Uma das coisas mais difíceis para um empresário, especialmente no início, é contratar. Uma empresa é quase como um filho, que temos de cuidar para crescer saudável, que nos tira o sono à noite e que nos enche de alegria a cada pequena vitória. Ao contratarmos, estamos a adicionar alguém à vida desse nosso filho… e qualquer pai se preocupa com isso.
Para onde devemos olhar, quando contratamos? O currículo é a primeira resposta de muitos nós, certo? Mas cada vez mais empresários se apercebem que têm de ver para além disso. Há muito que não se vê no currículo, sendo a principal, na minha opinião, a atitude. Porque as skills ensinam-se, a atitude não. Mas a melhor forma de explicar isto, é com um caso prático:
Corria o ano de 2010, quando, no centro de produção de uma empresa que tinha na altura, a DigitalWorks, em Évora, entrou um rapaz, com apenas 18 anos, chamado Diogo, a pedir para falar com os recursos humanos. A conversa com a pessoa dos Recursos Humanos foi invulgar, pois o Diogo conhecia o meu percurso, as minhas empresas e estava determinado a trabalhar comigo, sem remuneração, para mostrar o seu valor e para aprender.
Quando me ligaram a contar o sucedido, a minha resposta foi o óbvio: que o Diogo fosse para a universidade, completasse o curso e voltasse para pedir o estágio. Mas, para espanto de todos, o Diogo, cheio de confiança, recusou. Não queria ir para a universidade, porque não achava que fosse lá que ia aprender algo de novo. Queria a oportunidade e queria-a naquele momento.
Segui o meu instinto e pedi que lhe fosse feita uma entrevista. Pouco depois, o meu CTO ligou-me a dizer: “Ricardo, deixa-me dar uma oportunidade a este miúdo, porque ele ou é um pequeno génio ou é um grande mentiroso. E eu quero descobrir qual é”.
E assim foi! Demos-lhe a oportunidade de estagiar e rapidamente descobrimos que de mentiroso não tinha nada. Demos-lhe uma tarefa que um programador experiente demoraria duas semanas a completar e, para nossa surpresa, o Diogo completou-a em dois dias. De estagiário, rapidamente passou a Programador, depois a Programador Sénior e, num instante, era o novo CTO da empresa.
Hoje, já não tenho a DigitalWorks, mas o Diogo continua a ser meu sócio em diversos projetos. Aos 32 anos, continua a mostrar o mesmo génio e garra que mostrava aos 18 e trato-o carinhosamente por “o meu filho mais velho.”
Felizmente, o meu instinto e o do meu CTO da altura em dar uma oportunidade a um jovem que não conhecíamos estava certo. Felizmente, tivemos a coragem de apostar num rapaz que, apesar de não ter uma licenciatura, tinha a atitude certa. O Diogo é, na minha opinião, um num milhão… mas havendo mais de onze milhões de habitantes em Portugal, ainda há nove ou dez “Diogos” por descobrir, à espera que alguém olhe para mais do que o currículo e veja a atitude certa.
Ricardo Teixeira,
CEO da CompuWorks