António Costa e Silva, professor universitário e gestor multifacetado, assumiu o desígnio nacional de ajudar o País na recuperação da economia na pós-crise pandémica e desenhou o documento “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030”. Agora responde a novo desafio do Primeiro-ministro, António Costa, e vai liderar o Ministério da Economia e do Mar deixando de encabeçar a comissão de acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência. Sob a alçada do seu Ministério terá ainda as Secretarias de Estado da Economia, Turismo, Comércio e Serviços e Mar.
Para perceber algumas das linhas que poderão nortear o Ministério de António Costa e Silva revisitamos a entrevista que concedeu à FORBES e que foi publicada há um ano na edição de fevereiro/março. Um dos pontos fulcrais do plano que diz ser pensado para o day after, Costa e Silva elege o investimento na reindustrialização e na reorganização da economia portuguesa. Isto porque não tem dúvidas que, se conseguirmos “aliar as competências funcionais já existentes a melhores competências institucionais, a melhores apostas no marketing dos produtos, ligando os clusters à análise das cadeias de valor, ter uma estratégia inteligente, nalgumas áreas, de substituição das importações e, a partir daí, avaliar como se pode melhorar o posicionamento competitivo do País. Se assim se fizer muito provavelmente o destino e trajetória do País será mais positivo”.
O gestor defende a aposta numa reorganização onde é preciso criar políticas públicas para as empresas inovadoras que fazem investigação nas áreas de saúde e que “podem propiciar o desenvolvimento de todo um segmento para sermos realmente uma fábrica da Europa no futuro. É um objetivo ambicioso, mas acho que somos capazes”. Mas alertava que, este cenário só não será uma realidade se mais uma vez prevalecer a ideia, em que, “o nosso maior inimigo somos nós próprios, o nosso individualismo, a nossa falta de espírito de cooperação, o nosso arcaísmo em termos da nossa gestão e dos nossos métodos”.
Bazuca europeia é uma janela de oportunidade
Sobre o montante atribuído a Portugal conhecido como “bazuca europeia”, o professor universitário foi perentório em afirmar que “o valor que se vai ter acesso é muito, muito significativo. É uma janela de oportunidade extraordinária que o País tem à sua frente e com ele pode-se fazer muitas coisas”. E alertava que “este investimento tem de ser muito bem desenhado e direcionado porque é muito importante, por um lado, atender ao Serviço Nacional de Saúde, à administração pública que tem de ser digitalizada e atrair uma nova geração de jovens informáticos e reformar as pessoas que estão perto da reforma para mudá-la e seja mais ágil e apta a responder aos tempos que passam”.
O novo ministro da Economia sublinhava ainda que não se pode esquecer o apoio às universidades, aos centros tecnológicos e ao setor privado, às empresas. Costa e Silva defendeu que no centro do plano de recuperação devem estar as empresas, porque são elas que criam riqueza, e as pessoas. “No nosso País há preconceitos ideológicos e há sempre uma visão negativa sobre as empresas, sobre o lucro, sobre o capital. Sem a aposta forte nas empresas não há nenhuma transformação para o futuro”, realçou a mesma fonte.
Para o gestor ainda há um grande trabalho para se fazer para baixar os custos de contexto e sermos muito mais competitivos. Por isso, deixou a esperança de “que este conjunto de verbas que estarão disponíveis, se forem bem usadas nos sítios certos sem esquecer o papel crucial das empresas para mudar a economia e criar mais riqueza, podemos ter um caminho para o futuro”.
Numa altura em que se enfrenta uma escalada dos preços da energia, importa também recordar que o gestor defende que o País deve fazer a transição energética para minimizar a dependência dos combustíveis fósseis, apostar nas energias renováveis, no hidrogénio, o que significa também apostar na mobilidade sustentável. Deve-se alinhar todo este processo de transformação, “com a descarbonização da economia e com a sustentabilidade do próprio modelo económico. Isso pode criar áreas muito importantes em termos da economia circular” realça ainda. Para Costa e Silva “a base da economia circular é termos uma rutura de paradigma e transformarmos o lixo em recursos, ao contrário do que fazemos hoje”.