Assumiu recentemente a liderança da BI4ALL. Com uma carreira internacional, e depois de trabalhar em multinacionais como a Jonhson & Jonhson, que aprendizagens considera mais marcantes no seu percurso profissional?
Grande parte da minha carreira é baseada na minha experiência internacional na Johnson & Johnson, onde trabalhei 25 anos, 23 deles fora de Portugal. Durante a minha vida profissional, tive oportunidade de mudar de continente quatro vezes, o que teve impacto a nível pessoal e profissional. A minha experiência internacional iniciou-se em 1999 com a mudança para Espanha, e com o começo das minhas responsabilidades regionais. Desde essa altura, tive a oportunidade de trabalhar e viver em diferentes lugares do mundo, na Europa e nos EUA, sendo que nos últimos sete anos vivia e trabalhava na sede da Johnson & Johnson nos Estados Unidos.
Acredito que a maior aprendizagem é ter aprendido a valorizar a diversidade, que advém da oportunidade que tive em trabalhar com várias culturas diferentes, e em diferentes lugares do mundo. A diversidade é maravilhosa e a capacidade de adaptarmos os nossos pensamentos ao ambiente em que estamos envolvidos, absorver novas ideias, novas culturas, novas formas de olhar para certos desafios, é uma excelente ferramenta para sermos bem-sucedidos.
O meu crescimento pessoal e profissional veio, sem dúvida, da oportunidade de estar fora da minha zona de conforto e da necessidade de ir buscar novas ferramentas para fazer frente aos desafios que me foram colocados ao longo desta caminhada. O crescimento surge quando estamos fora da nossa zona de conforto, e isso é algo que eu procuro proativamente e ativamente.
Como define a sua forma de liderança? Que marca gostaria de deixar no mundo empresarial?
Eu sou um grande defensor de servant leadership e reverse mentoring. Servant leadership porque a primeira função de um líder é servir, e dar condições para os elementos da sua equipa conseguirem atingir o seu máximo potencial. Ao ajudar a minha equipa a atingir os seus respetivos objetivos, eu acabo por também conseguir atingir os objetivos globais da minha organização. Reverse Mentoring porque acredito que aprendo muito com a nova geração de talento que está a entrar no mercado de trabalho, que vem com novas expetativas, e são nativos digitais. Ao mesmo tempo, também sei que tenho algo a oferecer quando partilho as minhas experiências adquiridas ao longo de mais de 30 anos de trabalho. Recordo uma frase do CIO da Johnson & Johnson que tento aplicar e passar para quem me rodeia: “Nunca somos demasiado novos para liderar, nunca somos demasiado velhos para aprender”.
“Gostaria de salientar o nível fantástico de inovação que se observa em Portugal. Quem vem de fora tem uma perspectiva muito mais otimista do que quem está cá dentro”.
Que cunho pessoal pretende imprimir na BI4ALL? Que mudanças, ao nível da liderança, se vão fazer sentir?
A transformação digital exige, além de novas competências, novas ideias e uma nova cultura empresarial. O paradigma mudou e o que funcionou no passado já não funciona no presente, e ainda menos irá funcionar no futuro. Gosto de respeitar o passado, perceber o presente, e preparamo-nos para o futuro. Cheguei para ajudar a BI4ALL a internacionalizar-se e tornar-se uma referência na área de Data, Analytics & AI a nível global. Com 18 anos de história, a BI4ALL conta com um vários projetos bem sucedidos junto de organizações que atuam nos mais diversos setores, ajudando as organização a tornar dados em conhecimento. Mas a verdade é que Portugal é um mercado pequeno e, portanto, a nossa estratégia de crescimento é hoje focada na internacionalização da empresa. Começamos com a abertura de um escritório na Suíça, no final do ano passado, capitalizando nos bons clientes que já temos nesse mercado, e com um foco de grande crescimento nessa região. De salientar que, atualmente, o mercado internacional representa mais de 57% da faturação da BI4ALL. Para os próximos três anos, pretendemos reforçar a nossa estratégia de crescimento e estamos atentos a oportunidades no mercado global. Para acompanhar o nosso crescimento, vamos continuar a apostar em novas contratações, a nível nacional e internacional. Neste momento, a BI4ALL tem mais de 400 colaboradores, sendo um objetivo da empresa a criação de delivery centers adicionais em zonas estratégicas do globo para poder responder ao nosso crescimento internacional.
O que faz concretamente a BI4ALL e qual a sua dimensão no mercado?
Fundada em 2004, a BI4ALL é uma empresa portuguesa de referência em serviços de consultoria com competências de excelência em Transformação Digital e Data Strategy, com foco em Analytics, Artificial Intelligence, Big Data, Corporate Performance Management e Software Engineering. O nosso foco é o sucesso dos nossos clientes e partilhamos com eles um conhecimento de excelência quer na componente tecnológica, quer na componente de negócio permitindo que as organizações tenham vantagens competitivas ao transformarem os seus dados em insights.
Atualmente, o mercado internacional representa mais de metade da faturação da BI4ALL, sendo que nos próximos cinco anos esperamos chegar aos 85% ou 90%. Os setores que mais têm contribuído para o negócio da BI4ALL são o farmacêutico, seguido do setor bancário, a que seguem os setores da energia, transportes e seguros.
“Atualmente há uma explosão de dados gerados que estão disponíveis para todas as organizações.”
Qual é o impacto que empresas de análise de dados, como a vossa, tem no crescimento de outras empresas? O mercado está preparado para esta transformação digital, de transformar dados em conhecimento?
Num mundo que está em grande mudança, e com grandes incertezas a nível de futuro, as organizações precisam de novas fontes de conhecimento e de informação adicional para as ajudar a serem bem sucedidas num ambiente que está em transformação e evolução acelerado.
