A Inteligência Artificial está a ser cada vez mais integrada nas ferramentas usadas pelas empresas e nos Recursos Humanos tem contribuído para minimizar erros, oferecer disponibilidade 24 horas por dia e permitir a tomada de decisão mais imparcial, especialmente no recrutamento.
A GoodHabitz, especialista em oferecer serviços de e-learning a grandes empresas, recentemente integrou ferramentas de IA, como o ChatGPT, nas suas plataformas como forma de aumentar a personalização da formação de acordo com as preferências e as características individuais de cada utilizador.
Pedro Monteiro, Sales Manager da GoodHabitz em Portugal, explica como foi feita esta integração, os princípios a que presidiu e as vantagens extraídas pelos alunos.
Como é que a GoodHabitz tem integrado a Inteligência Artificial nas suas plataformas de e-learning?
Pedro Monteiro: A integração da Inteligência Artificial na GoodHabitz tem sido introduzida por uma lista de quatro princípios orientadores, – a metacognição, que tem por base perceber como é que cada utilizador aprende, o que funciona para cada pessoa e qual é a melhor estratégia de aprendizagem; a prática deliberada dos conteúdos com base nos resultados da metacognição, que prevê o despender de mais tempo no estudo dos conteúdos que revelem maior grau de dificuldade para cada colaborador e, deste modo, aumentar a componente prática; a Curva de Esquecimento de Ebbinghaus, que defende que o melhor momento para reforçar uma ideia é quando estamos prestes a esquecê-la; e a Gamificação, isto é, tornar o processo de aprendizagem atrativo e por etapas, com diversas dinâmicas de jogos.
Lideradas por estes quatro princípios, atualmente estão integradas nas plataformas da GoodHabitz, três ferramentas de Inteligência Artificial Generativa, com propósitos distintos, mas que visam em comum a personalização, o aumento da vertente prática, a simplificação do processo de aquisição de conhecimento, o aumento da interatividade, o que vai levar a uma maior eficácia e satisfação na aprendizagem.
“Estão integradas nas plataformas da GoodHabitz, três ferramentas de Inteligência Artificial Generativa que visam a personalização, o aumento da vertente prática, a simplificação do processo de aquisição de conhecimento e o aumento da interatividade”.
O Assistente de Aprendizagem Pessoal auxilia os utilizadores na navegação pelos conteúdos, sendo possível colocar-lhe perguntas sobre conceitos específicos. Cada curso tem na sua composição uma interface de chat para proporcionar esta troca de mensagens, que ficam posteriormente gravadas para que seja possível aceder a este conteúdo sempre que o utilizador considerar necessário.
À semelhança do Assistente, todos os cursos têm disponível o Quiz Time, uma ferramenta que prevê facilitar a autoavaliação do progresso e da aquisição de conhecimento ao longo do curso. Estes pequenos testes constituídos por quatro perguntas de resposta aberta, para as quais podem ser pedidas pistas, não só oferecem feedback direto sobre todas as respostas individualmente, como apresentam sugestões de melhoria numa lógica construtiva de apoio ao desenvolvimento.
A terceira ferramenta inserida nas plataformas, desta vez nos cursos destinados a consultoria de vendas, é a “Drive to Sell”. Esta permite fazer uma simulação de uma situação de venda de um veículo, numa conversa de dez minutos em que o objetivo é vender o carro ao comprador artificial pelo maior valor possível. Para além de permitir aplicar na prática, ainda que num ambiente seguro e controlado, os conhecimentos adquiridos nos cursos, esta é uma funcionalidade que pode auxiliar em diversos momentos de comunicação quer na vida pessoal, quer na vida profissional, permitindo testar competências como a capacidade de comunicação, influência e a empatia com o próximo. O principal fator diferenciador deste instrumento é que o comprador artificial é construído com base no estilo de comunicação predominante do utilizador pelo que permite que este explore um estilo de venda que vai ao encontro do seu perfil.
Quais foram os principais motivos para a GoodHabitz incorporar ferramentas de IA, como o ChatGPT, nas suas soluções de e-learning?
Os conteúdos da GoodHabitz foram desde sempre criados com base no conceito de aprendizagem adaptativa, tendo em vista a personalização dos conteúdos e a adaptação dos mesmos às características e preferências de cada um dos utilizadores das plataformas. A integração das ferramentas com Inteligência Artificial, pelas suas vantagens comprovadas na personalização de serviços, está de acordo com este mesmo objetivo.
A GoodHabitz acredita que a tecnologia e a inovação são a chave para o futuro da aprendizagem, e para falar em inovação na atualidade é inevitável mencionar as vantagens que a Inteligência Artificial tem vindo a trazer para os diversos setores de atividade.
