Portugal encontra-se hoje num ponto decisivo na disputa pelos investidores de topo do mercado imobiliário internacional. Durante a última década, o país destacou-se pela segurança, estabilidade, qualidade de vida e pela reputação crescente no panorama global. No entanto, enfrenta agora uma concorrência cada vez mais intensa. Destinos clássicos do luxo, como França, Itália, Espanha ou Suíça, continuam a beneficiar de uma história consolidada, infraestruturas robustas e ecossistemas culturais profundamente enraizados.
Ao mesmo tempo, países emergentes como a Croácia e a Grécia afirmam-se com propostas competitivas, combinando beleza natural, investimento estratégico em turismo de gama alta e políticas fiscais atrativas. O desafio para Portugal não reside apenas em acompanhar esta evolução, mas em saber diferenciar-se num mercado onde o cliente de luxo é mais sofisticado, informado e exigente do que nunca.
O que distingue Portugal começa por ser o que não se fabrica: a segurança, o clima temperado, a hospitalidade, a estabilidade social e política e uma qualidade de vida reconhecida internacionalmente. O país oferece um estilo de vida autêntico, equilibrado e culturalmente rico, capaz de atrair compradores que valorizam não apenas o imóvel, mas o contexto em que pretendem viver, investir ou passar longos períodos. A escala humana das cidades, a gastronomia, o mar sempre por perto e a facilidade de integração são fatores que continuam a pesar fortemente na decisão destes investidores globais, especialmente num contexto internacional marcado por instabilidade crescente.
No entanto, para competir com destinos tradicionais do luxo, Portugal precisa de reconhecer que a comparação não se faz apenas ao nível da qualidade de vida. O comprador sofisticado avalia acessibilidades, infraestruturas, consistência regulatória, eficiência administrativa e capacidade de resposta do mercado. Em muitos destes aspetos, países como França, Suíça ou Itália beneficiam de construção reputacional. Portugal, apesar do enorme progresso, ainda enfrenta processos urbanísticos lentos, oferta limitada em zonas prime e alguma imprevisibilidade regulatória que afeta o planeamento de investimento. Estes pontos não anulam o potencial do país, mas mostram onde é necessário atuar para não perder terreno.
O que pode parecer um obstáculo é, contudo, também uma vantagem: a maturidade do mercado português oferece confiança, liquidez e previsibilidade, que são fatores essenciais para investidores que valorizam estabilidade e proteção patrimonial.
Para se manter competitivo, Portugal precisa de reforçar aquilo que já o diferencia, ao mesmo tempo que eleva as suas exigências internas. A valorização do património arquitetónico, o investimento em mobilidade e conectividade, a qualificação dos centros urbanos e a estratégia de atração de residentes e empresas internacionais devem continuar a ser prioridades.
A estabilidade fiscal é outro ponto crítico: o mercado de luxo responde mal a mudanças bruscas e imprevisíveis, e políticas claras, duradouras e transparentes são decisivas para manter o país na rota dos grandes investidores. Também o setor imobiliário, enquanto indústria, tem aqui um papel fundamental. O profissionalismo, a especialização e a capacidade de antecipar tendências tornaram-se elementos essenciais para quem opera neste segmento.
O comprador premium procura confiança, rigor e acesso a oportunidades que não estão completamente expostas ao mercado. A relação de assessoria especializada, que acompanha o cliente desde a primeira análise até à decisão final, é hoje um dos grandes ativos competitivos de Portugal, sobretudo face a mercados emergentes onde esta cultura ainda está em construção.
Em 2026, o verdadeiro desafio para Portugal não é competir com França, Itália ou Espanha pelo estatuto de mercado histórico, nem com a Grécia ou a Croácia pela novidade. O desafio é assumir uma posição clara: a de um país maduro, seguro, moderno, sustentável e global, capaz de oferecer uma qualidade de vida ímpar e um ambiente económico estável para investimento de longo prazo. Portugal não precisa de replicar o que outros fazem; precisa de aprofundar aquilo que faz melhor. Se conseguir consolidar esta identidade, e reforçar a eficiência administrativa, a previsibilidade fiscal e a oferta qualificada, continuará a conquistar um segmento de compradores que não procura apenas uma casa, mas um lugar no mundo onde a vida pode acontecer com tempo, com serenidade e com sentido.
Beatriz Rubio,
CEO da RE/MAX Collection





