A. Silva Matos Metalomecânica: “A ambição é continuar a crescer diversificando mercados e segmentos de atuação”

A A. Silva Matos Metalomecânica conta com 45 anos no mercado, mas nem por isso deixou de se modernizar. A aposta na inovação, investigação e desenvolvimento são pilares que ajudam a manter-se no campeonato dos grandes players da indústria e a conquistar cada vez mais mercado internacional. Em entrevista à Forbes Portugal, a presidente do…
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Com 45 anos no mercado, a A. Silva Matos Metalomecânica está empenhada em manter o crescimento sustentável. Cláudia Matos Pinheiro, presidente da empresa, revela que a estratégia passa pela inovação, diversificação de mercados e segmentos de atuação.
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A A. Silva Matos Metalomecânica conta com 45 anos no mercado, mas nem por isso deixou de se modernizar. A aposta na inovação, investigação e desenvolvimento são pilares que ajudam a manter-se no campeonato dos grandes players da indústria e a conquistar cada vez mais mercado internacional. Em entrevista à Forbes Portugal, a presidente do conselho de administração da A. Silva Matos Metalomecânica, Cláudia Matos Pinheiro, explica como a empresa tem mantido o crescimento sustentável desde a sua fundação, em 1980, em Sever de Vouga, pela mão de Adelino da Silva Matos. A presidente do grupo salienta que hoje exporta cerca de 82% dos 13 milhões de euros de volume de negócios estando presentes em cerca de 70 países

Sobre os valores herdados do pai e fundador realça que continuam a ser a base da empresa hoje, lembrando o impacto que teve não só em Sever de Vouga, vila do distrito de Aveiro, mas também na economia nacional, criando centenas de postos de trabalho. Garante que o legado assente numa visão, capacidade de trabalho e valores ímpares continuam no ADN do grupo que lidera.

Atuando num setor dominado pela liderança no masculino, Cláudia Matos Pinheiro admite que, no início, foi desafiante conseguir conquistar credibilidade num ambiente onde, durante muito tempo, não se esperava ver mulheres em posições de liderança. Mas esta desigualdade apenas reforçou a determinação em mostrar resultados e liderar pelo exemplo. E encarou essa realidade não como um obstáculo, mas como uma oportunidade.

A A. Silva Matos Metalomecânica celebrou recentemente 45 anos de atividade. Como descreve o percurso da empresa desde a fundação pelo seu pai até ao presente?

Desde a nossa fundação, em 1980, o nosso percurso tem sido pautado por um constante crescimento sustentado e uma elevada estabilidade, mesmo em períodos de maior incerteza, seja ela económica, política ou até sanitária. Tal permite-nos afirmar, com orgulho, que somos hoje um dos principais operadores da indústria metalomecânica em Portugal, mantendo igualmente uma forte relevância a nível internacional, que é onde estão os nossos principais clientes. Fruto deste crescimento sustentado nas últimas décadas, e no contexto da diversificação de áreas de negócio e da transição para a segunda geração, inaugurámos em 2015 a nossa segunda unidade industrial, em Aveiro, mantendo a nossa sede na unidade industrial de Sever do Vouga. Tal investimento permitiu-nos que, nos últimos dez anos, aumentássemos significativamente a nossa capacidade produtiva, assim como a eficiência dos nossos processos através de equipamentos tecnologicamente mais evoluídos.

Que valores herdados do fundador Adelino da Silva Matos continuam a ser a base da empresa hoje?

Estamos a falar de alguém que foi um grande empreendedor e que trabalhou de forma incansável em prol do nosso concelho e da indústria metalomecânica. Teve um impacto inestimável não só em Sever de Vouga, mas também na economia nacional, criando centenas de postos de trabalho. A sua história – assente numa visão, capacidade de trabalho e valores ímpares – perpetua-se até hoje e inspira o presente e futuro da nossa empresa. É, sem dúvida, um legado que permanece no nosso ADN e que incentiva um caminho de sucesso, assente em pilares de elevada qualidade, serviço ao cliente, inovação e respeito por todos os stakeholders.

Como se mantém uma empresa com 45 anos moderna, inovadora e relevante num mercado tão competitivo e globalizado?

