A porta abre-se no 58 da rua Luciano Cordeiro e abre-se também um novo mundo, deixando para trás a movimentada avenida lisboeta. Quase parece um backstage de um desfile de moda internacional, com luzes, glamour e ação. Kayo é o anfitrião. O hairdresser que se tornou empresário ao abrir em agosto de 2022 o seu espaço, tinha na altura 25 anos. Hoje com 27 tem um mundo para desbravar que desvendamos no seu olhar atento (ao nosso look), mas sobretudo na forma como comunica e incorpora o sentir de quem quer mais do que uma transformação visual.
Muitas das suas clientes procuram-no em momentos de transição ou fragilidade. Como vê o impacto emocional e psicológico dessas transformações no dia a dia delas?
Acredito que a transformação física é apenas o início de algo muito maior. Quando uma mulher decide mudar o cabelo, muitas vezes ela está buscando renovação, uma maneira de refletir externamente algo que já está acontecendo dentro dela. O impacto psicológico é imenso, porque quando alguém se sente bem com a sua imagem, isso transborda para todas as áreas da vida — desde a confiança no trabalho até nas relações pessoais. Eu vejo cada transformação como uma oportunidade de devolver às minhas clientes o controle sobre sua própria narrativa.
Começou a trabalhar num salão especializado em noivas no Brasil. O que aprendeu nessa fase que ainda aplica no seu trabalho hoje?
Trabalhar com noivas foi uma experiência única porque me ensinou a lidar com momentos de alta emoção e expectativas muito altas. Aprendi a importância de escutar profundamente, entender as inseguranças e os desejos da cliente, e entregar um trabalho impecável sob pressão. Hoje, levo isso para o dia a dia, seja num corte casual ou num look mais elaborado — cada cliente merece essa mesma atenção ao detalhe e empatia.
O que o motivou a mudar-se para Portugal e como foi a adaptação a um novo mercado?
Mudar-me para Portugal foi tanto uma busca pessoal quanto profissional. Queria desafios maiores e a oportunidade de crescer num mercado mais global. A adaptação não foi fácil no início — precisei entender a cultura, os gostos e até as nuances das pessoas. Mas essa experiência me tornou mais resiliente e flexível. Hoje, sinto que essa transição me preparou para oferecer um serviço mais sofisticado e personalizado.
O visagismo desempenha um papel central no seu trabalho. Como explica essa técnica aos clientes e como se diferencia dos serviços tradicionais?
Explico como a arte de traduzir a essência de uma pessoa para a sua imagem. Não se trata apenas de um corte ou uma cor bonita, mas de criar algo que converse com o formato do rosto, o tom de pele, a personalidade e até os objetivos de vida da cliente. Isso me diferencia porque não sigo tendências de forma cega — cada cliente sai do meu espaço com algo que foi criado exclusivamente para ela.
O conteúdo que cria nas redes sociais atraiu muita atenção. Como vê o papel das redes sociais no crescimento da sua carreira?
As redes sociais são uma vitrine incrível, mas, para mim, são mais do que isso: são uma ponte de conexão com as pessoas. Mostrar o meu trabalho, compartilhar processos e resultados, tudo isso cria uma proximidade com quem me acompanha. As redes ajudaram a trazer clientes que se identificam com a minha visão e valores, o que transformou o meu público em uma verdadeira comunidade.
Trabalhou com figuras conhecidas. Há alguma história marcante com uma celebridade que possa partilhar?
Fui convidado por uma empresária e Miss para cuidar de sua produção para o icónico Festival de Cannes, um momento de grande responsabilidade e sofisticação. Trabalhei para garantir que a sua experiência fosse incrível, desde a criação de um visual que refletisse sua elegância até o uso do meu conhecimento em fotografia para capturar os resultados desse momento inesquecível. A energia foi tão positiva e o resultado tão impactante que ela me contratou novamente para a sua produção no Paris Fashion Week. Repetir essa parceria num outro evento de prestígio foi uma confirmação do valor da experiência que proporcionamos juntos, algo que ficou marcado tanto para ela quanto para mim.
O Loft Kayo foi inaugurado em Agosto de 2022. Qual foi o maior desafio em abrir o seu próprio espaço em Lisboa?
O maior desafio ao começar o meu próprio negócio foi assumir a responsabilidade de transformar a minha visão em algo tangível, criando um espaço que não apenas refletisse minha essência, mas também entregasse valor real às minhas clientes. Abrir o Loft Kayo exigiu superar inúmeras barreiras, como a escolha do local perfeito e a formação de uma equipe alinhada aos meus padrões de excelência. Cada decisão carregava o peso de iniciar algo do zero, com todos os riscos e incertezas que isso envolve. Porém, esse processo me impulsionou a amadurecer como empresário e consolidar meu propósito, reforçando a minha paixão por criar experiências únicas e transformadoras.
A decoração do Loft Kayo recria o ambiente de um backstage de moda. Como surgiu a ideia e o que queria transmitir com esse conceito?
Queria que as clientes se sentissem como protagonistas de um desfile. O backstage de moda é onde a mágica acontece, onde tudo se transforma, e queria trazer essa energia para o Loft. O conceito foi pensado para oferecer um ambiente de exclusividade, mas também de criatividade e transformação, onde cada cliente se sente especial.
Atende muitas mulheres em momentos de transição, como mudanças profissionais ou pessoais. Há alguma transformação em particular que o tenha emocionado ou marcado profundamente?
Lembro-me de uma cliente que chegou ao Loft após vencer uma batalha contra o cancro. Ela queria um novo visual que representasse um novo começo, uma versão dela mais forte e resiliente. Foi um momento muito emocional, porque a transformação dela ia muito além do visual — era um símbolo de vitória. Fiquei honrado de fazer parte disso.
Antes de iniciar uma transformação, estuda o rosto e a história de cada cliente. Pode descrever como é esse processo de planeamento?
O meu processo começa com uma conversa. Quero entender quem é a cliente, sua rotina, o que a motiva e o que ela deseja transmitir com a sua imagem. Depois analiso os traços do rosto, o tom de pele, a textura do cabelo e como tudo isso pode se alinhar ao que ela busca. É uma combinação de técnica e visão artística que garante um resultado único e harmonioso.
Quais os próximos passos que tem planeados? Qual o seu maior objetivo?
Para 2025, o meu foco está no crescimento do Loft e em expandir a minha presença internacionalmente. Quero levar o meu trabalho para novos mercados e criar conteúdos que inspirem ainda mais pessoas. O meu maior objetivo é ser reconhecido como uma referência na área e impactar positivamente a vida das minhas clientes, criando conexões genuínas e ajudando-as a se sentirem confiantes e poderosas em todas as áreas de suas vidas.
Para quem está a pensar em fazer uma transformação, mas tem receio, que conselho daria?
Digo sempre: a transformação deve ser uma jornada consciente, não um salto no escuro. Confie no processo, escolha um profissional que compreenda sua essência e veja a mudança como uma oportunidade de se reconectar com a melhor versão de si mesma. Lembre-se, o primeiro passo pode parecer desafiador, mas é ele que abre caminho para um mundo de novas possibilidades. Transformar-se não é apenas sobre o que você vê no espelho, é sobre como você se sente ao se olhar. Permita-se viver essa experiência, porque toda grande mudança começa com uma decisão — e o resto, juntos, podemos construir.