Num momento em que o conceito de imprevisibilidade deixou de ser exceção para se tornar regra, as PME portuguesas enfrentam a necessidade de olhar para o futuro com menos temor e mais capacidade de transformação. Foi neste tom que Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, subiu ao palco da primeira edição do ‘Forbes PME Power 2025’, em Leiria, para deixar um recado claro às empresas portuguesas: inovar já não é uma opção, é a única forma de liderar.
Reconhecendo o mérito das empresas distinguidas no evento, Maciel enalteceu a força vital que representam na economia nacional. “São de facto os heróis da nossa economia, são de facto aqueles que empurram a nossa economia para a frente”, afirmou, sublinhando que Portugal só continuará a crescer se multiplicar o número de empresários capazes de arriscar, criar e transformar.
O foco: inovação com impacto. Uma inovação real, não a que se exibe em laboratórios futuristas, mas a que converte conhecimento em valor tangível. “Inovar não é só ter máquinas brilhantes, não é só ter laboratórios futuristas ou slogans inspiradores, é transformar conhecimento em valor”, defendeu. Para Bernardo Maciel, a inovação exige coragem, visão e a capacidade de criar o que ainda não existe ou melhorar de forma disruptiva o que já está estabelecido.
Um mundo sem estabilidade
O especialista em financiamento, incentivos e aceleração empresarial recordou que não há planeamento empresarial possível sem compreender o ambiente em que se investe e referiu o economista Nouriel Roubini que resume a economia atual com aquilo a que chama os “4 U’s”: unusual, unprecedented, uncertain and unexpected. Um mundo marcado por conflitos geopolíticos simultâneos, cadeias logísticas perturbadas, líderes imprevisíveis e guerras tecnológicas invisíveis, como os ciberataques, tornou a incerteza permanente. “Vivemos um período bastante inusitado da economia, o inesperado deixou de ser a exceção, passou a ser a regra”, vincou.
Perante esta realidade, só há uma forma de liderar: inovar. A afirmação ecoa um pensamento clássico de Joseph Schumpeter, que o CEO da Yunit trouxe à plateia: o crescimento sustentado de uma economia está assente na substituição constante do velho pelo novo. “A economia progride quando o novo substitui o velho”, citou, reforçando que a competição não é uma ameaça, mas sim o motor que obriga as empresas a melhorar.
As ferramentas por explorar
Maciel assumiu uma convicção: Portugal está num momento excecional para captar investimento de qualidade. “Nós temos que pensar que estamos num momento fantástico (…) Portugal é procurado por estudantes para aprender melhor e por investidores de economias sofisticadas que nunca decidem investir pensando no curto prazo.” O desafio passa, então, por transformar essa oportunidade em capacidade produtiva, competitividade e escala empresarial.
Para isso, as empresas têm em mãos um arsenal de instrumentos de financiamento que exigem competência, antecipação e visão estratégica. Portugal 2030, o PRR, benefícios fiscais e outros mecanismos podem ser decisivos, mas apenas para quem os prepara com rigor. “São alavancas fundamentais para poder fazer melhor, para poder fazer diferente, para poder ter um caminho de sucesso”, avisou.
Entre os programas com maior relevância futura, o especialista destacou o programa Inovação Produtiva, previsto para janeiro de 2026, com 370 milhões de euros. Contudo, a pressão será máxima: “Só os melhores projetos triunfarão, só aqueles que terão apoio nos sistemas de incentivos.” A mensagem implica outra realidade estrutural: o problema da capitalização das PME. “Uma das principais dificuldades que as nossas empresas têm (…) é sobretudo a capitalização”, alertou, defendendo uma maior articulação entre fundos, banca e capital de risco.
Do laboratório ao mercado
Maciel apontou ainda o hiato que separa a Europa de outras potências mundiais: a dificuldade histórica de transformar investigação em produto e mercado. Mais do que inventar, trata-se de aplicar. “A grande dificuldade (…) é passar da investigação e desenvolvimento ao produto e ao mercado”, afirmou, defendendo que inovar exige menos medo de testar, falhar, corrigir e lançar.
O CEO encerrou com a ideia que norteia a sua visão: a inovação não é um fim, é uma ponte. “A inovação é como uma ponte entre o país que nós temos e o país que nós queremos ter”, afirmou. Atravessá-la exige coragem, consistência e investimento, mas, sobretudo, empresas que não se limitem a existir e que se atrevam a construir o futuro.
A Forbes Portugal promoveu a iniciativa PME Power 2025 em parceria com a Iberinform e a Câmara Municipal de Leiria e o apoio da Cegid, Crédito Agrícola, Chanceplus, Ó Capital, RQA Construção e Yunit Consulting.




