“O Legado da Identidade” foi um dos temas que marcou a edição de 2025 da Forbes Annual Summit. Moderados por Paulo Marmé, editor online da revista, Mariana Lobato, velejadora olímpica, Miguel Câncio Martins, arquiteto e proprietário da Quinta da Comporta, e Marta Teixeira, assessora da administração do grupo Porto Editora, falaram sobre como os artistas, desportistas e pensadores projetam Portugal no mundo, preservando raízes e criando narrativas sobre nós próprios.
A promoção da língua portuguesa e da imagem de Portugal foi um dos primeiros tópicos abordados. “Já Fernando Pessoa dizia: a minha pátria é a promoção da língua portuguesa. Temos de começar por ensiná-la e a Porto Editora faz esse trabalho”, afirmou Marta. E mesmo numa altura de rápida mudança, o trabalho tem de continuar, só que com uma dose de adaptação. “Na nossa opinião, apesar de termos sempre de nos adaptar a este novo mundo, uma coisa não substitui a outra. Há 80 anos a Porto Editora começa com livros físicos, mas depois vai acompanhando porque o mundo vai evoluindo nesse sentido. Tem que haver um equilíbrio entre a tradição e a inovação. A promoção da língua é o mais importante, não importa propriamente o formato”, continua, falando sobre o crescimento do mercado de audiolivros.
Essa promoção da língua portuguesa pode ser feita, também, através da promoção dos autores portugueses. Mantendo sempre os autores clássicos e o seu legado, é também importante “conseguir trazer novas vozes e livros com temas que as pessoas se revejam”, defendeu Marta. “Vivemos numa sociedade com hábitos de leitura muito baixos, apesar de terem vindo a crescer desde a pandemia. É de facto importante ter novos autores para que as pessoas se possam rever nesses livros, para criar hábitos de leitura. Quais são os temas que as pessoas procuram? Que temas criam empatia? É uma antecipação das tendências. Tentar perceber em que vozes o publico português se revê e depois transformar para formato livro”, acrescentou.
Já Mariana, que representa frequentemente Portugal no estrangeiro, garantiu que o país já não é conhecido apenas pelo bacalhau ou o pastel de nata. “Olham para nós como um país pequeno, mas poderoso e resiliente”, disse.
A própria Mariana e o desporto no geral são uma bandeira de Portugal no estrangeiro, mas a presença lá fora também pode trazer muitos ensinamentos. “Há alguns exemplos de fora que podemos trazer para Portugal, mas às vezes vivemos encostados: pronto, assim está bom. Nós somos muito bons, mas um bocadinho a nível individual, com estrutura acho que conseguimos chegar mais longe”, afirmou.
Para isso é preciso também uma boa dose de disciplina.
“É a disciplina que nos leva à excelência. Sermos disciplinados e não estarmos só satisfeitos, querermos chegar mais longe e sermos os melhores. Lembro-me de estar a treinar imenso, ainda não sabia bem para que projeto, e alguém me perguntou porque estava a treinar se não sabia o que ia fazer. Realmente a mentalidade das pessoas muda tudo. A minha sempre foi: ainda não sei para onde vou, mas quero estar preparada”, disse.
Para Miguel, a identidade foi um fator muito importante no projeto da Quinta da Comporta. “Passava naquele espaço onde sempre pensei fazer um hotel”, recordou. Mas fez questão de garantir que o espaço se mantinha fiel a ele próprio. “Temos o gosto pela natureza, por ter sido preservada. Respeitámos desde a construção, arquitetura, a parte social, organização, escolhas, materiais, soluções técnicas. A arquitetura mexe com isto tudo. Na Quinta da Comporta foi desde o início uma preocupação”, disse.
Ainda assim, mencionou algumas dificuldades no percurso. “O nosso grande problema é as legislações, os processos, licenciamentos. Realmente a arquitetura não é só o que se vê, a casa acabada, é todo o processo da construção, o lado técnico, sociológico. E na parte administrativa temos muito trabalho pela frente para que se possam dar as condições para trabalhar os projetos. O tempo, neste país tudo demora”, afirmou.
No final, os três oradores foram convidados a escolher uma coisa que levariam de Portugal para o mundo e uma coisa que escolheriam trazer do mundo para Portugal.
“Levava um grande autor português que é o José Saramago, tem muito a ensinar. Do mundo trazia a cultura e o quanto eles [nos países nórdicos] investem na cultura”, afirmou Marta.
Mariana acrescentou: “Levava a nossa resiliência, nós com tão pouco conseguimos fazer tanto. Traria a confiança e a mentalidade de que as coisas não param, temos de estar prontos”.
“Levava o nosso ADN para espalhar pelo mundo e trazia ADN também para melhorar tudo por cá”, concluiu Miguel.





