Ao longo da edição de 2025 da Web Summit, em Lisboa, a Startup Portugal preparou dois anúncios. Primeiro, a nova edição do ranking das Universidades mais empreendedoras e, em segundo, o mapeamento das startups em Portugal 2025. Estes e outros tópicos foram tema para uma conversa com Alexandre Santos, presidente da Startup Portugal.
O Alexandre chegou ao cargo de CEO da Startup Portugal recentemente, com que objetivos assumiu este cargo?
Em primeiro lugar, porque quero, nesta fase da minha vida, ajudar ainda mais ao sucesso das startups portuguesas. Já sou há mais de 14 anos investidor em startups. Comecei como Business Angel, depois virei profissional na arte de investir em startups, tenho investido em todo o mundo e agora quero mesmo tentar ajudar a fazer crescer o nosso movimento de startups a nível global.
E em relação a esta edição da Web Summit em particular, que objetivos é que traçaram?
Nesta edição estamos a fazer muita coisa em continuidade em relação às edições anteriores. Estamos a trazer 115 startups no Road to Web Summit, para terem mais destaque e mais visibilidade em relação àquilo que estão a fazer. Curiosamente, mais de 50% já não são nem do Porto, nem de Lisboa, o que é também interessante e importante referir. Nós já apoiámos mais de mil empresas ao longo destas edições todas para terem mais suporte na sua viagem enquanto startups.
Quais são as maiores vantagens e desafios para uma startup instalada em Lisboa atualmente?
Estamos numa fase em que estar em Lisboa não traz grandes diferenças nem desvantagens face a outros grandes centros, onde há imensas startups. Acho que Lisboa está claramente no mapa no que toca a tudo o que tem a ver com startups a nível mundial. Acho que é um ótimo sítio para ter e atrair talento. Há cada vez mais expats com vontade também de se fixarem cá e, portanto, conseguimos não só ter acesso a talento local, mas também talento que vem de todo o mundo. E acho que em termos geográficos é até um bom ponto no mundo, porque permite estar muito próximo de vários continentes. Estamos na ponta da Europa, mas muito perto de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Também temos boas ligações para a América Latina e para África.
Tem tudo que é preciso. Há investidores, há excelentes incubadoras, excelentes universidades, excelente acesso a talento. É uma cidade boa onde se pode viver e trabalhar. E acho que nesse aspeto marcamos muitos pontos acima de muitas outras cidades. Nas cidades que são um bocado maiores é mais difícil garantir que temos a receita certa. Quando se arranca com startups não é necessariamente bom viver numa cidade muito grande, a pessoa tem que ter um bocado de foco, não pode perder demasiado tempo em algumas coisas.
Foi por isso que afirmou recentemente que é muito mais fácil um país pequeno como Portugal competir à escala global?
Sim, porque acho que estamos num momento em que as barreiras a criar qualquer coisa em qualquer parte do mundo desceram brutalmente. Nomeadamente agora com esta nova onda de inteligência artificial, já se fala muito que pode haver uma pessoa a criar o primeiro unicórnio totalmente sozinho, a trabalhar remoto algures no mundo. E isso acho que é uma vantagem para países mais pequenos, porque temos uma fighting chance, temos uma maior probabilidade de realmente criar as próximas grandes empresas. E acho que há outra grande vantagem que estou sempre a referir que é: eu falo com imensos empreendedores pelo mundo todo e sempre que falo com os portugueses noto que eles, desde cedo, nomeadamente aqueles que estão mais ambiciosamente a pensar no seu projeto, estão a pensar em montar as coisas em termos comerciais fora de Portugal. Isso dá uma grande vantagem porque desde cedo eles estão a tentar incutir na empresa a cultura, os processos e tudo o que estão a fazer, estão a vender de uma forma global desde o dia zero. Isso é muito diferente quando, por exemplo, se vai falar com um alemão que está na Alemanha, que é mais conservador, tem um mercado muito maior e que está muito, se calhar, a pensar na Alemanha, Áustria e pouco mais no início em termos de exploração comercial. Depois vai ter mais dificuldade em trabalhar isso quando precisar realmente de crescer para fora.
Quais são os erros mais comuns que os empreendedores cometem quando lançam uma startup?
Se fosse evidenciar um, pela minha experiência, é que ficam demasiado enamorados e preocupados no início com o produto e a tecnologia que vão desenvolver, sem realmente perguntar e ir atrás de potenciais clientes, entender o que é que eles realmente querem e se teriam disponíveis para comprar aquilo que a startup está a querer desenvolver e por quanto. Demoram demasiado tempo a testar o mercado e a perguntar ao mercado: aquilo que estou a desenvolver realmente faz sentido?
Quais é que são as áreas de maior destaque atualmente?
Eu passo a vida a aprender e a ver novas coisas, novas startups. Pessoalmente, além obviamente de achar fascinante aquilo que hoje em dia é possível fazer com o uso da inteligência artificial, eu gosto muito da nova geração de startups que está a trabalhar em temas ligados à saúde, porque acho que realmente vão ter um impacto extremamente relevante na vida de todos nós. Aquelas startups que vão fazer bom uso da inteligência artificial para trabalhar em medicina mais personalizada, investigação, que pode ter aplicação no mercado muito mais rápido.

