Como consultor franco-britânico sediado em Londres, passo boa parte do meu tempo a conversar com clientes de todo o mundo sobre as oportunidades que perspetivam para o futuro. E, cada vez mais, essas conversas convergem para o mesmo lugar: Lisboa.
É impressionante pensar no quanto a capital portuguesa evoluiu em pouco mais de uma década. Quando comecei a acompanhar o mercado, Lisboa era frequentemente descrita como “o segredo mais bem guardado da Europa”: uma cidade encantadora, autêntica e acessível, banhada pelo sol. Hoje, já não é um segredo. Lisboa entrou com confiança no palco global, posicionando-se ao lado de Paris, Londres ou Barcelona como um mercado imobiliário sério, maduro e competitivo a nível internacional.
Olhar para Portugal através de três lentes
A minha visão é inevitavelmente moldada por três mundos. Sou de origem franco-inglesa, vivo e trabalho em Londres e represento clientes que investem em Portugal. Cada um destes universos vê o imobiliário de forma distinta e, em conjunto, oferecem uma leitura fascinante sobre a ascensão de Lisboa.
De França, trago o apreço pelo património, o artesanato, as fachadas de pedra e os tetos altos, e a ideia de que uma casa deve refletir a arte de viver. Londres, por sua vez, moldou a minha perceção do imobiliário enquanto classe de ativos global: dinâmica, orientada por dados e intimamente ligada à economia mundial.
Portugal surge como um ponto de equilíbrio perfeito. Combina o charme arquitetónico e o estilo de vida descontraído do sul da Europa com um crescente profissionalismo, transparência e eficiência mais típicos dos mercados do norte. Lisboa afirma-se hoje como uma capital capaz de marcar presença nas grandes salas de reunião internacionais, sem perder o calor de um café de bairro no Príncipe Real.
Para além dos programas Golden Visa e RNH
Falar de Portugal implica reconhecer o impacto de programas como o Golden Visa e o regime de Residente Não Habitual (RNH). Durante anos, atraíram uma vaga de compradores estrangeiros – reformados, empresários, nómadas digitais – à procura de benefícios fiscais e uma base na Europa.
Mas o mais interessante é perceber como o mercado se adaptou quando esses incentivos foram reduzidos. Longe de entrar em colapso, a procura tornou-se mais equilibrada, mais madura. Os clientes já não compram por causa de um visto ou de uma vantagem fiscal: compram porque Portugal oferece qualidade de vida, estabilidade e potencial de valorização a longo prazo.
Hoje, são os fundamentals que impulsionam o mercado: segurança, boas infraestruturas, um ecossistema tecnológico em crescimento, escolas internacionais e um clima que continua a ser a inveja da Europa.
Portugal já não precisa de se promover através de políticas. Está a afirmar-se através do seu desempenho.
A maturidade de Lisboa
A transformação de Lisboa tem sido extraordinária. Uma cidade que durante décadas viveu da sua grandeza desvanecida tornou-se um exemplo de reabilitação cuidada e design contemporâneo. Do Chiado à Avenida da Liberdade, da Lapa à Estrela, bairros inteiros foram revitalizados com elegância e respeito pela história.
Até as zonas mais recentes – Parque das Nações, Marvila, Beato – contam hoje uma história de inovação, criatividade e energia urbana. É visível a ambição de uma capital que cresce depressa, mas com critério.
Os preços subiram, naturalmente, mas Lisboa continua competitiva face a cidades como Paris, Genebra ou Londres. Mais importante ainda: o mercado está saudável, não sobreaquecido. Os compradores são hoje mais internacionais, os promotores mais experientes e os projetos mais sofisticados. Lisboa deixou de ser “emergente” e tornou-se madura, com confiança e sustentabilidade.
O que os clientes procuram e como diferem
Trabalhar com compradores de diversos países oferece uma visão abrangente das suas motivações:
Franceses: costumam apaixonar-se pela estética e pelo ritmo de vida lisboeta. Apreciam os apartamentos históricos, as fachadas de azulejos e a cultura dos cafés – tudo lhes parece familiar, mas mais solarengo e descontraído.
Britânicos: especialmente no pós-Brexit, olham para Portugal com pragmatismo e estratégia. Procuram segurança, estabilidade política, exposição ao euro e bons retornos no arrendamento. Privilegiam imóveis prontos a habitar, com boa gestão e de fácil acesso.
Nórdicos e centro-europeus: suíços, alemães, escandinavos – focam-se na qualidade, na sustentabilidade e na valorização de longo prazo. Procuram padrões de construção elevados e eficiência energética.
Compradores do Médio Oriente e da América do Norte: são atraídos pelo estilo de vida e pela hospitalidade portuguesa. Preferem moradias contemporâneas ou residências com serviços e veem Lisboa como uma porta de entrada para a Europa: menos agitada do que Paris, mais acessível do que Londres.
Culturas diferentes, prioridades diferentes, mas todos chegam à mesma conclusão: Portugal oferece algo raro. Um lugar onde é possível investir bem e sentir-se em casa. E embora a maioria das conversas ainda comece pelo residencial, as oportunidades vão muito além disso. Os setores comercial e hoteleiro ganharam profundidade. O trabalho remoto e a mobilidade internacional impulsionaram a procura por apartamentos com serviços e hotéis boutique.
O que se pode esperar
As perspetivas para Lisboa permanecem sólidas. O turismo continua a prosperar, mas agora é complementado por uma economia mais diversificada: tecnologia, serviços, educação. Novas infraestruturas, como a expansão do aeroporto e a melhoria das ligações ferroviárias, reforçarão ainda mais a conectividade.
É natural que o mercado continue a ajustar-se. O acesso à habitação e a necessidade de aumentar a oferta são preocupações legítimas, e o governo terá de equilibrar o apelo internacional com as necessidades locais. Mas este debate, por si só, é um sinal de maturidade: Lisboa enfrenta agora os mesmos dilemas das grandes capitais europeias.
Para os investidores, a oportunidade já não passa por encontrar “pechinchas escondidas”, mas sim por escolher qualidade, longevidade e autenticidade. A história de Lisboa deixou de ser especulativa, tornou-se estratégica.
Da minha secretária em Londres, penso muitas vezes em Lisboa como a capital mais humana da Europa. Global, mas com os pés na terra. Sofisticada, mas simples. Oferece aquilo que muitos de nós – e os nossos clientes – procuramos discretamente: uma sensação de permanência num mundo imprevisível.
Quando me perguntam como Lisboa se compara com outras capitais, costumo resumir assim: Paris é intemporal. Londres é global. Lisboa é equilibrada.
O mercado imobiliário português já não precisa de explicações. Hoje, fala por si.
Alex Montier,
Senior Advisor na Athena Advisers





