Há uma década que o Observatório da Sociedade Portuguesa/ Behavioral Insights Unit da Católica Lisbon analisa os principais indicadores sociais, económicos e institucionais do país. O estudo tem como objetivo acompanhar o desenvolvimento destes indicadores e aferir o grau de felicidade dos portugueses, a sua qualidade vida, a satisfação com a saúde, a sua confiança na economia, no Governo, nas instituições. E a conclusão do estudo de 2025 é que os portugueses apresentam níveis de felicidade historicamente elevados – face à avaliação dos últimos 10 anos – mas, curiosamente, apresentam sinais de preocupação estrutural em áreas fundamentais como a saúde e a habitação.
Assim, segundos os dados deste estudo, 71% dos inquiridos declararam-se felizes e 9,3% muito felizes. Como consequência, também o grau de satisfação com a vida atinge o valor mais elevado desde que a Católica realiza este estudo: 73,4% dos indivíduos inquiridos afirmam-se satisfeitos e 8,7% muito satisfeitos.
No estudo deste ano apenas 22,7% dos inquiridos referiu que gastar mil euros era suficiente para a despesas mensais, enquanto que há um ano essa percentagem era de 63,2%.
Segundo a Católica, estes resultados superam os níveis pré-pandemia e consolidam uma tendência de recuperação da satisfação, sustentada no bem-estar individual. No entanto, não há bela sem senão: a insegurança em relação ao futuro continua a ser uma questão relevante a impactar o bem-estar. Foram 28,6% os indivíduos que se mostraram insatisfeitos ou muito insatisfeitos nesta dimensão. Também na área da saúde a insatisfação é grande: embora 77,5% dos inquiridos avaliem o seu estado de saúde como bom ou superior, apenas 6,6% o consideram ótimo, sendo este o valor mais baixo desde 2015.
Também no que toca aos dinheiros, a percepção é pouco satisfatória, já que a 48,7% dos portugueses considera que o rendimento do seu agregado familiar “dá para viver” e apenas 12,7% afirma que “dá para viver confortavelmente”. Os dados mostram ainda que houve uma reavaliação do valor mínimo para cobrir as despesas mensalmente as despesas familiares. No estudo deste ano apenas 22,7% dos inquiridos referiu que gastar mil euros era suficiente, enquanto que há um ano essa percentagem era de 63,2%. E, naturalmente que a percentagem daqueles que indicavam precisar de mais de 1.500 euros subiu de 10,7% para 44,8%. Ora isto demonstra bem o aumento do custo de vida. Assim sendo, poupar tornou-se ainda mais relevante, com 62,6% dos inquiridos a mostrar interesse em fazê-lo.
“A edição de 2025 do Observatório revela um país a duas velocidades: uma esfera privada marcada por elevados níveis de felicidade e satisfação pessoal e uma esfera coletiva atravessada por ansiedade e desconfiança face a problemas estruturais que permanecem por resolver, como a habitação e a saúde”, diz Rita Coelho do Vale.
Já o ICE – Índice de Confiança Económica permanece negativo nos menos 10,6, mas melhorou 5,5 pontos percentuais face a julho de 2024, confirmando uma trajetória gradual de recuperação das expectativas económicas. “A edição de 2025 do Observatório revela um país a duas velocidades: uma esfera privada marcada por elevados níveis de felicidade e satisfação pessoal e uma esfera coletiva atravessada por ansiedade e desconfiança face a problemas estruturais que permanecem por resolver, como a habitação e a saúde. Este desfasamento constitui um dos sinais mais relevantes da sociedade portuguesa atual”, refere a propósito Rita Coelho do Vale, professora da Católica Lisbon School of Business and Economics e coordenadora do estudo.





