A área STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), cada vez mais, procurada por mulheres. Destacamos dois exemplos que mostram que nunca é tarde para enveredar pela carreira tecnológica.
Joana Linhas, Vice-presidente do Porto Tech Hub, e Joana Pinheiro, Product Manager na Fabamaq, são a prova de que “o género não define absolutamente nada”, para usar uma frase destas nossas entrevistadas.
Joana Linhas, Vice-presidente Porto Tech Hub

Joana Pinheiro, Back end developer na BLIP

Como e por que decidiu seguir uma carreira na área de tecnologia?
Na verdade, segui uma carreira na área de tecnologia como resultado de um feliz acaso, que me levou a assumir o papel de “Product Manager” numa empresa do setor. Como costumo dizer, foram as tecnologias que me escolheram a mim.
A minha carreira na área de tecnologia começou quando assumi o papel de “Product Manager” e tive a oportunidade de, em ligação com valores de responsabilidade, dinamismo e adaptabilidade, poder desenvolver novas competências ao pensar e desenvolver produtos e serviços de software. Embora a minha formação de base seja em Marketing e tenha trabalhado em diversas áreas antes de ingressar na Tecnologia, como Comunicação, Eventos, na Área Comercial e de Gestão de Carreiras, fui atraída pelos desafios constantes de um mercado em contínuo movimento, e foi por isso que a Tecnologia me conquistou.
Atualmente, como “Product Manager” na Fabamaq, trabalho numa “software house” de jogos de casino. A tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais importante nessa indústria, tanto em termos de desenvolvimento de jogos quanto de sistemas de gestão de casinos. Como tal, a minha formação e experiência em Marketing e Gestão de Carreiras é uma grande vantagem para me ajudar a entender as necessidades dos clientes e desenvolver produtos que atendam às suas exigências.
Quais são algumas das suas conquistas na sua carreira de tecnologia que a orgulham por ser mulher?
São já algumas as conquistas na minha carreira em Tecnologia que muito me orgulham. Uma dessas conquistas é o meu papel como “Product Manager” e tudo o que este envolve. Neste cargo valorizo o meu trabalho com o produto em si e toda a descoberta que existe por detrás do produto. Gosto de ver as coisas a desenvolverem-se e a crescerem, enquanto trabalho em estreita colaboração com as pessoas da minha equipa. Para mim, as pessoas são assim o mais importante, e valorizo muito o relacionamento com a equipa, pois acredito que quando as pessoas estão comprometidas e envolvidas num produto, o resultado é muito melhor. Orgulho-me assim pelo meu trabalho passar também por ajudar a desenvolver as pessoas que estão à minha volta, transmitindo-lhes o meu know-how.
Noutra vertente, outra conquista importante na minha carreira passa por estar ligada à Porto Tech Hub, associação cujo trabalho passa por potenciar o desenvolvimento do Porto e o seu posicionamento enquanto centro tecnológico de excelência no mundo, através de iniciativas que promovem a ligação entre as empresas do setor na cidade e a relação entre as organizações e o talento, também feminino. Ser convidada para fazer parte da direção deste projeto com tanto impacto é uma grande conquista para mim, já que me permite contribuir para iniciativas que sei que têm impacto nas pessoas, na comunidade tecnológica e na cidade do Porto em geral.
Junto dos seus colegas, nota que há algum tipo de preconceito pelo facto de estar a trabalhar (e até desempenhar cargos de chefia) numa profissão ainda rotulada por muitos como mais “masculina”?
Durante o meu percurso, felizmente, nunca senti qualquer tipo de preconceito, mas sei que é ainda um desafio para muitas profissionais.
Admito, porém, que, principalmente no início, a entrada no setor não foi fácil. No meu caso, quando iniciei a minha carreira em tecnologia representava dois papeis: o papel feminino e o de pessoa não técnica, já que a minha formação era em Marketing. Face a este meu contexto, confesso que foi bastante desafiante para mim acreditar que tinha perfil para ser Product Manager e ultrapassar essas barreiras e diferenças que tinha, comparativamente com outros perfis.
Precisamente com base na minha experiência, considero que é de extrema importância dar às pessoas a segurança para se sentirem bem e as condições para evoluírem. Para erradicar preconceitos, as empresas devem construir e manter os locais trabalho como sítios seguros, onde seja possível crescer profissional e pessoalmente e onde o mérito, o compromisso, o dinamismo e as competências sejam trabalhadas e valorizadas, de forma igualitária.
O que pode ser feito para reduzir o fosso de género na indústria de tecnologia?
Acreditar no potencial das mulheres é o primeiro passo. Em paralelo, é fundamental capacitar tecnologicamente as jovens, através de formação, inovação e qualificação.
Nos últimos anos, têm sido várias as iniciativas e entidades que, com o propósito de potenciar a presença das mulheres no mundo das tecnologias, têm desenvolvido ações muito importantes. Exemplo disso é o SWitCH, programa de reconversão de carreira que desenvolvemos na Porto Tech Hub e que já permitiu a dezenas de mulheres entrarem na área tecnológica como programadoras, sem precisarem de qualquer experiência prévia. Por outro lado, destaco as Geek Girls Portugal, comunidade que trabalha para impulsionar a entrada de mulheres em tecnologia, e, as Raparigas do Código, grupo que tem como objetivo a criação de oportunidades de aprendizagem para jovens raparigas e mulheres dentro desta área.
