O setor da banca voltou a estar em destaque pelos piores motivos nos últimos dias. Depois da falência do prestigiado banco de criptomoedas Silvergate, o impacto no setor da banca parece estar a alastrar-se para os restantes bancos com exposição ao setor tecnológico.
O mais recente caso é o do Silicon Valley Bank (SVB). As condições financeiras do banco têm vindo a deteriorar-se ao longo dos últimos anos, mas bastou apenas 2 dias para a queda total do banco. O SVB tinha lançado um comunicado a anunciar a necessidade de angariar cerca de 2.5 mil milhões de dólares para tapar um buraco nas suas contas, o que acabou por originar o pânico nos investidores. Fatores como:
- Corrida aos levantamentos
- Exposição a um setor volátil, como o tecnológico
- Impacto da subida dos juros no preço das obrigações
- Falta de liquidez
contribuíram, naturalmente, para a queda do banco.
As preocupações com a saúde financeira do SVB aumentaram e provocaram uma corrida aos depósitos por parte dos clientes. O banco acabou por não resistir aos levantamentos em massa de fundos por parte dos seus clientes, sobretudo empresas tecnológicas e startups.
A atual conjuntura económica, onde os juros têm vindo a subir de forma brutal ao longo dos últimos meses, contribuiu igualmente para a queda do banco, uma vez que este detinha quantidades elevadas de capital em obrigações do tesouro de longo prazo, penalizadas pelos aumentos das yields.
Para termos ideia da dimensão da instituição, este era o 16.º maior banco dos EUA, que detinha ativos no valor de 209 mil milhões de dólares no final de 2022 e cerca de 175,4 mil milhões de dólares em depósitos.
Estamos perante um risco sistémico ou idiossincrático?
Até ao momento, não existem dados concretos de que a falência do banco possa ter um efeito de contágio para os restantes bancos. Recentemente, a Reserva Federal Americana e a secretária do tesouro dos EUA, Janet Yellen, decidiram encerrar as operações do Signature Bank para travar um possível contágio.
Contudo, é importante notar que há vários bancos com modelos de negócios semelhantes ao SVB que poderão estar expostos também às atuais circunstâncias e que reagiram logo ao anúncio de falência do banco, como por exemplo, o First Republic Bank ou o Western Alliance.
Raíz do problema
Ora, recuando um pouco no tempo, de 2017 a 2022 o SVB registou um crescimento exponencial, com os depósitos do banco mais que a quadruplicaram, passando de 44 mil milhões para 189 mil milhões de euros. Ao longo dos últimos anos, o banco tem optado por uma estratégia de gestão de risco que passou por investir em obrigações do tesouro e hipotecárias que representavam mais de 50% dos ativos da instituição.
No entanto, o banco nos últimos anos começou a levantar algumas red flags, sendo que a atual conjuntura económica acabou por expor ainda mais essas fragilidades. A maior parte dos clientes do banco eram empresas, sobretudo startups tecnológicas, sendo que estas últimas tornaram- se mais expostas a potenciais riscos por via do aumento das taxas de juro, que teve um impacto direto e negativo nas valorizações das empresas, fazendo com que a entrada de VCs (“Venture Capital”, em português, capital de risco) diminuísse e que, em alguns casos, se afastassem. Tal acabou por provocar problemas de liquidez às empresas que, por sua vez, tiveram de recorrer aos depósitos que detinham no SVB.
Em conjunto com a (má) estratégia de gestão de risco do Silicon Valley Bank e com a corrida aos depósitos, o banco acabou por não resistir. Não é comum um banco ter uma exposição tão grande (mais de 50%) dos seus ativos alocado apenas a obrigações do tesouro, os quais ficaram vulneráveis com as subidas das taxas de juro, e quando o banco precisou de liquidar parte destes investimentos para ganhar liquidez acabou por incorrer em perdas avultadas que ditaram a falência do banco.
E na Europa?
Na Europa, o setor da banca não conseguiu ficar indiferente, com todos os grandes bancos europeus a acabarem por registar violentas quedas (ver quadro abaixo). Para além disso, as preocupações com a situação financeira do Credit Suisse voltaram a aumentar depois dos Credit Default Swaps (CDS) terem atingido máximos históricos!
No entanto, os recentes acontecimentos poderão servir para os bancos centrais começarem a refletir sobre o impacto da subida das taxas de juro, em particular também na Europa uma vez que o BCE deverá continuar a aumentar os juros de forma mais agressiva que os restantes bancos centrais, dado que também começou a subir os juros mais tarde.
Por outro lado, continuamos perante um cenário em que a inflação permanece elevada e longe de estar controlada, pelo que parar de subir os juros poderá comprometer o combate à inflação.
Certamente que esta não será uma decisão fácil de tomar no lado dos decisores de política monetária.