A Visa tem sido presença assídua na Web Summit com o anúncio de inovações no sistema de pagamentos e, na edição de 2025 da feira tecnológica, não é exceção. A empresa acaba de anunciar um novo projeto-piloto, através do qual, se envia pagamentos em stablecoins indexados ao dólar norte-americano diretamente para carteiras de stablecoins. Esta inovação permite aos criadores e trabalhadores independentes o acesso mais rápido aos seus fundos. Em entrevista, em exclusivo à Forbes Portugal, a country manager da Visa Portugal, Rita Mendes Coelho, explica não só que esta novação responde aos quatro pilares em que a empresa assenta – inovação, conveniência, fiabilidade e segurança –, como ajuda a democratizar o acesso a quem está em regiões sub-bancarizadas ou onde não existem contas bancárias em dólar.
A Visa participa mais uma vez na Web Summit com um novo anúncio em termos de inovação nos meios de pagamento. Em que assenta este novo projeto da Visa?
Como é de conhecimento público, temos estado na vanguarda na inovação nos pagamentos digitais e facilitamos as transações em mais de 200 países. Este projeto-piloto com as stablecoins, especificamente, representa um passo muito importante na missão da Visa de ligar o mundo através de uma rede de pagamentos que tenha quatro pilares fundamentais: inovação, conveniência, fiabilidade e segurança, que têm sido sempre os quatro pilares fundamentais do que quer que a Visa faça. Por isso, estamos comprometidos com a segurança, com o cumprimento regulatório, obviamente, em todas as nossas operações, incluindo as operações relacionadas com as stablecoins e nunca é demais referir isto. Temos uma visão de tudo, em que os pagamentos digitais são acessíveis a todos e que posicionam o crescimento económico e o estado financeiro. Isto é muito importante porque, no caso da stablecoins, vemos vários use cases. O primeiro use case que foi sempre muito falado foi o do mercado de capitais, portanto, de trading. E agora vemos dois use cases novos a surgir que, apesar de indexados ao dólar, são maioritariamente utilizados fora dos Estados Unidos. As stablecoins são sim uma solução inovadora de pagamento e a Visa está a ver um particular dinamismo nestas oportunidades, neste segmento em específico. Atualmente, o que temos já in place, portanto, já a ocorrer são 130 programas de emissão de cartões ligados a stablecoins em mais de 40 países, dentro e fora dos Estados Unidos, pela necessidade que existe em utilizar estas moedas em países que tenham maior volatilidade cambial, ou o dólar seja mais caro. Estamos a começar a permitir que os bancos possam imitir e resgatem as suas próprias stablecoins com VISA tokenized asset platform. Vamos anunciar na Web Summit um projeto-piloto muito inovador que vai permitir que as empresas enviem pagamentos diretamente para carteiras de stablecoins.
Na prática, como é que esta solução se concretiza?
Para as empresas que usam o Visa Direct, que é um dos nossos rails para movimentação de dinheiro, é um dos nossos canais para movimentação de dinheiro, os pagamentos podem ser financiados em moeda fiat [fiduciária], enquanto os destinatários podem optar por receber estes fundos em stablecoins indexadas ao dólar, como por exemplo o USD Coin [moeda estável digital que está ligada ao dólar dos Estados Unidos]. Obviamente isto se transforma em rapidez e acessibilidade dos pagamentos globais que temos à data com a Visa. Este recente piloto com a nossa plataforma de Visa Direct permite que as plataformas e as empresas enviem pagamentos diretamente para carteiras de stablecoins, que é bastante inovador, portanto, a expressão em inglês é groundbreaking, que é bastante inovador para os utilizadores, para os trabalhadores e para os colaboradores, em vez de ir para um cartão ou uma conta bancária. Portanto, vai diretamente para wallets de stablecoins com fundos entregues em stablecoins, indexadas em dólar, portanto, USDC.
