Quais os trunfos que contribuíram para que a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) tivesse sido escolhida pelo Afreximbank para esta parceria a pensar na indústria têxtil e criativa?
A ANJE tem um histórico de business development e um ativo essencial que é o trabalho feito com o Portugal Fashion. Uma marca de reconhecido prestígio e que tem reunido ao longo da sua existência talento na área da moda, sendo atualmente uma conceituada montra nacional e internacional. Em 26 anos, o projeto afirmou-se como um dos maiores eventos de moda da Península Ibérica. Foi responsável pela descoberta de novos valores, pela constituição de parcerias entre a produção e a criação, bem como pela crescente notoriedade da moda portuguesa nas passerelles nacionais e internacionais. Este terá sem dúvida sido um dos trunfos que contribuíram para a concretização desta parceria. Mas como eu tenho defendido, apesar deste ser o nosso projeto âncora, e de enorme importância para a ANJE, somos muito mais do que isso. Promovemos a indústria portuguesa e estamos ao mesmo tempo a dar novas oportunidades de negócio aos nossos associados.
Neste âmbito, como é que a ANJE irá impulsionar este segmento da indústria africana de vestuário e têxtil em Portugal?
Desde logo pelo contacto imediato com esta montra que é o Portugal Fashion, aqui podem surgir parcerias, entre criadores, indústria, retalhistas, fabricantes e outros stakeholders do setor. Uma das grandes vantagens competitivas e mais atrativas da ANJE é o acesso aos empresários nacionais, às manufaturas, essa é a nossa grande mais-valia neste projeto. Por outro lado, a indústria têxtil portuguesa também beneficia, porque tem contacto com novos designers, com novas valências.
Quais os critérios para a escolha dos designers que irão participar nas edições do Portugal Fashion?
Os critérios de escolha dos 40 designers a participarem nas edições do Portugal Fashion foram definidos pelo Grupo Lulubell, com larga experiência no sector. Foram definidos com base na qualidade do seu trabalho e o potencial de produção e industrialização do mesmo. No âmbito do acordo, a ANJE, através do Portugal Fashion, vai disponibilizar aos designers africanos plataformas de apresentação, facilitar o seu acesso a mercados internacionais e reforçar o seu potencial através de orientação empresarial e assistência técnica na produção de vestuário. O Afreximbank e a ANJE pretendem atrair mais oportunidades de investimento para o sector, enquanto desenvolvem as competências técnicas dos players africanos da indústria e melhoram as capacidades de manufatura e produção em África.
Com base nesta parceria, já estão a receber feedback de potenciais interessados em receber este tipo de vestuário?
O interesse existe, há um enorme potencial da indústria criativa e cultural em África. O que é necessário é haver investimento e plataformas de apresentação que facilite o seu acesso aos mercados internacionais. Além disso, esta parceria será certamente um incentivo para o reforço das exportações neste setor, uma vez que vai facilitar o acesso de empresas portuguesas nas áreas da moda e do design que pretendam investir em África. A ANJE e o Afreximbank estabeleceram uma parceria nesse sentido, com o intuito de aconselhar e apoiar as empresas portuguesas e europeias que pretendam investir em África.
As duas entidades assinaram o protocolo para aconselhar e apoiar as empresas portuguesas e europeias que pretendam investir em África, com a ANJE a atuar como balcão único das duas instituições. Em termos práticos como é que este protocolo irá ser implementado?
Uma das necessidades identificadas pelo Afreximbank e que levaram ao surgimento desta parceria é falta de manufatura em África. O papel da ANJE aqui é o de facilitar esse contacto, de estabelecer pontes e promover parcerias. Nesse sentido, estamos à procura de parceiros específicos para atender à demanda dos designers africanos. A ANJE vai ainda funcionar como balcão único, sendo por isso parceiro preferencial para montar este plano de negócio e ajudar esta empresa. Ao Afreximbank cabe-lhe o papel de decidir se financia ou não. A decisão é sempre do banco, nós estamos aqui para o ajudar a fazer a seleção. Seremos o balcão único em Portugal para apoiar as empresas portuguesas que queiram ir para África.
Nesta fase, há indicadores que mostram o potencial da indústria em África?
É uma indústria com enorme talento e potencial criativo, muito dele ainda por explorar. O maior indicador que podemos ter é o facto de chegarem com a chancela do Afreximbank, uma instituição que merece o nosso maior respeito, e ainda por estarem suportados pelo Canex, um fundo de apoio à indústria criativa (no valor de 500 milhões de dólares) o que nos dá outro apport a todo o projeto, cujo objetivo é facilitar o investimento nos sectores criativo e cultural em África.
Além da parceria com o Afreximbank, quais os projetos que a ANJE tem no terreno que abrangem África e sobretudo a parte lusófona?
Temos dois projetos vocacionados para a internacionalização de empresas. O ‘Get Out’, que é um programa de apoio à internacionalização empresarial e que procura dinamizar negócios internacionais, impulsionar as nossas exportações e promover o networking entre empresários portugueses e estrangeiros. Nos últimos anos, desenvolvemos missões em inúmeras geografias e estivemos em países africanos como Angola e Moçambique, e um dos nossos objetivos é chegar a outros mercados como o de Cabo Verde. Existe depois um outro projeto, o ‘Think Global’ dedicado a PME’s e start-ups com o propósito de esclarecer os jovens empresários e dar-lhes o know-how necessários, as ferramentas e os contactos certos para entrar noutros mercados. Este projeto foi pensado para a globalidade das geografias, abarcando necessariamente os países africanos, que acreditamos têm um enorme potencial económico e uma forte relação histórica a Portugal.
Os membros da CPLP estão a apostar na implementação do pilar económico na organização. Acredita que existe este potencial económico dos países que fazem parte da lusofonia?
A lusofonia é um mercado gigante, representa em África um mercado de 281,4 milhões de pessoas e Portugal pode explorar muito mais do que explora atualmente. As exportações portuguesas para os países da CPLP têm um peso muito inferior na balança comercial do que as realizadas para Espanha, um mercado muito mais pequeno. Para a CPLP exportamos 2.233 milhões e para Espanha 13.679,2 milhões. Há muito por fazer.