É sem dúvida um desafio que requer não só uma sólida visão estratégica, como também uma elevada capacidade de adaptação. No setor metalomecânico, isso passa por investir na modernização dos processos, na digitalização e na qualificação contínua das equipas, promovendo uma cultura de melhoria constante e de inovação prática, com foco na eficiência e na sustentabilidade. Além da tecnologia, a inovação nasce também da proximidade com o mercado. Termos a capacidade e disponibilidade para ouvir clientes e parceiros, aliada à agilidade na resposta às novas exigências, tem-nos permitido antecipar tendências e ameaças, diversificar e manter a competitividade. Isto sempre com os mesmos valores de rigor, responsabilidade e compromisso com a excelência que marcam a nossa história.

Qual é a sua visão para os próximos 10 anos da A. Silva Matos Metalomecânica?

O passado inspira o nosso presente, o que por sua vez ajuda a construir o futuro da empresa. Dito isto, queremos consolidar a posição da empresa como uma referência no setor metalomecânico a nível nacional e internacional, reforçando a aposta na inovação tecnológica, na maior eficiência de processos e na valorização do talento. Temos a ambição de continuar a crescer de forma estratégica, diversificando mercados e segmentos de atuação. Continuaremos a investir em parcerias sólidas, em equipas altamente qualificadas e na digitalização dos nossos processos, assegurando que a empresa se mantém competitiva, resiliente e preparada para os constantes desafios da indústria.

Como tem evoluído o desempenho financeiro da empresa?

A nossa filosofia ao longos dos anos sempre foi privilegiar a sustentabilidade em prol de crescimento sem suporte. Somos muito defensores de small is beautiful em paralelo com a ambição de continuamente desafiar a nossa equipa. Nesse sentido, fechamos o ano de 2024 com um volume de negócios de 13 milhões de euros dos quais exportámos 82%, estando presentes em cerca de 70 países.

Que fatores considera essenciais para o sucesso internacional da A. Silva Matos Metalomecânica?

Houve desde sempre uma aposta contínua na qualidade, inovação e diversificação dos nossos produtos, algo que considero fundamental na consolidação e competitividade da nossa empresa. É igualmente crucial conseguirmos ter a capacidade de adaptação às necessidades específicas de cada mercado, com uma abordagem próxima dos clientes e soluções personalizadas. Tudo isto tornou-se possível com uma visão estratégica de longo prazo, que nos levou a investir desde cedo na internacionalização, como eixo central do crescimento da empresa. Hoje, conseguimos manter essa competitividade internacional graças a uma equipa altamente dedicada e uma gestão bastante cuidada, com análise permanente a dezenas de fatores.

Qual o peso do mercado externo nas vendas e até onde pode vir a crescer?

A nossa capacidade de exportação face ao volume de negócios é de cerca de 80% e é um fator fundamental ao crescimento da empresa. A diversidade de mercados e produtos tem um peso muito relevante nesta gestão, porque determina um esforço adicional na sua prossecução, mas também defende das oscilações naturais dos mercados. Importa também referir que, nos últimos anos, temos dedicado especial atenção à área de Investigação & Desenvolvimento (I&D), apostando no desenvolvimento de novos produtos, sobretudo ligados à economia do mar. Acreditamos que, no futuro, uma significativa parte do volume de negócios estará associada a essa área.

Em 2024 a empresa colaborou com o CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear), produzindo quatro reservatórios para armazenamento de hélio num projeto de 1,5 milhões de euros. Como foi participar num desafio desta dimensão e o que trouxe à empresa?

Na verdade, foi a segunda vez que cooperámos com o CERN, o que representa um reforço de confiança na qualidade do nosso trabalho. O CERN é o maior laboratório de física de partículas do mundo e este projeto destinou-se a melhorar o desempenho do Large Hadron Collider (LHC) e contribuir assim para o contínuo progresso científico. Participar em projetos desta relevância, junto de referências mundiais, é algo que nos eleva enquanto player internacional no setor e atesta a capacidade da nossa equipa e dos nossos produtos. Como tal, ficamos bastante orgulhosos quando estas oportunidades surgem e seguros de que outras surgirão. Aliás, na nossa história temos vários projetos de ligação a entidades do sistema científico internacional, o que muito nos orgulha, pois leva o nome A. Silva Matos e o de Portugal além-fronteiras.

A aposta da A. Silva Matos Metalomecânica na investigação, ciência e I&D no seu modelo de negócio já está a dar frutos….