Recentemente lançaram o Scale Up Now, um programa que prepara as startups para expandir com foco nos Estados Unidos em particular. Considera que a grande dificuldade das startups atualmente está no processo de internacionalização?
Sim. Uma das grandes funções que nós temos na Startup Portugal, e que queremos reforçar, é dar acesso ao mundo às startups. Dar-lhes mundo, dar-lhes network, dar-lhes acesso a mercados. Isso é muito difícil. Esse programa visa precisamente trabalhar essa vertente, nomeadamente em colaboração com os Estados Unidos. Para quê? Para termos logo uma ponte muito mais privilegiada para as startups que nós queremos levar para lá e eles terem logo acesso a um conjunto de pessoas que os poderão ajudar, sobretudo no desenvolvimento de negócio, isso é a melhor fonte de financiamento, é ter clientes a pagar e depois obviamente terem acesso também a investidores internacionais.
Porquê os Estados Unidos?
Acho que é incontornável no mercado global, é um dos maiores mercados em termos de tamanho, se calhar é mais fácil entrar e fazer negócio, representa mais de 50% do investimento em capital de risco também. É um mercado que eu acho que é muito natural para qualquer startup que queira crescer num contexto global. A Europa é mais complexa porque está um bocadinho mais fragmentado do que queríamos e não há um mercado único, não há, por exemplo, uma forma célere de pôr uma empresa a vender logo rapidamente em todos os países da Europa. Há agora um conjunto de iniciativas das quais também fazemos parte para termos o regime 28, que é precisamente permitir que, a partir do momento que crias uma empresa em Portugal ou no Luxemburgo, passes a ser uma empresa europeia e isso dá-te logo acesso a todos os mercados. Ainda falta isso na Europa.
O atual momento político nos Estados Unidos, e algumas das decisões tomadas nos últimos tempos, não estão a afetar as startups?
Eu já vivi lá e os Estados Unidos são um país engraçado: pode haver muito barulho a nível político, mas a arte de fazer negócio está sempre lá e é pouco afetada pelo ruído que anda à volta, está sempre pouco permeável a estas convulsões políticas.
Como é que explica o impacto económico que as startups podem ter em Portugal?
Há vários estudos que dizem que por cada euro investido numa startup a economia ganha sete, o que tem um efeito de contágio em termos de atividade económica. Porquê? Porque em média as empresas que são startups, como têm uma definição de serem mais inovadoras e disruptivas, o valor que acrescentam face a outras empresas, face a uma PME tradicional, é brutalmente superior. É por isso que também, em média, as pessoas que trabalham nas startups ganham mais, porque também são pessoas que estão a trabalhar em áreas mais ligadas ao conhecimento. O efeito multiplicador do dinheiro é muito maior nesse sentido. Acho que há um efeito de contágio extremamente positivo para a sociedade num todo e nós temos cada vez mais empresas que têm o carimbo de serem startups a vender a uma escala global. Hoje em dia já temos 5 mil startups em Portugal, representam 1% do PIB, mas estão a exportar 1,5% a nível nacional. Exportam muito mais do que uma empresa ‘normal’. Isto só vai aumentar com o tempo. Nós estamos todos a dizer que temos cada vez mais startups no mercado porque o número de startups que nascem é maior do que aquelas que morrem e, portanto, tem um efeito de criação de riqueza claramente positivo para o país.
O que nos pode dizer em relação aos dois anúncios reservados para a Web Summit?
Em relação ao ranking das universidades, nós já fazemos isso há algum tempo. Uma das coisas que nós queremos trabalhar mais nas startups em Portugal é: nós temos de ter mais fundadores a nascerem todos os anos e há muito conhecimento e muitos projetos interessantes que começam na faculdade e morrem na faculdade. Estamos a evidenciar quais são as universidades que estão no topo da geração de empresas que nascem dos seus ex-alunos e professores. É extremamente importante, porque nós temos de fomentar mais o bichinho de ser empreendedor. É preciso ter um bocado de dose de loucura e de coragem para virar empreendedor, é muito difícil criar uma empresa do nada, e o ranking das universidades tem esse papel. Nós evidenciarmos à escala nacional quais são as universidades que estão a fazer melhor o seu trabalho na vertente de fomentar a transferência de conhecimento para o mundo do empreendedorismo. E nós temos, junto com outras iniciativas, de ir às universidades e tentar convencer mais gente a dar o salto.
Em relação ao segundo anúncio, o facto de nós estarmos a evidenciar que agora temos 5091 startups versus as 4716 que tínhamos no ano anterior, é precisamente para mostrar que nós estamos a crescer. E vamos crescer ainda mais. Curiosamente, mais de 70% destas startups nasceram nos últimos cinco anos, ainda estão no início da sua viagem e isto é realmente um efeito bola de neve que só vai ser positivo para nós. À medida que temos, por exemplo, mais startups a virarem unicórnios ou a chegarem a uma fase muito avançada, outro fenómeno que nós temos que é muito interessante é, não só o valor que elas acrescentam para a economia, mas também temos cada vez mais pessoas a sair dessas startups e a criar outras startups. Porque aprenderam imenso nessas.