Se, por um lado, há organizações que já nasceram na era digital e estão a tirar partido disso para poderem criar novos modelos de negócio, e criarem novas oportunidades para serem disruptivas, por outro há organizações que são de base analógicas, mas que estão a ver como dados, tecnologia e o mundo digital podem completar a sua oferta de produtos e serviços mais tradicionais com ofertas digitais. Atualmente há uma explosão de dados gerados que estão disponíveis para todas as organizações. Se aliarmos estes dados gerados todos os dias, um grande acréscimo de capacidade computacional, e soluções de analytics e AI disruptivas e inovadoras, abre-se um novo mundo de conhecimento que traz competitividade, flexibilidade e rentabilidade às organizações. O mercado está claramente preparado e necessitado para tirar partido de todos os novos dados que estão agora disponíveis. Mas obriga as organizações a pensar em data strategy, data governance, e criar as condições, quer tecnológicas, quer de negócio, para alavancar as novas oportunidades que estão agora ao seu alcance.
Estando a BI4ALL em expansão e a apostar na sua internacionalização, qual é a vossa estratégia para o crescimento?
Após a abertura do primeiro escritório internacional, em 2022, na Suíça, a nossa estratégia para os próximos anos passa pela criação de novos escritórios internacionais em locais estratégicos para o nosso negócio, como a criação de delivery centers adicionais em zonas estratégicas do mundo. A nossa expansão está baseada em dois eixos: a expansão comercial, com a abertura de novos escritórios, como foi o caso da Suíça, e a criação de novos polos de talento disponível para suportar o nosso crescimento através da criação de novos delivery centers. Europa de Leste, Países Bálticos, América do Sul, são hipóteses que estamos a estudar ativamente.
“A nossa expansão está baseada em dois eixos: a expansão comercial e e a criação de novos polos de talento disponível”.
Quais são os vossos objetivos a médio e longo prazo? Até onde pretendem levar a empresa?
Nos próximos anos, queremos continuar a crescer internacionalmente com o objetivo de tornar a BI4ALL numa empresa global e uma referência na área de Data, Analytics e Inteligência Artificial, à semelhança do que já acontece em Portugal. Por outro lado, queremos preservar sempre o nosso ADN muito centrado nas pessoas. Como parte do nosso crescimento, vamos continuar a apostar no desenvolvimento das competências dos nossos colaboradores. O nosso talento consegue competir com qualquer organização a nível global, e sabendo que temos um desafio grande pela frente, a nossa viagem de internacionalização vai ajudar a proporcionar ainda melhores condições para as nossas pessoas evoluírem a nível pessoal e profissional.
Como vê o futuro da Inteligência Artificial e da machine learning, e o que pensa em relação às preocupações que têm vindo recentemente a público, sobretudo com o lançamento do ChatGPT?
Os dados gerados e disponíveis atualmente e as ferramentas como o ChatGPT trazem novas oportunidades e desafios à sociedade. Ferramentas de IA e machine learning trazem para dentro das organizações um novo conhecimento que não tínhamos antes e que tem um impacto real na forma de fazer negócios. Existe hoje um triângulo proporcionado por um aumento exponencial de dados disponíveis, capacidade computacional e tecnologia disponível, que permite acelerar execução de novas soluções e novos modelos e algoritmos, AI e machine learning, e que, todos em conjunto, estão agora a dar novos insights para ajudar com a estratégia das empresas e permitir tomada de decisões de forma mais rápida e eficiente, assim como criarem novas oportunidades de negócio.
Mas se a tecnologia que temos agora acesso traz imensas oportunidades, traz também responsabilidades adicionais e devemos ter um olhar atento para os aspetos éticos. Temos de garantir que fazemos um bom uso da tecnologia. Só porque a tecnologia permite fazer algo, não quer dizer necessariamente que deveremos fazer. Vejo com muito bons olhos como algumas organizações já estão a olhar para a criação de comissões éticas dentro das organizações para olhar para o que a AI, a machine learning estão a fazer e como se podem precaver antecipadamente de consequências não intencionais.
“Ferramentas de IA e machine learning trazem para dentro das organizações um novo conhecimento que não tínhamos antes e que tem um impacto real na forma de fazer negócios.”
Como vê o futuro do mercado dos dados em Portugal e no mundo? Está Portugal a «apanhar o comboio» desta nova era?
Portugal está na sua curva de transformação digital, e como em outros países, temos áreas que a nossa inovação é incrível, e outras que ainda precisam de muito trabalho pela frente. Mas gostaria de salientar o nível fantástico de inovação que se observa em Portugal. Quem vem de fora tem uma perspetiva muito mais otimista do que quem está cá dentro, porque consegue comparar com o que se passa noutros países, supostamente mais desenvolvidos nesta área que Portugal, e verificar que nem sempre isso é verdade.
Tenho a clareza e a humildade de perceber que o mundo está a evoluir rapidamente, como nunca antes aconteceu, e o que funcionou no passado não é necessariamente o que vai funcionar no futuro. Mas também vejo que Portugal a nível de tecnologia está bem posicionado. Estamos a ser mais e mais considerados como o “Silicon Valley” da Europa, e há um reconhecimento global sobre o número de unicórnios que estão a ser criados a partir de Portugal. No que toca a utilização de dados para uma melhor tomada de decisão, os desafios portugueses não são diferentes do que vemos noutros lados do mundo. Há que olhar para os dados como um ativo da companhia, com uma estratégia para a sua criação e utilização, e como preparar este triângulo de dados, tecnologia e AI, para providenciar novas fontes de conhecimento com o intuito de ajudar com as decisões necessárias para as nossas organizações poderem alcançar os seus objetivos. Estou muito otimista com o nosso futuro, e venha esse desafio que temos pela frente.