Peter Mandelson, chairman do Global Counsel e um dos mais influentes políticos do Partido Trabalhista inglês, fez uma intervenção por vídeo na abertura do evento Forbes Annual Summit 2023, referindo que uma das suas maiores preocupações do momento, para a Europa, é a questão do crescimento. “Os governos estão extremamente endividados e os cidadãos não estão preparados para pagar mais impostos. Ou seja, não há dinheiro. Onde é que isto nos leva? Ao crescimento. Se falhamos no crescimento, falhamos em tudo”, alerta o especialista.
Refere ainda que precisamos fazer melhor do que no passado e precisamos fazer melhor em comparação com a concorrência internacional. “Estamos a competir com a sua elevada capacidade de investimento, produtividade e crescimento económico. E porquê que é que este crescimento é tão importante? Porque para onde quer que olhemos há enormes pressões do lado da despesa, seja na defesa ou nas questões geopolíticas. A nossa população está a ficar mais velha e vamos precisar de mais capacidade para investir na saúde, para pagar a transição verde. A Europa paga pelo alargamento a leste, e está a lidar com as questões de imigração vinda do sul”, afirma.
“É urgente reiniciar o projeto de crescimento na Europa e para isto os negócios e as empresas precisam falar mais alto, ter voz”, refere Peter
Para isto tudo é necessário dinheiro, que não existe sem crescimento económico. “Não há escolha entre estabilidade e crescimento, pois sem crescimento há instabilidade financeira, social e política, e isto será inibidor do investimento, logo invalida o crescimento futuro”, explica. Para Mandelson, é urgente reiniciar o projeto de crescimento na Europa, e para isto os negócios e as empresas precisam falar mais alto, ter voz. Afirma ainda que é fundamental que a próxima Comissão Europeia, que se inicia funções no próximo ano, ponha o crescimento e a competitividade no centro de tudo. “No próximo ano vamos ter a publicação do relatório da competitividade europeia de Mario Draghi e espero que isto motive o início do debate sobre as reformas que precisamos ter”, alerta a propósito desta questão.
Aversão ao risco torna sociedades rígidas e não há crescimento
“Passaram 15 anos sobre a crise bancária e isso tornou-nos avessos ao risco, e demasiadas vezes os reguladores refletem esta aversão que julgam ser a expectável. Sei que neste mundo incerto é um instinto compreensível proteger as pessoas, e partilho dessa visão, mas esta proteção pode gerar rigidez na sociedade e nos mercados, gerando níveis excessivos de ansiedade”, explica Peter Mandelson. Acrescenta mesmo que nunca seremos bem sucedidos a construir uma sociedade e uma economia que não queira correr riscos, pois isto não funciona.
O político inglês assume ainda que há inúmeras preocupações no mundo de hoje, como o que resultará das eleições do Estados Unido, pois “sei que os regimes autoritários não liberais vão festejar se Donald Trump ganhar, e isso preocupa-me”. Refere que as pessoas estão preocupadas, mas que continua otimista. “Quando olho para os avanços, da medicina e das ciências da vida, sinto-me otimista. Quando penso na forma como o comércio global está a tirar centenas de milhares de pessoas da pobreza, fico otimista. Acredito que o papel dos negócios e das empresas deve estar mais vocacionado para o sistema internacional do comércio, que é o que traz mais prosperidade. Quando penso que a tecnologia e a Inteligência Artificial está a mudar as várias indústrias e facilitou o desenvolvimento de mais negócios e economias e pessoas a prosperar, estou otimista. Quando penso na forma como a europa se uniu na resposta à invasão da Ucrânia, estou otimista”, refere.
Para rematar acrescenta que “Com o crescimento tudo se torna possível, e gerir as mudanças torna-se mais fácil. Para ter crescimento temos de ter uma discussão honesta sobre o nosso apetite pelo risco. O nosso crescimento futuro assenta no futuro dos negócios”.