“Acreditamos que a tecnologia e a inovação são a chave para o futuro da aprendizagem”
No caso concreto da formação e-learning e da aprendizagem, as ferramentas de Inteligência Artificial, em especial a Generativa, podem ajudar todos os profissionais a alavancar as suas competências e facilitar o desenvolvimento e aquisição de conhecimento. Ela permite, entre outras coisas, que o aluno tenha um papel mais ativo comparativamente a outros formatos, e sabemos já de outros formatos mais tradicionais, em que as metodologias ativas são extremamente eficazes em termos de aprendizagem. No fundo, a IA permite-nos aplicar uma metodologia ativa num formato digital, e isso faz toda a diferença. Para além disto, contribuem para melhorar a experiência de aprendizagem em si mesma, através da simplificação dos processos tornando-os mais intuitivos e atrativos.
Esta integração foi amplamente estudada, e tem por base diversos conteúdos teóricos, nomeadamente a própria definição de aprendizagem adaptativa sugerida por um grupo de académicos da Universidade de Ostrava que prevê a existência de pequenas alterações no currículo educativo tendo em vista a adaptação do mesmo às necessidades e características pessoais de cada aluno. Em 2015, este grupo de teóricos constatou que através de pequenas alterações é possível transformar um aluno com desempenho inferior à média, num aluno com um desempenho superior à mesma sendo possível afirmar que a personalização dos conteúdos é a chave para uma aprendizagem de sucesso.
Usam outras ferramentas de IA?
De momento, a principal ferramenta de Inteligência Artificial Generativa utilizada é o Chat GPT. No entanto, a GoodHabitz está a fazer testes à escala global com o objetivo de determinar quais ferramentas podem ser tão ou mais úteis às plataformas e aos seus utilizadores.
O principal critério de teste neste momento está relacionado com os modelos linguísticos e com a forma como cada ferramenta de IA apresenta o conteúdo nos diversos idiomas. O objetivo é perceber que ferramenta se encaixa melhor com cada idioma, personalizando cada vez mais a experiência do utilizador e tornando-a o mais confortável possível para quem faz os cursos da GoodHabitz.
“A GoodHabitz pretende expandir os tipos de uso da IA numa integração futura”.
Para além das questões técnicas, a GoodHabitz pretende também expandir os tipos de uso da IA numa integração futura, para os quais também estão a ser feitos testes.
Que benefícios têm os utilizadores com a integração da IA? Conseguem dar-me exemplos concretos?
A IA, enquanto ferramenta que contribui largamente para a modalidade de aprendizagem adaptativa, permite personalizar o percurso de aprendizagem de diversas maneiras, desde logo pela capacidade de se moldar permanentemente à forma de aprendizagem de cada utilizador, e à sua necessidade a cada momento.
Para além disto permite ter respostas concretas a perguntas sobre conteúdos específicos a qualquer momento, desenvolvendo mais extensivamente e em pormenor os temas que demonstrem maior desafio ou aqueles em que o utilizador tenha mais interesse.
Por outro lado, as ferramentas mais práticas, como é o caso da “Drive to Sell”, permitem testar os conhecimentos adquiridos em ambientes seguros e controlados, atribuindo um feedback à aquisição de conhecimentos que vai para além do teórico.
Em última análise, no caso concreto da GoodHabitz, a IA permite adquirir, testar e reforçar o conhecimento através de uma interação dinâmica, ativa e personalizada entre os utilizadores e os conteúdos de aprendizagem.
Quais foram os desafios enfrentados ao integrarem a IA na formação?
Os principais desafios à integração de IA na formação e nas plataformas da GoodHabitz estiveram relacionados principalmente com os modelos linguísticos utilizados na apresentação dos conteúdos. Cada ferramenta funciona com um tipo de linguagem diferente, pelo que foi necessário estudar a forma como os conteúdos são colocados nos diversos idiomas em que estes estão disponíveis. Este continua a ser um desafio pelo que estão a ser testadas outras ferramentas.
Para além disto, a IA Generativa tem uma capacidade de resposta bastante alargada, pelo que foi necessário filtrar e condicionar o tipo de resposta e o conteúdo da mesma, restringindo o leque de opções da máquina aos conteúdos dos cursos, para que as respostas não fossem descabidas ou demasiado extensas. Para isto, a GoodHabitz criou um Assistente Pessoal para cada curso, limitando o seu leque de resposta aos temas inerentes ao curso em questão.
Existem novas tecnologias ou abordagens que a GoodHabitz esteja a considerar para melhorar mais a experiência de aprendizagem? Quais?
Ao analisar a forma como os utilizadores interagem, conseguimos identificar padrões e preferências, o que nos permite fazer adaptações de forma eficaz de modo a garantir uma melhoria contínua. Neste sentido, procuramos continuamente compreender melhor as tendências emergentes da aprendizagem com recurso à IA, ou outras, bem como dar resposta aos desafios que surgem.
