“Não é de sempre que eu quis ser jogador de futebol, foi uma coisa que aconteceu naturalmente. O futebol era a minha paixão e enquanto jovem era o que mais queria fazer, mas dava muita importância também à escola, sempre fui muito bom aluno”, conta Rúben Dias à Forbes.
Esta curiosidade que nos conta assim que ouve a primeira pergunta da Forbes, acaba por fazer ainda mais sentido quando percebemos aquilo que o move e motiva. Talvez aquilo que venha a marcar parte da sua vida pós-futebol. Mas para chegarmos a esse momento, existe todo um percurso que, até ao momento, já lhe valeu vários títulos.

Jogou no Estrela da Amadora, mas foi no Benfica que passou mais tempo, entre camadas jovens, equipa B e equipa principal. “Futebolisticamente e como pessoa, devo muito ao Benfica. Foi um clube que me deu tudo”, garante o jogador.
Foi lá que viveu aquele que considera ser um dos momentos mais desafiantes da carreira de um futebolista: quando dá o salto da formação para uma equipa principal de um clube. “Futebolisticamente falando, é do mais competitivo e do mais desafiante que pode existir. Há níveis e níveis de jogadores e tu acabas por te estabelecer naquilo que naturalmente se torna o teu nível. Mas o que é certo é que quando chega a altura da decisão final e de dar o passo em frente é uma coisa abismal, porque passas de treinar com miúdos para treinar com jogadores feitos e num nível altíssimo. Naquele momento és atirado aos leões e ou tens as armas para sobreviver ou não”, afirma.
Rúben não só teve as armas certas para vingar no clube português, como também para se destacar ao ponto de conseguir chegar àquela que considera a melhor liga do mundo. Em 2020, assinou pelo Manchester City. Desde então, já foi quatro vezes campeão da Premier League, já venceu uma Liga dos Campeões, um mundial de clubes, uma supertaça, uma taça de Inglaterra, uma taça da liga e uma supertaça de Inglaterra.
“Eu sempre disse que se alguém quer ir para a Inglaterra só por ir, para dizer que chegou, mas depois não tanto fazer parte, só estar lá no conforto, não está a ir para o sítio certo. É uma liga que te expõe a nível daquilo que é a tua ambição e a nível daquilo que são as tuas capacidades. É a melhor, é para os melhores e para conseguires atingir um nível de competitividade alto naquela liga, é porque a nível de ambição conseguiste também corresponder a essa competitividade”, diz.

O jogo
Chegar à posição a que Rúben Dias chegou, significa deixar de lado o hobby e começar a olhar para o futebol como o negócio enorme que ele é. Há cada vez mais jogos, cada vez mais dinheiro envolvido e cada vez mais pessoas a terem ou a tentarem ter uma palavra a dizer na mesa das negociações. Umas coisas trazem vantagens, outras nem por isso.
O número de jogos que cada jogador faz por ano recebe cada vez mais críticas. No momento de fecho desta edição da revista, o jogador contava com 49 jogos entre seis competições oficiais de clubes e seleção. Mas estava ainda por jogar o Mundial de Clubes que decorre ao longo de um mês, entre 15 de junho e 13 de julho.
“Acho que esta temporada já se atingiu um limite. Não tenho o conhecimento para estar a falar especificamente, mas a quantidade de lesões fala por si. Entendo que as pessoas queiram futebol e entretenimento, mas em algum momento tem de se pensar na saúde dos jogadores, porque se queremos um bom produto, tem de se preservar a qualidade desse produto e a saúde dos principais intervenientes”, defende.

No que aos valores monetários diz respeito, sejam eles salários ou valores de transferências, a opinião de Rúben é clara: “Eu acho que tudo isto, como em qualquer outra indústria, tem a ver com proporções. Podes apenas almejar aquilo que a indústria produz. Eu não tenho uma noção exata dos valores da indústria a nível global, mas diria que acima não estamos de certeza. Até diria que, se calhar, estamos abaixo”.
De acordo com o IMARC Group, o mercado mundial do futebol foi avaliado em cerca de 3 mil milhões de euros em 2024. Para que se entenda os valores praticados em relação aos jogadores: Cristiano Ronaldo detém atualmente o título de futebolista mais bem pago, com um rendimento estimado superior a 240 milhões de euros, enquanto que a transferência mais cara está fixada nos 222 milhões de euros.
Depois do jogo
Aos 28 anos, Rúben pensa e não pensa naquilo que virá a seguir. Por um lado, não está num momento em que o fim da carreira já esteja muito próximo, mas por outro sabe que tem de o preparar para não ser apanhado de surpresa. Com isso em mente, e uma vez que falamos de um jogador que chegou cedo aos grandes palcos da modalidade, o que é afinal mais difícil na carreira de um futebolista: o sucesso chegar demasiado cedo ou a noção de que tudo isto acaba demasiado cedo?
“Eu diria que ter noção de que isto acaba talvez seja o mais difícil, porque é a perspetiva mais escondida. Acho que acaba por ser uma verdade mais mascarada e por vezes apanha muita malta de surpresa. Às vezes estamos a pensar tanto no presente e no que está a acontecer agora que pode não se pensar tanto no futuro. Não foi o meu caso, sempre prestei muita atenção àquilo que vai ser o meu pós-carreira. Penso agora e já penso desde os meus 18 anos, porque faz tanto parte do caminho como o sucesso”, diz.

A primeira coisa que vai fazer assim que terminar a carreira já está definida: “Nos primeiros seis meses gostava de viajar pelo mundo e não pensar em mais nada. Voltar apenas quando sentisse que era a altura de voltar”. Em relação ao futuro profissional, vai preparando cenários, mas sente que só saberá mais tarde, quando tiver tempo para parar e ouvir-se a si próprio.
Uma coisa ficou clara, a responsabilidade social está mais presente na vida de Rúben Dias do que se consegue ver ou sequer imaginar. E há uma área em que é importante para o jogador ter impacto – recuperando a citação inicial deste artigo. “Uma coisa que me motiva muito é a educação. É uma área na qual quero impactar, na qual quero estar presente e quero ser um nome no qual as pessoas associem a intenção de cuidar da educação. Reconheço que seja uma das coisas mais importantes da vida, por todas as razões. O facto de gerar oportunidades, de dar qualidade de aprendizagem a jovens mentes, é algo que a mim me motiva e me dá vontade de perseguir”, conclui.
(Artigo publicado na edição de Junho/Julho 2025 da Forbes Portugal)





