Como se pode medir a importância para o país de receber de nova esta montra da tecnologia que é a Web Summit?
É fundamental para Portugal promover, participar e ser o anfitrião deste evento da Web Summit. Já o fazemos desde 2016 e foi um excelente pretexto para começarmos a colocar no mapa os temas do empreendedorismo, das start-ups, da inovação e da tecnologia. A Startup Portugal está desde o início na organização da presença portuguesa na Web Summit. Levamos anualmente entre 100 e 150 empresas ao evento. Sentimos uma enorme evolução na qualidade e na preparação nas empresas que trazemos. Inicialmente estávamos a falar de empresas muito incipientes, de ideias que ainda estavam muito pouco trabalhadas e desenvolvidas. Nesta última leva de 2021 trouxemos, em conjunto com a Made Of Lisboa, 100 empresas à Web Summit de uma diversidade de setores, mais de 20, desde o Big Data, saúde, tecnologias ligadas à comunicação, indústria de travel. E são mais de 20 regiões de Portugal que estão representadas nesse lote de empresas. Já não é só Lisboa e Porto, mas regiões desde o interior até às ilhas.
Em termos de liderança há também novidades?
Um dado interessante é que temos cada vez mais mulheres à frente dessas empresas. Os empreendedores são cada vez mais do sexo feminino. E dá-nos imenso gosto verificar que cerca de 20% destas empresas que trazemos este ano, através do programa Road 2 Web Summit, são do sexo feminino. Uma evolução enorme desde os primeiros anos.
O evento tem fomento o empreendedorismo?
Tudo isto foi possível porque todo este movimento de start-ups e de empreendedorismo veio a reboque e através da Web Summit. É evidente que a Web Summit não é uma varinha de condão para resolver os problemas e para transformar as empresas em unicórnios, não é disso que se trata. Mas é uma excelente montra, um palco e uma base para que estabeleçam contactos, para que ganhem traquejo, contactem com pessoas importantes para o seu futuro de diferentes áreas, seja empreendedores, parceiros, clientes, investidores, universidades. Está tudo aqui. A base dos contactos são feitos no Web Summit e depois, ao longo dos anos e na sequência da Web Summit, eles desenvolvem-nos, vão atrás e conseguem beneficiar. Temos casos concretos de empresas que beneficiaram desses contactos.
E Portugal também sai a ganhar…
Sentimos que o facto de organizarmos a Web Summit traz Portugal para o centro do mundo no que diz respeito à inovação, à tecnologia e ao empreendedorismo. É a pretexto da Web Summit que temos ‘n’ eventos, cimeiras, conferências paralelas que ocorrem nas semanas anteriores e nos dias a seguir a este evento. Tudo isso gera um movimento e um conhecimento à volta de Portugal que é absolutamente extraordinário. Recebi no stand da Startup Portugal pessoas de todo o mundo a quererem perceber como é que nós abordamos as start-ups, como é que fazemos, como é que a nossa rede de 160 incubadoras da Startup Portugal, que está espalhada pelo País inteiro, funciona. Isto porque também querem levar para os seus países esses exemplos. Há interesse desde Espanha até ao Brasil de pessoas a quererem desenvolver casos idênticos e com o mesmo tipo de abordagem.
O País está então a ser bem percecionado nesta área?
É com satisfação que percebo que nós, neste domínio do empreendedorismo, do digital, da inovação e da tecnologia, não somos de todo uns followers, mas um exemplo e uma best pratice que está a ser seguida por outros países. Hoje em dia fala-se muito de unicórnios. Esta expressão é interessante, mas não encerra tudo. Portugal neste momento tem cinco unicórnios que são empresas que já foram avaliadas em transações reais em mais de um bilião de dólares, isso enche-nos de orgulho. Mas além dos unicórnios temos enormes potenciais em empresas avaliadas em 10 milhões, 50 milhões, 100 milhões que nascem em Portugal, mas que fruto dos condicionalismos do mercado português, a começar pela sua dimensão, têm que, desde o seu começo, ser desenhadas para o internacional, isso faz diferença. Quando são desenhadas já contam com o mercado global. É um condicionalismo e uma desvantagem que o País tem, mas que rapidamente, para os empreendedores, se transforma num desafio e no fim do dia numa vantagem. Porque são empresas que têm outro tipo de capacidade para vingar internacionalmente.
Mas o que faz a diferença nessas empresas?