Continuaremos a investir em investigação e desenvolvimento para garantir que as nossas ferramentas tecnológicas são tão imparciais e respeitadoras da privacidade como inovadoras e eficazes. Isto inclui a exploração de novas ferramentas de IA feitas à medida para experiências de aprendizagem ainda mais personalizadas e a melhoria dos nossos conteúdos para nos mantermos na vanguarda. O objetivo da nossa empresa mantém-se inalterado: equipar os nossos clientes com as ferramentas e conteúdos chave no contexto atual e futuro, e proporcionar aos seus colaboradores uma experiência de aprendizagem altamente impactante para desenvolverem com mais eficácia as competências e os conhecimentos de que necessitam para enfrentar os novos desafios a cada momento.
Muitas novidades serão brevemente reveladas em relação a novos formatos de aprendizagem ainda mais interativos e novas ferramentas de autodiagnóstico ao nível de empresa, equipa e individual, com o objetivo de personalizar cada vez mais a Formação e Desenvolvimento consoante os objetivos e necessidades de cada empresa, de cada equipa e de cada colaborador.
Existe alguma consideração ética que tenham levado em conta ao introduzirem a IA na personalização da formação?
Ao introduzir a IA nas plataformas da GoodHabitz foram tidos em conta alguns critérios orientadores, nomeadamente no que diz respeito à privacidade. As ferramentas foram produzidas de acordo com a legislação atual para a proteção de dados nas plataformas digitais, garantindo que nenhuma das informações trocadas seja divulgada sem o consentimento do utilizador.
Para além disto, todas as interações com a IA estão limitadas aos tópicos dos cursos previamente inseridos pela GoodHabitz no Assistente Pessoal de cada um dos temas. Com isto, é possível conter o ângulo de resposta e o tipo de conversa gerado dentro das plataformas.
As ferramentas estão também sujeitas a um processo de curadoria uma vez que o principal objetivo da GoodHabitz, e que aliás esteve na base da decisão de integração da IA nas plataformas, é oferecer conteúdo de alta qualidade. Assim, a IA Generativa é tida como uma ferramenta que acrescenta valor à oferta da GoodHabitz e aos próprios conteúdos nomeadamente na forma como são apresentados, mas nunca enquanto substituto dos técnicos e especialistas multidisciplinares envolvidos na criação das ferramentas e dos conteúdos.
Como é que a GoodHabitz olha para o uso da Inteligência Artificial na área de formação daqui para a frente? Qual é a evolução que esperam que aconteça?
Ainda que o debate em torno da IA seja recente, a integração deste tipo de ferramentas tecnológicas nos processos de aprendizagem não é exatamente nova. A primeira vez que um destes instrumentos foi mencionado data de 1924 com a aparição da máquina automática de testes, que teria como objetivo eliminar erros na correção dos elementos de avaliação e possibilitar a realização de autotestes automáticos.
Desde o seu início que a utilização da Internet e da tecnologia está associada aos objetivos de aprendizagem, a principal diferença é que até agora a evolução baseava- se na forma como o conteúdo era apresentado nas plataformas (PDFs, vídeos explicativos, sites de estatísticas…). Neste momento, a prioridade é o utilizador que passa a estar no centro das preocupações durante a criação de ferramentas. A utilização de ferramentas tecnológicas passa assim a estar de acordo com os princípios da aprendizagem adaptativa e do self-learning.
A inovação, e com ela a IA, tem vindo a conquistar o dia-a-dia das pessoas nos mais diversos setores facilitando o acesso a serviços e personalizando o atendimento. Os processos de formação que tenham por base a aprendizagem adaptativa e que priorizem o estudante, terão certamente muito a ganhar com a integração consciente das vantagens que a IA nos traz.
“Os processos de formação que tenham por base a aprendizagem adaptativa terão muito a ganhar com a integração consciente das vantagens que a IA nos traz”
A GoodHabitz acredita que a tecnologia e, por isso, o e-learning, são o futuro de áreas como a Formação e Desenvolvimento, aproximando de si os interessados que deixam de estar sujeitos a obstáculos como a disponibilidade horária ou os custos elevados dos modelos de formação tradicional. Se até aqui a formação e-learning tinha, em relação à modalidade presencial, uma falha centrada na falta de oportunidades de aplicação prática dos conteúdos adquiridos, a IA vem colmatar esta lacuna através da criação de instrumentos que simulam a realidade e tornam possível testar competências para além do universo teórico.
Se tivermos em conta as vantagens, e soubermos desmistificar e reduzir as desvantagens associadas às tecnologias e ao online, a IA será uma forte aliada da formação e-learning e da aprendizagem adaptativa, permitindo reunir os pontos positivos dos vários modelos. Se por um lado reúne a simplicidade, flexibilidade e personalização naturais do digital learning, também lhes acresce a semelhança com a realidade característica da aprendizagem presencial.
Por último, e não menos importante, permite potenciar mais facilmente a auto-aprendizagem e a formação contínua ao longo da vida, fatores chave de sucesso para os indivíduos, organizações, e para a sociedade em geral.