Um relatório recente da consultora Deloitte revelou algumas notícias dececionantes quando se procura tanto a diversidade e a inclusão na atual sociedade: nem um único conselho de administração das empresas listadas na Fortune 500 é representativo da população dos EUA em termos de género e etnia e, em 2020, as minorias detinham apenas 18% dos assentos das administrações da Fortune 500.
Além disso, o crescimento médio da representação minoritária nos diretores das companhias da Fortune 500 – uns insignificantes 0,5% ao ano – não se alterou desde 2004. A esse ritmo, os autores do relatório estimam que levaria mais 50 anos para as minorias conseguirem 40% dos lugares nas administrações das grandes empresas norte-americanas.
Com a pressão a aumentar (para já, no sentido das empresas respeitarem a igualdade do género, nalguns casos com quotas para garantir a representatividade das mulheres nas administrações de empresas), estes dados da Deloitte mostram o caminho que falta percorrer.
Jason Wingard, colaborador da Forbes e especialista em estratégia organizacional e tendências do mundo do trabalho, destaca quatro empresas que estão a avançar no que diz respeito à diversidade do conselho e de que forma conseguiram fazer isso.
1. Merck
Embora Ken Frazier, um dos únicos CEO negros da Fortune 500, tenha renunciado ao cargo no final de junho, ele irá, por enquanto, manter a sua posição como presidente do conselho da Merck. O conselho de administração desta companhia é relativamente diversificado, com três diretores negros (21%), incluindo Frazier, e seis mulheres (42%).
As chaves para alcançar essa diversidade, de acordo com Frazier, foram duas: primeiro, “alargar o grupo de candidatos qualificados” e, segundo, garantir que “não houvesse barreiras implícitas ou sistémicas para obter os melhores talentos”.
Após o assassinato por asfixia do afro-americano George Floyd, em maio de 2020, na sequência de uma detenção policial, Frazier dá o seu testemunho, afirmando ter constatado que as conversas sobre essas questões sistémicas se tornaram mais prevalentes, tanto em casa como no mundo empresarial.
Para Frazier essa é uma lição importante para os líderes das empresas: se eles ainda não reconheceram a existência dessas barreiras sistémicas, tanto dentro como fora do contexto de negócios, os seus esforços de diversidade e inclusão irão continuar a falhar. Estar desperto e reservar tempo para reconhecer e enfrentar os desafios que se colocam ao nível do sistema é um primeiro passo crucial para qualquer líder interessado em aumentar a diversidade do seu conselho de administração, sugere Frazier.
2. Best Buy
Higgins Victor costumava ser a única mulher no conselho de administração da Best Buy. Então, em 2012, o empresário Hubert Joly tornou-se CEO e apoiou os esforços de Victor para aumentar essa diversificação. Nesse ponto, Victor disse: “Não tínhamos o objetivo de alcançar a paridade de género; decidimos trazer candidatos que tenham o conjunto de competências para apoiar as estratégias futuras da Best Buy. Simplesmente insistimos que sejam diversificados”.
A empresa prosseguiu com uma variedade de estratégias, incluindo ver além dos CEO e das redes pessoais, entrevistando uma ampla gama de candidatos e dedicando várias horas por semana à pesquisa.
“É, de facto, necessário procurar e pesquisar”, disse Victor. “Requer um processo deliberado. Às vezes é fácil desviar-se do caminho, mas tem que se voltar aos critérios de pesquisa e manter uma abordagem disciplinada”.
O conselho de 11 membros da Best Buy apresenta tem quatro pessoas de cor e cinco mulheres, incluindo o seu CEO Corie S. Barry. Em dezembro de 2020, a empresa também comprometeu 44 milhões de dólares (37 milhões de euros) para esforços de diversidade e inclusão, que incluem “transformar as nossas posições de liderança sénior para estarem mais alinhadas com o nosso conselho de administração”.
Como declarou Barry: “Estamos comprometidos nessas questões há anos – mas agora somos ousados quanto aos nossos compromissos de nos responsabilizarmos por este trabalho que prometemos fazer.”
