Conflito Ucrânia/Rússia: Ocidente prepara sanções económicas contra Moscovo. Putin promete retaliar

O reconhecimento oficial por parte da Rússia da independência de duas regiões separatistas na Ucrânia (Donetsk e Luhansk, zonas em que a Rússia apoia os rebeldes que lutam nessas áreas contra as forças militares ucranianas) está a precipitar os acontecimentos em direção à escalada das armas. No discurso que proferiu à nação, Putin, o chefe…
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A tensão entre Rússia e Ucrânia está a agitar a economia, com bolsas e cotações do petróleo nervosas, suspensão de voos por várias companhias e aprovação iminente de sanções económicas contra Moscovo.
Economia

O reconhecimento oficial por parte da Rússia da independência de duas regiões separatistas na Ucrânia (Donetsk e Luhansk, zonas em que a Rússia apoia os rebeldes que lutam nessas áreas contra as forças militares ucranianas) está a precipitar os acontecimentos em direção à escalada das armas.

No discurso que proferiu à nação, Putin, o chefe de Estado russo, deixou claro o seu entendimento de que a Ucrânia não é apenas um país vizinho, mas parte da história e do território russo, deixando patente as intenções de Moscovo (de invadir território ucraniano) e levando o mundo da finança a inquietar-se fortemente, mesmo na Rússia – o principal índice da bolsa de Moscovo, o RTS, e o rublo, a moeda russa, registaram no início desta semana já fortes perdas.

A Goldman Sachs já projeta cenários de quedas bolsistas nos EUA, Europa e Japão, em caso de conflito armado.

A instabilidade tocou igualmente os preços do petróleo que atingiram neste arranque de semana os 99 dólares por barril, valor que já não era alcançado desde setembro de 2014.

O mundo ocidental começa a preparar-se para tomar severas sanções económicas contra Kiev.

O facto de a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que se reuniu nesta madrugada de terça-feira, nenhum avanço ter produzido rumo à paz, só serve para criar mais tensão.

A União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos já adiantaram que planeiam sanções a indivíduos e empresas que venham a estar ligados ao governo russo neste contexto de guerra.

“Vamos, imediatamente, instituir um pacote de sanções económicas”, afirmou Boris Johnson, Primeiro-Ministro britânico, prometendo medidas que vão visar diretamente “os interesses económicos russos”. Algumas dessas medidas aplicar-se-á a cinco bancos russos.

O presidente americano Biden emitiu uma ordem executiva que proíbe qualquer novo investimento, comércio ou financiamento por pessoas dos EUA para, de ou dentro das regiões pró-russas de Donetsk e Luhansk.

Segundo a Casa Branca, Joe Biden informou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky dessas medidas, reafirmando “o compromisso dos EUA” de respeitar “a integridade territorial da Ucrânia”.

Pacote de sanções do lado da Europa

Do lado da União Europeia, o pacote de sanções é, para já, limitado, sendo a sua adoção proporcional à gravidade dos atos de Moscovo: medidas mais duras caso o conflito militar tenha mesmo lugar.

O jornal britânico “The Telegraph” diz que podem estar em cima da mesa proibições de viajar, congelamento de bens de bancos privados russos ou até mesmo a exclusão da Rússia do sistema bancário internacional. esta tarde deverão conhcer-se as primeiras medidas oficiais do lado da União Europeia.

Canadá e Austrália também já tiveram contactos com os diplomatas europeus e norte-americanos para que haja uma reposta concertada do Ocidente contra a Rússia.

Companhias aéreas cancelam ligações

Mediante este clima de pré-guerra, as companhias aéreas começaram já a cancelar as suas ligações para a Ucrânia. A TAP não voa diretamente para a capital ucraniana, pelo que esta situação não se lhe aplica, mas a Air France informou que, a partir desta terça-feira, cancelará todos os seus voos de e para Kiev como uma “medida de precaução”, tornando-se a mais recente companhia aérea a cancelar serviços para a capital ucraniana, tomando muito a sério os alertas dos EUA de que uma invasão russa da Ucrânia está por um fio.

Antes da Air France, a transportadora alemã Lufthansa tinha anunciado no passado sábado que iria suspender os voos para Kiev e Odessa, a partir desta segunda-feira e até ao final do mês.

Com a situação a agudizar-se, a Ukraine International Airlines enviou cinco aeronaves Boeing para a Espanha depois de ter sabido que as suas seguradoras encerraram a cobertura para aeronaves no espaço aéreo ucraniano.

A holandesa KLM Royal Dutch Airlines anunciou também, em 12 de fevereiro, que suspenderia indefinidamente os voos para a Ucrânia ou através do espaço aéreo ucraniano, ampliando a suspensão dos voos sobre o leste da Ucrânia e a Península da Crimeia que estavam em vigor desde 2014.

Recorde-se que, em 2014, um avião de passageiros da Malaysia Airlines, um Boeing 777, foi abatido sobre o leste da Ucrânia controlado pelos separatistas, matando 298 pessoas.

Uma investigação conduzida pela Holanda concluiu que o míssil contra o voo MH17 tinha sido disparado por independentistas, usando um míssil Buk, fabricado pela russa Almaz-Antey,

Aumento de custos

As companhias aéreas costumam usar o espaço aéreo sobre a Bielorrússia e sobre a Ucrânia quando voam para a Ásia e para o Médio Oriente, pelo que os ajustes destas ligações irão aumentar os custos operacionais e a duração dos voos.

Crise chega ao futebol

No mundo do futebol, a tensão entre Rússia e Ucrânia pode levar ainda a UEFA, organismo que regula o futebol europeu, a mudar o local da final da Liga dos Campeões 2021/22 que estava prevista para São Petersburgo, no dia 28 de maio.

Resposta de Moscovo

Moscovo já avisou, no entanto, que a aplicação de sanções económicas sobre si fará com que a Rússia retalie na mesma moeda. Quais, também não se sabe, por enquanto.

A questão do gás é delicada, dado que 35% das importações da Europa em matéria de gás vêm da Rússia. Todavia, a hipótese de um boicote total de gás por parte dos responsáveis russos é visto como muito pouco provável.

Numa carta enviada à conferência sobre energia do Fórum de Países Exportadores de Gás, em Doha, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que Moscovo vai continuar a fornecer gás natural aos mercados mundiais apesar da crise. Todavia, já se percebeu que as promessas e palavras de Putin têm um valor efémero, pelo que a promessa feita em Doha vale o que vale.

A dependência europeia da energia russa é um problema geopolítico para o Ocidente.

Do lado do Ocidente, o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou esta terça-feira que a certificação do gasoduto Nord Stream 2 não pode prosseguir perante as recentes ações adotadas pela Rússia. Este gasoduto de 1230 km de extensão, num investimento da russa Gazprom, servirá a Alemanha e boa parte da Europa, pelo mar Báltico, numa quantidade astronómica de 55.000 milhões de metros cúbicos por ano.

Apesar de concluído, o Nord Stream 2 ainda não entrou em funcionamento, porque a sua licença de operação foi adiada por questões burocráticas, envolvendo regulamentos europeus e alemães. Agora, a crise na Ucrânia veio parar o projeto, numa decisão que pretende servir de pressão sobre Moscovo para repensar a sua estratégia bélica.

Mas, Moscovo já começou a responder, com Dmitry Medvedev, ex-Presidente russo e atual Vice-Presidente do Conselho de Segurança da Rússia a escrever no twitter: “Bem. Bem-vindo ao admirável mundo novo, onde os europeus vão muito em breve pagar €2.000 por 1.000 metros cúbicos de gás natural”.

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