Não posso deixar de referir o tema talento. Os nossos engenheiros, técnicos, gestores e empreendedores são procurados no mundo inteiro pelas suas características. De facto, Portugal cada vez mais é procurado pelo seu talento e pelo capital humano que tem. É outro dos aspetos críticos para termos conseguido vingar neste mundo do empreendedorismo e das start-ups e de sermos uma referência é a qualidade do nosso capital humano. A Startup Portugal quer também dar o seu contributo.
Como é que a atuação da Startup Portugal se diferencia?
Temos uma proximidade muito grande junto dos empreendedores, é uma caraterística que nos distingue na Startup Portugal. Quando foi criada, em 2016, falava-se pouco de empreendedorismo e de start-ups em Portugal. Conseguimos que instituições mais tradicionais que têm a sua importância e papel na economia, mas que estavam muito viradas para as médias e grandes empresas como o IAPMEI, AICEP, os fundos de private equity e de capital de risco, os bancos e mesmo as empresas corporate começassem a virar-se para as start-ups e para o empreendedorismo. Neste momento, são elas que vêm ter connosco e que querem abrir a possibilidade de os desafios e problemas sejam resolvidos por empreendedores e start-ups. A Startup Portugal acabou por ganhar no mercado espaço nesta interseção entre os diferentes operadores e os empreendedores e as start-ups. O que faz com que muito facilmente conseguimos quer com a própria Web Summit quer com empresas que estão connosco neste desafio – como por exemplo a Galp que este ano apoiou e financiou a iniciativa Road 2 Web Summit – se disponibilizam para guiados por nós e em conjunto connosco, façamos este caminho e tenhamos uma presença grande na Web Summit.
Há capital disponível para investir nestas empresas?
É com muita satisfação que verifico que não há dificuldade em encontrar capital, o que é preciso é saber interpretar e falar a linguagem destes empreendedores, estar próximo deles de maneira a sermos os primeiros a trazê-los para o palco, a dar-lhes esta primeira oportunidade e fazê-los vingar com o apoio dos outros stakeholders que existem no ecossistema.
Qual o papel do programa Road 2 Web Summit para garantir esta presença no evento?
Este programa já decorre há duas semanas começou com uma preparação com várias sessões de formação de como fazer um pitch ou como relacionar-se com as diferentes entidades. Levámos as 100 start-ups ao Presidente da República que todos os anos faz o favor de nos receber no Palácio de Belém e que tem um papel muito inspirador e de suporte para esta iniciativa. É aí que nos sentimos bem. A fazer as pontes entre os empreendedores, as start-ups e todos os atores relevantes deste ecossistema que podem apoiá-los e fazer com que eles tenham melhores condições para vingar.
Entretanto o tema das start-ups ganhou novo fôlego…
Vamos ter uma contribuição positiva que tem a ver com a estrutura europeia que foi anunciada na Web Summit pelo Governo que é a Europe Startup Nations Alliance e que para a sua criação recolheu a assinatura e apoio de 27 países. Vai nos permitir ter um papel determinante na standardtização de conceitos, no reporte, na monitorização de dados sobre o ecossistema europeu e na abordagem conjunta aos decisores políticos de modo a tornar a Europa um continente de start-ups. Neste momento, em número absoluto até temos um maior número de start-ups do que os Estados Unidos, mas se formos fazer o rácio per capita ainda estamos atrás. Temos um mercado de 450 milhões de habitantes, é extraordinário e maior do que o norte-americano, mas dada a diversidade dos países e as especificidades é muito difícil este mercado tão grande estar à disposição de um empreendedor e de uma start-up quando ela é criada. A ESNA pretende, assim como a Startup Portugal com o apoio que vai dar a esta entidade, quebrar essas barreiras e fazer com que este mercado extraordinário europeu esteja verdadeiramente ao alcance e à disposição de todos os empreendedores europeus e, em especial, portugueses.
Quais os valores de investimento canalizados para as start-ups?
Os indicadores de investimento para as start-ups são muito positivos. Contamos até setembro com investimentos em equitty superiores a um bilião de dólares em start-ups portuguesas, o que é um recorde de todos os tempos, é o dobro do que registávamos no ano anterior. Isto só mostra que apesar da pandemia, o interesse e o investimento nas start-ups portuguesas está crescente e são resilientes. Muitas delas até foram criadas após a pandemia e desenvolveram-se com a pandemia. São empresas que sabem resistir e aproveitar a oportunidade com estes tempos difíceis que acabámos de passar.