Há quatro bilionários que estão a investir numa startup fintech destinada a torná-los mais ricos

Como tomar decisões financeiras e gerir um portfólio no qual ações, dinheiro e imóveis ficam ao lado de criptomoedas, NFT’s e ações de empresas privadas ilíquidas? O desafio está a colocar-se a vários milionários e é nesse terreno que a empresa Compound está a procurar trabalhar, com êxito, até ao momento. A Compound, uma startup…
ebenhack/AP
A Compound, startup de gestão de património criada para investidores ricos em tecnologia, está a emergir da discrição com um financiamento de 33M€. Pelo menos quatro bilionários investiram na empresa.
Economia

Como tomar decisões financeiras e gerir um portfólio no qual ações, dinheiro e imóveis ficam ao lado de criptomoedas, NFT’s e ações de empresas privadas ilíquidas? O desafio está a colocar-se a vários milionários e é nesse terreno que a empresa Compound está a procurar trabalhar, com êxito, até ao momento.

A Compound, uma startup de tecnologia financeira está, aliás, a irromper de alguma discrição em que se encontrava, após um financiamento na passada semana, de US$ 37 milhões (33 milhões de euros).

Esta fintech faz parte de um conjunto de empresas de gestão de património que pretendem facilitar a vida financeira dos mais ricos. Todavia, o que torna esta empresa um pouco diferente?

A companhia conta com, pelo menos, quatro bilionários como investidores: Egon Durban, co-CEO da empresa de private equity Silver Lake; Fred Ehrsam, cofundador da Coinbase e da empresa de investimentos em criptomoedas Paradigm; Sam Bankman-Fried, CEO da empresa de negociação de criptomoedas FTX e, aos 29 anos, o jovem na casa dos vinte e poucos anos mais rico da América; e Max Levchin, CEO da Affirm, empresa de “compre agora e pague depois”, que está a investir através do SciFi VC (um fundo operado por ele e Nellie Levchin).

A empresa de investimentos Greenoaks e Lachy Groom, capitalista de risco e presidente da Compound, lideraram a ronda de US$ 25 milhões (22,4 milhões de euros) da Compound, que acabou de ser concluída. A Compound, que anteriormente levantou US$ 12 milhões (10,7 milhões de euros), não revelou a sua avaliação.

Mercado pequeno, mas potencialmente lucrativo

Entrando num mercado lotado de Apps de fintech, consultores robóticos e empresas tradicionais de gestão de património, a Compound está a apostar num mercado pequeno, mas potencialmente lucrativo: funcionários de startups e “angel investors”. “Infelizmente, o modelo tradicional de gestão de ativos das empresas de gestão de património não está alinhado com as necessidades das pessoas que detêm riqueza ilíquida”, disse Jordan Gonen, CEO da Compound, num comunicado enviado por e-mail à FORBES.

“Algumas dessas pessoas são recém-formados a avaliar ofertas de emprego ou funcionários que começaram cedo a trabalhar numa startup que agora está numa fase pré-IPO e não têm a quem recorrer para obter apoio financeiro”, diz Jordan Gonen.

Os US$ 37 milhões (33 milhões de euros) em financiamento que a Compound levantou é uma gota do investimento em empreendimentos de fintech. No ano passado, o setor de serviços financeiros foi o principal destino de capital de risco, atraindo US$ 134 biliões (120 mil milhões de euros) em investimento total, segundo a Crunchbase.

Forte concorrência

A startup também enfrenta forte concorrência: o Goldman Sachs está a investir dinheiro no seu braço de finanças pessoais Marcus, a aplicação financeira SoFi agora é negociada publicamente e o consultor-robot Wealthfront anunciou que está a ser adquirido pelo gigante bancário UBS por US$ 1,4 bilião (1,2 mil milhões de euros).

Mas há algo que a Compound tem a seu favor: executivos e fundadores de outros unicórnios fintech – incluindo Coinbase, Plaid, Brex e Carta – estão entre os seus outros investidores, de acordo com a empresa.

Ao contrário de muitas empresas de gestão de património, que cobram dos clientes uma percentagem dos seus ativos, a Compound cobra uma taxa de assinatura anual pelo uso da sua plataforma e acesso aos consultores financeiros da equipa. Esse custo varia e é baseado nas necessidades individuais de cada cliente: quanto mais complexas essas necessidades forem, maior o custo. Um porta-voz da empresa diz que o modelo tradicional de taxas de ativos sob gestão está “desalinhado com as necessidades dos clientes que são ilíquidas”.