A inovação é uma peça fundamental, quer como ferramenta de motivação e criatividade da equipa, quer como potenciador do sucesso do negócio. É algo que está presente no ADN da nossa empresa e tem sido reconhecido por várias entidades. Em 2021, por exemplo, o esforço desenvolvido nesta área foi atestado pela Agência Nacional de Inovação através do reconhecimento de idoneidade à nossa empresa para a prática de atividades de I&D no domínio de atuação da economia do mar. Na ligação aos oceanos podemos destacar dois nossos projetos emblemáticos: o HiperSea [infraestrutura móvel hiperbárica] e o Turtle [veículo submersível], onde desenvolvemos equipamentos que permitiram aprofundar o (pouco) conhecimento sobre a biologia do mar profundo. É uma área em crescendo, de interesse geral e que sem dúvida continuará a fazer parte da nossa esfera de atuação.

A metalomecânica é um setor com forte impacto ambiental. Que medidas e investimentos têm feito para tornar a operação mais sustentável e alinhada com as exigências atuais?

A A. Silva Matos Metalomecânica tem, desde 1990, a certificação ISO 9001, que atesta o nosso sistema de gestão da qualidade (SGQ), tendo sido a 10.ª empresa portuguesa a obter tal distinção e a primeira na área da metalomecânica. Paralelamente, começámos a desenvolver ferramentas direcionadas para a proteção do ambiente e segurança no trabalho na década de 90, quando estes temas pouco se discutiam, formalizando a sua certificação pelas normas ISO 14000 e OSHAS 18000, em 2005. Estes indicadores atestam que a sustentabilidade em todos os seus domínios é um tema intrínseco à nossa filosofia de atuação como empresa, como equipa e como pessoas que pretendem ser um agente ativo na proteção ambiental, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela Organização das Nações Unidas. Esta filosofia de gestão é também um elemento responsabilizador na direção da melhoria continua, com investimento constante de maximização da sustentabilidade.

A indústria metalomecânica é tradicionalmente um setor dominado por homens. Quais foram os maiores desafios e oportunidades pelo facto de ser uma mulher a liderar uma das maiores empresas portuguesas do setor?

É verdade que a indústria metalomecânica tem sido, historicamente, um setor tipicamente masculino. E inicialmente foi algo desafiante conseguir conquistar credibilidade num ambiente onde, durante muito tempo, não se esperava ver mulheres em posições de liderança. Mas isso apenas reforçou a minha determinação em mostrar resultados e liderar pelo exemplo. Encarei sempre essa realidade não como um obstáculo, mas como uma oportunidade. E hoje sinto que sou parte de uma transformação positiva, verificando-se cada vez mais uma maior representatividade feminina no setor.

Acredita que é uma líder diferente por ser mulher? Existe uma liderança masculina e uma liderança feminina?

Acredito que cada pessoa lidera de forma diferente, independentemente do género. O estilo de liderança resulta mais da personalidade, experiência e contexto do que de ser homem ou mulher. Para mim, o mais importante é liderar com clareza, respeito pelas pessoas e foco nos resultados.

Por ser mulher, sente que fez mais cedências na componente pessoal para poder crescer em termos profissionais?

A conciliação entre a vida pessoal e profissional é um desafio comum a muitos líderes, independentemente do género. Essa é, aliás, uma preocupação que temos na empresa, transversal a toda a equipa – procuramos promover um forte equilíbrio entre o bem-estar profissional e o pessoal. No meu caso, claro que houve momentos em que as escolhas não foram as mais fáceis, mas isso faz parte de qualquer percurso exigente. Não sinto que tenha feito mais ou menos cedências por ser mulher, mas sim as que foram necessárias para alcançar os objetivos que defini.

Quais as máximas que adota na sua forma de liderar equipas?

Pessoalmente, acredito que a definição de objetivos e a criação de ferramentas técnicas e de qualificação para o seu alcance, responsabiliza as equipas e motiva a sua independência e crescimento. E, novamente, procuro igualmente ter um modelo de gestão que proporcione às equipas um forte equilíbrio entre o bem-estar profissional e o pessoal, acreditando que só assim é possível contribuir para a saudável evolução das organizações.

A diversidade de género pode ser uma vantagem competitiva também nesta indústria?

A diversidade de género, tal como outras formas de diversidade, traz diferentes perspetivas, formas de pensar e abordar problemas. Num setor como o da metalomecânica, tradicionalmente mais homogéneo, essa diversidade pode ser uma verdadeira vantagem competitiva, na medida em que estimula a inovação, melhora a tomada de decisão e torna as equipas mais adaptáveis aos desafios do mercado. Acredito que empresas mais diversas tendem a ser mais completas, mais criativas e, em muitos casos, mais eficazes, estando assim mais preparadas para os desafios.

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