Como é que a Criptoloja está a inovar o segmento das criptomoedas?
Não obstante existirem várias empresas pelo mundo a oferecerem serviços de corretagem na área das criptomoedas, o mesmo não acontecia no nosso País. Assim, resolvemos criar uma corretora em Portugal e em português, de modo a ocupar essa lacuna. Por outro lado, consideramos importante e diferenciador poder proporcionar ao público em geral a possibilidade de um contacto presencial, olhos nos olhos, privilegiando a total segurança.
Em termos práticos, como é que a vossa empresa atua neste segmento de mercado? E quais os ganhos que se pode obter?
A Criptoloja oferece serviços de troca de euros por criptomoedas ou de criptomoedas por euros. O cliente pode enviar fundos diretamente da sua conta bancária para a Criptoloja para depois comprar Bitcoin e outras criptomoedas, ou enviar criptomoedas para a sua conta na Criptoloja, efetuar a sua conversão para euros e receber os mesmos na sua conta bancária. Os ganhos decorrem sempre da diferença entre o preço a que se compra e o preço a que se vende. Sendo uma indústria emergente, por vezes, as valorizações são muito elevadas num curto espaço de tempo. De qualquer maneira, não podemos esquecer que são ativos muito voláteis e portanto a prudência é fundamental. Nunca investir mais do que aquilo que se pode perder e ter horizontes temporais de investimento alargados são boas práticas altamente recomendáveis.
Conseguiram a licença do Banco de Portugal para operar no mercado português. Quais os argumentos que ajudaram?
Acreditamos que a vasta experiência dos dois sócios fundadores na indústria financeira tradicional possa ter sido decisiva para a obtenção da licença.
Qual o perfil dos clientes que já recorrem aos vossos serviços?
A grande maioria dos nossos clientes são portugueses, mas também temos clientes oriundos de outros países. A nossa carteira de clientes é bastante diversa pois abrange 18 nacionalidades. Por exemplo, tanto temos brasileiros como canadianos. Neste momento, temos quase quatro mil utilizadores da nossa plataforma online e no primeiro trimestre de atividade quase três milhões de euros foram convertidos de euros para criptomoedas na Criptoloja.
Sentem que ainda há desconfiança quanto ao investimento neste tipo de ativos?
Há desconfiança, mas principalmente desconhecimento. O principal motivo de interesse pelas criptomoedas são as histórias de ganhos exponenciais que se ouvem falar. Mas é preciso retirar o fator “preço” da cabeça das pessoas. As fortes subidas normalmente motivam sentimentos de ganância por ganhos fáceis e isso é terreno fértil para o aparecimento de fraudes e esquemas que acabam por minar a reputação da indústria. Isso combate-se colocando ênfase na explicação da tecnologia que está por detrás desta indústria, o fomento da literacia não só financeira, mas também digital. As palavras formação e educação devem constar da missão de qualquer empresa que atue nesta área. Na Criptoloja, promovemos, semanalmente, cursos completamente grátis de modo a ajudar também nesta área.
Mas ainda subsistem situações de fraude…
Sim. Há que deixar uma palavra de alerta para os esquemas e fraudes que existem no mundo das criptomoedas. É imperioso que as pessoas busquem informação fidedigna e não se deixem embalar por promessas de ganhos fáceis ou enriquecimentos rápidos. As criptomoedas são uma coisa boa, a descentralização significa liberdade e independência, mas não podemos deixar que coisas tão boas sejam desvirtuadas e maliciosamente aproveitadas.
Já é possível avaliar o impacto que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia poderá vir a ter neste segmento de mercado?
Este conflito acabou por trazer também o Bitcoin e as criptomoedas para os títulos da comunicação social. Apesar disto, infelizmente, acontecer pelas piores razões, acaba por mostrar como as moedas digitais fazem também parte da solução para ajudar as pessoas. Seja pela facilidade de doações a instituições de apoio na própria Ucrânia, seja pela facilidade com que ucranianos, no exterior, conseguem enviar valor para as suas famílias, ou pela preservação de valor que o Bitcoin tem mantido quando comparado com outros ativos. Claro que o problema do tornear de sanções utilizando criptomoedas é uma possibilidade que, no entanto, não tem grande expressão, pelas características de total transparência que estes ativos proporcionam. Ainda assim, acredito que o balanço total a ser feito no final deste conflito, esperemos que o mais breve possível, mostrará que a indústria do Blockchain, com o Bitcoin à cabeça, sairá fortemente reforçada.
O desafio de criar uma startup em tempo de pandemia é um ato de coragem ou ousadia?
Sinceramente, penso que criar uma startup é um ato de coragem em qualquer altura. E se pensarmos que a esmagadora maioria das startups falha e não o contrário, basta ver as estatísticas, acaba por ser também um ato de ousadia. O primeiro ano da pandemia foi quase todo passado no processo de aprovação por parte do Banco de Portugal, pelo que, diretamente, não foi relevante. Aliás, a única relevância direta que teve foi permitir-nos alugar um escritório a preços provavelmente mais baratos em plena Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Ao longo do seu percurso tem estado ligado ao mercado financeiro. Como é que os criptoativos entraram na sua vida?
Quase por acaso, em 2014, na altura estava a viver em São Paulo. Confesso que, inicialmente, fui atraído, unicamente, pela grande volatilidade de preços que o Bitcoin apresentava. Mas rapidamente, e ao entender todo o potencial que proporciona a possibilidade de “dinheiro” descentralizado, deflacionário e absolutamente de posse privada, o preço deixou de ser o importante. Na época, ficou claro para mim que o Bitcoin ou iria para zero (por vezes as coisas aparecem cedo demais) ou para um milhão. Como não fomos para zero, acho que vamos a caminho do milhão, com todos os altos e baixos que terá pelo meio.
Depois das criptomoedas há outro segmento de mercado onde equacione investir?
Adoro projetos de sustentabilidade no âmbito dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Acredito que a transparência proporcionada pelo Blockchain será fundamental para o sucesso dos mesmos. Assim, projetos nessa área terão sempre a minha atenção.
Enquanto gestor, quais os pontos-chave em que aposta na forma de gerir equipas?
Gerir equipas em ambientes de startup é completamente diferente de gerir equipas em organizações consolidadas. A aposta é traçar objetivos, formar para os mesmos e depois confiar no bom senso de cada um na execução das suas tarefas específicas. A lógica deixou de ser gerir a equipa, mas sim apoiar a equipa.
Qual a visão que tem do País? Quais as apostas estratégicas deveriam ser adotadas para se dar o salto económico?
É um chavão, mas é realmente imperioso retirar peso do Estado da economia e libertar as pessoas e empresas de uma panóplia de leis, regras, regulamentos, procedimentos, termos, condições, etc., que aumentam custos, são improdutivas e se tornam um verdadeiro empecilho. Desburocratizar o dia a dia é fundamental. Sem isso, não há apostas estratégicas que resistam.
Num mundo empresarial cada vez mais competitivo, ainda sobra tempo para hobbies?
Sim, claro. Yoga, bicicleta e, com exceção dos meses de inverno, jardinagem em casa.