101 milhões de ativos sob gestão em 221 contas

Até agora, pelo menos alguns clientes estão a pagar. A Compound reportou US$ 113 milhões (101 milhões de euros) em ativos sob gestão em 221 contas separadas em registos financeiros de agosto passado. Um porta-voz disse que a Compound agora tem centenas de clientes, muitos dos quais trabalham nas principais startups de Silicon Valley, incluindo Stripe, Plaid, Asana e outras. Operando furtivamente, a Compound confiou na publicidade “boca a boca” para crescer, indica o porta-voz.

A plataforma da Compound integra-se com a Carta e Shareworks, plataformas de gestão de ações populares entre funcionários de startups e “angel investors”, o que permite aos utilizadores rastrear o valor das suas participações privadas em mercados secundários. Os utilizadores também podem vincular as suas carteiras Coinbase e Ethereum para rastrear as suas participações em criptomoedas e NFT.

Tipo de assessoria

Grande parte do apelo do Compound vem do facto dos utilizadores terem acesso a ferramentas de modelagem que os ajudam a explorar as consequências fiscais de vários cenários de saída, envolvendo o património da sua empresa. Os utilizadores têm, igualmente, acesso a consultores financeiros da equipa – humanos em vez de robots – especializados em capital de startups e ativos não convencionais como criptomoedas. “Pense nisso como um diretor financeiro pessoal que está a cuidar das suas finanças e a ajudá-lo a tomar a melhor decisão financeira”, diz Gonen.

Gonen e Jacob Schein, diretor de tecnologia e cofundador da empresa, criaram a Compound em 2019 enquanto frequentavam a Universidade de St. Louis de Washington, após vários outros empreendimentos empresariais e passagens por startups (de acordo com o seu site pessoal, Gonen trabalhou anteriormente na Uber e Blend, mais um unicórnio fintech cujos executivos agora estão a investir na Compound). Lachy Groom, um dos primeiros funcionários da Stripe e prolífico “angel investor” por seu próprio risco, envolveu-se na Compound durante os seus primeiros meses.

“Estamos a construir o produto que gostaríamos de ter”, diz Gonen.

“Nós os dois começamos a ‘sentir a dor’ em 2019, quando estávamos a trabalhar em empresas de tecnologia em rápido crescimento e enfrentamos decisões sobre como gerir o nosso dinheiro, exercer as nossas opções etc. Todos com quem conversamos e que trabalhavam em startups sentiam o mesmo”, afirma Gonen.

Para entender o seu mercado, Gonen e Schein referem que entrevistaram centenas de fundadores de startups, “angel investors” e outras pessoas ricas para entender melhor as suas dificuldades financeiras. Gonen passou no exame da Série 65, uma avaliação de Direito do Consultor de Investimento que é realizado nos Estados Unidos por quem procura tornar-se representantes de consultores de investimento credenciados. Gonen tornou-se, assim, um consultor de investimentos reconhecido. “Com o tempo”, declara o CEO de 24 anos, “ficou claro que tínhamos uma grande oportunidade de ajudar uma nova geração de pessoas que não são atendidas por empresas tradicionais e não têm a quem recorrer”.

Tornar-se a próxima ICONIQ Capital

A Compound afirma que a sua visão de longo prazo é tornar-se a próxima ICONIQ Capital, a empresa de gestão de património cujos clientes bilionários incluem Mark Zuckerberg e Jack Dorsey. “Como os nossos clientes geralmente trabalham em startups”, diz Gonen, “eles normalmente são atraídos por mais oportunidades de investimento em startups e, assim como a ICONIQ, esperamos trazer mais desses tipos de oportunidades para junto deles”.

A Compound tem um longo caminho a percorrer: a ICONIQ Capital diz que tem mais de US$ 83 biliões (74 mil milhões de euros) em ativos sob gestão. Mas com bilionários e outras pessoas ricas a investirem no sucesso da Compound – como investidores de capital e como clientes – isso pode criar uma boa oportunidade. Aponta Gonen: “Investidores em empresas de tecnologia são clientes perfeitos para a Compound”.

Mais Artigos