3. HP
De acordo com o CEO Enrique Lores, o conselho de administração da HP é composto por 58% de minorias e 42% de mulheres, o que o torna um dos conselhos mais diversificados da indústria de tecnologia. Como conseguiu isso? Basicamente, construindo a equipa de administração a partir do zero depois de se separar da Hewlett Packard Company em outubro de 2015 (a empresa dividiu-se: Hewlett Packard Enterprise Company para o hardware, cloud e serviços corporativos; e HP Inc. para setor de computadores pessoais e impressoras).
“Queríamos criar deliberadamente uma liderança diversificada, trazendo pessoas com diferentes origens, educação e experiência de trabalho”, disse Nan Weitzman, chefe de recrutamente de talentos da HP que acrescenta: “Questionámo-nos: ‘De quem precisamos para prosperar?’. Tudo começa com a aposta dos líderes nesse sentido, acreditando nesse processo, discutindo esse rumo e pondo-o realmente em prática. Faz parte da conversa do dia-a-dia”.
“Queríamos criar deliberadamente uma liderança diversificada, trazendo pessoas com diferentes origens, educação e experiência de trabalho” – Nan Weitzman, HP
“Embora os líderes possam não ser capazes de reconstruir completamente o seu conselho de administração, como a HP fez, eles podem aprender com a experiência desta empresa” tecnológica, frisa Jason Wingard, colaborador e especialista em questões do mundo do trabalho da Forbes.
Este colaborador da Forbes lembra que, “frequentemente, dar passos de bebé – como adicionar alguns novos membros ao conselho de administração a cada década – não é suficiente; muitas vezes, a verdadeira mudança requer um grande abanão do ‘status quo’. Os líderes simplesmente precisam decidir se estão prontos para isso”, diz Wingard.
4. Starbucks
Em 2017, a Starbucks adicionou três novos diretores ao seu conselho de administração, tornando-o um dos mais diversificados do país. “Tentei criar um ambiente dentro da administração que fosse culturalmente semelhante ao da empresa”, disse o fundador Howard Schultz ao tempo. “Pessoas com competências de gestão, com valores semelhantes, diversificadas e profundamente comprometidas com a transparência”, apontou.
Nos anos que se seguiram, esta cadeia de cafés espalhada pelo mundo conseguiu manter esse compromisso com a diversidade. Em setembro de 2020, o seu conselho de administração era composto por 46% de pessoas de cor e 39% de mulheres; em dezembro de 2020, nomeou Mellody Hobson, a co-CEO feminina negra da Ariel Investments, como a sua presidente.
A diversidade e inclusão – conselhos de administração diversificados – não aparecem por magia. Requer intenção.
Para cimentar ainda mais o seu compromisso, em 2020, a Starbucks juntou-se à Board Diversity Action Alliance, uma organização que faz a promoção de administrações de empresas com diversidade racial.
O especialista da Forbes Jason Wingard afirma que os líderes que desejam imitar a Starbucks podem aprender a lição com a própria empresária Mellody Hobson, que em 2020 figurou na posição #94 da Forbes das Mulheres mais poderosas do mundo: “Precisamos de menos conversa de circunstância e precisamos mais de trabalho árduo… não há como escapar de obter resultados reais atualmente: as pessoas estão atentas”.
A ideia é, portanto, simples: os líderes devem trabalhar, em vez de produzir discursos, e adicionar membros aos seus conselhos de administração que sejam diversificados rapidamente.
Para Jason Wingard, se há uma coisa que os líderes podem aprender com os exemplos destas empresas é que a diversidade e inclusão – e especificamente conselhos de administração diversificados – não aparecem por magia.
“Criar um conselho de administração equilibrado requer intenção e responsabilidade. Requer tempo e comprometimento. Requer transparência e muito trabalho. Exige investimento, literal e figurativamente, daqueles que estão no topo. E, acima de tudo, requer o abandono de desculpas esfarrapadas”.