trabalho, precisamos de uma base sólida de apoio que valorize o talento feminino e abra caminhos para que ideias transformadoras se tornem negócios de sucesso.

 

Maria Duarte Bello,
CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem, Coach PCC & Mentor Senior

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