No que respeita à inovação, Portugal é a prova de que o tamanho não interessa. Contudo, atualmente, mais do que criar, é fundamental garantir que o que se cria é economicamente sustentável.
Isto é: além de gerar lucro, as inovações devem ter o menor impacto ambiental possível, contribuir para o bem-estar social e ser viáveis a longo prazo. Contudo, não devemos confundir viabilidade a longo prazo com “quanto mais durável, melhor”!
É aqui que reside a principal diferença entre o passado e o futuro, sobretudo quando falamos de tecnologia. As necessidades atuais levam-nos a acreditar que a tecnologia deve durar exatamente o tempo que for útil (a sua Vida Útil Apropriada), de modo a evitar que o excesso de durabilidade origine mais resíduos, mais custos e mais impacto ambiental.
Quando falamos em economia verde, Portugal tem os recursos naturais – abundantes, renováveis e versáteis – para concretizar esta transição, mas falta ambição à escala do desafio. Mudar implica uma alteração para a qual muitas empresas ainda não estão preparadas. A experiência demonstra que não é possível passar a ser sustentável mantendo todos os hábitos e processos originais.
A abordagem à inovação sustentável passa pelo desenho de soluções que possam ser cost-effective, procurando gerar o mínimo de impacto nos processos produtivos e cadeias de abastecimento, competindo, dentro do possível, com soluções concorrentes não sustentáveis. No entanto, isso nem sempre é possível.
Na maioria das vezes, precisamente por ainda não haver escala, há algum impacto em termos de custo. Mas, se o diferencial for reduzido, a adoção destas tecnologias, podendo implicar um custo adicional imediato, poderá vir a traduzir-se numa vantagem competitiva real das empresas que as adotarem a médio prazo; e, mesmo no curto prazo, se bem comunicado, poderá haver espaço para compensar esse custo com um ajuste no preço.
Mudar implica valorizar a novidade! Se queremos apostar na economia verde, então as soluções sustentáveis devem ser privilegiadas em detrimento das convencionais. Por exemplo: uma etiqueta RFID convencional, com chip de silício, antena metálica e, por vezes, ainda uma bateria, custa muito mais que uma etiqueta RFID sem chip biodegradável, sendo que o seu custo real – ambientalmente falando – é ainda mais elevado. Quem adota a “solução verde” deve ser compensado.
Portugal foi pioneiro em inovações tecnológicas e digitais que se tornaram referências mundiais, como é o caso do Multibanco ou da Via Verde, porque responderam a necessidades reais e eram inovações técnicas que surgiram num contexto regulatório estável.
No caso da economia verde, este é o momento de viragem. Portugal está em condições de liderar esta transição porque tem os recursos naturais, o talento científico, a agilidade empresarial e as infraestruturas de inovação.
Reunidas as condições e a vontade, estou convicto de que daqui a duas décadas a eletrónica biodegradável será uma nova inovação Made in Portugal com capacidade de fazer a diferença a nível mundial.
Carlos Silva,
Presidente e CEO AlmaScience





