Opinião

A integração inteligente: Como a IA e automação estão a redefinir a competitividade das empresas

José Ribas

A discussão sobre a inteligência artificial entrou finalmente no núcleo dos sistemas de gestão empresarial. Durante anos, o ERP (Enterprise Resource Planning) foi encarado como uma infraestrutura estável e imprescindível, mas pouco ágil na sua capacidade de adaptação. Hoje, esse diagnóstico já não descreve a realidade. A convergência entre IA, automação e análise avançada está a transformar o ERP no principal motor da competitividade, sobretudo em mercados onde eficiência, previsibilidade e leitura fina do comportamento do cliente são fatores críticos.

Portugal vive um momento decisivo. Empresas de todos os setores enfrentam pressão constante para reduzir custos, elevar a produtividade e responder a consumidores cada vez mais exigentes. Ao mesmo tempo, convivem com ciclos económicos incertos, escassez de talento tecnológico e margens apertadas. É neste contexto que o ERP deixa de ser um repositório de dados e passa a funcionar como um sistema ativo, capaz de antecipar cenários, recomendar ações e executar processos com autonomia.

Neste contexto, plataformas cloud como o Oracle NetSuite estão a incorporar camadas de inteligência artificial e automação avançada que permitem melhorar previsões, racionalizar operações e acelerar a tomada de decisão. O valor não está apenas na tecnologia, mas na forma como o ERP integra dados financeiros, operacionais e comerciais num único fluxo de informação que suporta análises mais fiáveis e ações mais rápidas. Esta evolução aproxima o ERP do papel de sistema ativo, capaz de identificar padrões, sugerir ajustes operacionais e aumentar a eficiência global sem acrescentar complexidade às equipas.

A integração da IA não deve ser vista como um adorno tecnológico. É um reforço estrutural dos mecanismos internos da empresa. A automação já não se limita às tarefas repetitivas: os sistemas detetam padrões financeiros irregulares, preveem ruturas de stock, otimizam cadeias de abastecimento e ajustam preços em tempo real. Este avanço não acontece espontaneamente. Exige dados limpos, processos bem mapeados e plataformas capazes de escalar. É precisamente aqui que experiências consolidadas, como as desenvolvidas na RSM Busines Solutions, assumem relevância. Anos de trabalho a interpretar padrões de consumo, unificar informação dispersa e transformar dados em ações rápidas cria uma base de conhecimento que hoje se torna essencial. Essa visão orientada para a operacionalização de insights é a que procuramos integrar na RSM Business Solutions Portugal.

O debate mais interessante não é apenas tecnológico, mas estratégico. A verdadeira pergunta é como deve uma empresa posicionar-se quando os seus sistemas passam a pensar e agir de forma autónoma. A resposta varia consoante o setor, mas há princípios que se repetem. O primeiro é a transparência: nenhum negócio pode depender de modelos que não compreende. As decisões algorítmicas têm de ser auditáveis e explicáveis. O segundo é a proporcionalidade: nem todas as áreas beneficiam do mesmo grau de automação, e o valor está em identificar os pontos onde a intervenção humana acrescenta menos e onde a máquina eleva a qualidade da decisão. O terceiro é a integração entre equipas: a tecnologia deixa de ser património exclusivo do IT e passa a ser instrumento das áreas comercial, financeira, logística e de marketing.

Além disso, a entrada da IA no ERP altera a forma como entendemos a consultoria tecnológica. Já não basta implementar ferramentas. É preciso interpretar informação, contextualizar dados, antecipar riscos e traduzir complexidade algorítmica em decisões claras. As empresas não procuram apenas sistemas, procuram orientação estratégica. A consultoria torna-se, mais do que nunca, uma ponte entre tecnologia e negócio.

Num mercado como o português, esta evolução é particularmente relevante para o retalho, a distribuição e a indústria. Pequenos ganhos operacionais podem traduzir-se em melhorias significativas de margem. A deteção precoce de tendências, a previsão de procura e a automatização inteligente dos fluxos produtivos fazem a diferença num ambiente onde a concorrência é intensa e a volatilidade é regra.

Importa sublinhar que a integração de IA nos ERP não deve ser encarada como uma transformação abrupta, mas como um processo progressivo. As empresas começam por automatizar tarefas, avançam para modelos preditivos e, numa fase mais madura, adotam sistemas prescritivos, capazes de sugerir a melhor ação possível perante cada cenário. A chave está em construir uma arquitetura robusta, que permita crescer sem comprometer a segurança, a privacidade ou a integridade dos dados.

Num contexto marcado pela velocidade, o próximo ciclo competitivo será definido pela capacidade de transformar informação em ação de forma consistente. A IA e a automação integrada nos ERP representam a via mais eficaz para atingir esse objetivo. O desafio para Portugal não é a tecnologia em si, mas a visão estratégica necessária para integrá-la. As organizações que combinarem processos sólidos, dados fiáveis e tecnologia avançada estarão posicionadas para liderar. As que permanecem presas ao modelo tradicional arriscam-se a perder relevância num mercado que já não perdoa atrasos.

José Ribas,
partner da RSM Business Solutions Portugal

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