No entanto, para se reduzir este fosso, todos devem assumir um papel: empresários, recrutadores e colegas – todos devem fazer a sua parte na escolha, acolhimento e participação de mais mulheres na área das TI. Além disso, em momentos de recrutamento, as capacidades únicas e individuais de cada um devem ser o ponto de partida na escolha de um candidato, de forma que todas as mulheres e homens estejam em pé de igualdade, no momento de se candidatarem a uma empresa.
Tem algum role model feminino na área da tecnologia? Qual e por que motivo?
Felizmente, muitas são as mulheres que se têm vindo a destacar nesta área, sendo os role models no feminino cada vez mais comuns e importantes para as jovens que ambicionam entrar na área tecnológica.
Pessoalmente, destaco como exemplo todas as mulheres que tiveram a força e a coragem de mudar de carreira e cumpriram com sucesso o programa SWitCH, da Porto Tech Hub e em parceria com o ISEP. Quero dar o meu mérito a estas mulheres, porque estamos a falar de um programa extensivo e intensivo, que exige uma dedicação total para romper por completo com a antiga carreira e tornarem-se programadoras, profissão extremamente exigente e ainda muito pouco representada por mulheres. São já dezenas as jovens que cumpriram este curso, e tenho certeza de que serão muitas mais no futuro.
Que mensagem daria às raparigas que gostariam de seguir uma carreira TIC?
Para as raparigas que desejam ingressar na área da tecnologia, diria que a coragem, foco e resiliência devem ser os seus grandes pilares, já que lhes permitirão iniciarem uma carreira no setor e serem bem-sucedidas. O caminho pode parecer difícil, mas com determinação e perseverança, é possível superar qualquer desafio.
Por outro lado, não devem deixar que os estereótipos ou as dificuldades do meio envolvente as desmotivem. Pelo contrário, devem fazer com que esses obstáculos sejam fortalecedores e as inspirem a serem ainda mais fortes e determinadas. A tecnologia é um mundo vasto e emocionante, e cada vez mais empresas procuram diversidade e inclusão nas suas equipas. Por isso, as jovens não devem ter medo de entrar nesta área, que precisa de mais e mais mulheres.
Como e por que decidiu seguir uma carreira na área de tecnologia? No seu caso, abandonou engenharia civil.
Decidi mudar radicalmente de vida, quando comecei a perceber que a minha área profissional anterior – engenharia civil – não me ia trazer felicidade e tranquilidade de vida. Depois de um longo tempo de reflexão, decidi começar a “brincar” com alguns cursos online para perceber se seria uma opção válida para o meu futuro. E foi. Cada dia que passa, estou mais certa que este foi a decisão certa para mim.
Enfrentou dificuldades para enveredar na área de tecnologia pelo facto de ser mulher?
Não. No meu caso não senti absolutamente nada disso. A minha entrada no mundo de IT foi bastante tranquila e transparente porque entrei através de um protocolo entre a pós-graduação que frequentava e a empresa onde iniciei a minha experiência laboral nesta área.
Junto dos seus colegas, nota que há algum tipo de preconceito pelo facto de estar a trabalhar numa profissão ainda rotulada por muitos como “masculina”?
Pelo pouco de experiência que tenho (comecei em setembro de 2022), nunca senti esse tipo de preconceito por parte da minha equipa ou mesmo dos outros colegas da empresa.
O que pode ser feito para reduzir o fosso género na indústria de tecnologia?
Creio que esta questão começa muito antes de ingressar no mundo laboral. Ainda existe muito aquele estereótipo de que as raparigas não “brincam” com computadores e isso acaba por se propagar pelos anos de formação até à idade adulta e na hora de escolher um curso na universidade, a engenharia ainda está muito ligada ao género masculino. Acho que desmistificar isso seria um passo importante a dar. Normalizar é a palavra-chave.
Tem algum role model feminino na área da tecnologia? Qual e por que motivo?
A título singular não, mas há uma comunidade que foi muito importante para mim na hora de decidir mudar de carreira profissional. As raparigas do código são uma associação de mulheres em TI, com diferentes roles e com diferentes percursos mas onde, nessa mesma associação, há uma missão: lecionar pequenos cursos em software development , de forma completamente gratuita, a outras mulheres que se interessem pela área. Acho maravilhoso que haja pessoas que deem um pouco do seu tempo a este tipo de ações. Creio ser uma iniciativa super positiva por forma a incentivarem outras mulheres a enveredarem por esta área.
Que mensagem daria às raparigas que gostariam de seguir uma carreira TIC?
Num mundo que parece continuar a ser de homens, que não deixem de procurar o vosso espaço entre eles e que lutem com perseverança pelos seus objetivos. O género não define absolutamente nada.