Com este anúncio a Visa dá mais um passo em frente na inovação…
Este anúncio é um bocadinho diferente do fizemos em setembro. O anúncio em setembro permitia às empresas financiar pagamentos Visa Direct, portanto na mesma plataforma, utilizando stablecoins, em vez de apenas moeda fiduciária. Era uma inovação de tesouraria. Com o piloto de hoje vamos um passo à frente, já que, permite fazer pagamentos a destinatários finais, como consumidores, em stablecoins. Colocando dólares digitais diretamente na carteira dos destinatários. Portanto, estamos a distribuir stablecoins através de Visa Direct.
Com que entidades é que este projeto-piloto arranca?
Temos parceiros selecionados, com quem já estamos a fazer, com quem já estamos em roll out neste piloto. Está prevista uma expansão na Europa à medida que o apetite cresce para este tipo de moeda e a procura dos clientes evolui, portanto, consoante a procura dos consumidores evolui. Sempre dentro, dos parâmetros regulatórios, do enquadramento regulatório que, para nós, é absolutamente fundamental.
Esta expansão na Europa irá ocorrer à medida que o apetite crescer. Mas já há uma previsão do calendário da expansão europeia?
Sim, a Visa está a integrar os parceiros selecionados. O acesso mais amplo temos previsto para 2026 e incentivamos todos os nossos clientes a manifestarem interesse à medida que o lançamento global avança. Acredito que vá perguntar especificamente sobre Portugal. Mais uma vez, o piloto começa com os parceiros selecionados e irá avançar à medida que esta expansão europeia também avance e, portanto, mais uma vez, se virmos que há procura no mercado português, sim, vamos avançar.
Mas calculo que ao lançarem este produto tenham feito os estudos de mercado e já devem ter alguma perceção do que poderá vir a ser a aceitação. Há apetite para este tipo de soluções no continente europeu?
Sim. O nosso foco é tornar os pagamentos mais rápidos, mais acessíveis, mais eficientes para indivíduos, comerciantes e para freelancers e marketplaces. A stablecoin vai para um segmento muito específico e permite aceder a fundos quase em tempo real e com flexibilidade em todo o mundo. E aqui estamos a falar em todo o mundo, não especificamente na Europa ou não especificamente em Portugal. Acreditamos que as necessidades que vamos ter em Portugal serão as mesmas necessidades que vamos ter na Europa. Estamos completamente abertos a trabalhar no mercado português, tal como estamos a trabalhar no mercado europeu.
Referiu os freelancers. Esta solução vai transformar a forma como alguns trabalhadores, criadores de conteúdo recebem os pagamentos?
Claramente. Vou dar um ou dois exemplos que, se calhar, é mais fácil de tornar tangível. Imaginemos um criador de conteúdos português que colabora com uma marca norte-americana. Tradicionalmente, este pagamento da marca norte-americana ao criador de conteúdos pode demorar alguns dias e envolver algumas taxas de conversão e de transferência, obviamente. Com este piloto, a marca pode usar o Visa Direct para enviar o pagamento em stablecoins, como o USDC, diretamente para a carteira digital do criador. Recebe estes fundos em minutos e não dias. Ou, por exemplo, uma PME de Braga que exporta equipamentos para clientes nos Estados Unidos. Recebe pagamentos via Visa Direct em stablecoins indexadas ao dólar, portanto, USDC outra vez, diretamente na sua carteira digital em minutos e 24 horas por sete dias. Pode optar por manter estas stablecoins para pagar a outros fornecedores internacionais, o que é perfeitamente possível, ou converter rapidamente estas stablecoins em euros, através de um parceiro regulado. Há uma liquidez imediata, há menos dependência de horários bancários, menos fricção nos pagamentos internacionais e mais previsibilidade do valor. Portanto, temos aqui dois casos de uso bastante diferentes, que valorizam muito a nossa economia, tanto na parte dos criadores digitais ou freelancers, ou o que seja, que trabalham muito com marcas e plataformas internacionais, como na parte da economia das PME, que nós sabemos que são 99% das nossas empresas em Portugal.
O palco deste anúncio é durante a realização da Web Summit. Até que ponto que o estar na Web Summit vai dar também esta visibilidade para este lançamento? E como é que olham para este Portugal enquanto hub tecnológico?
Portugal tem se tornado para nós um mercado absolutamente estratégico. Como disse, temos a Web Summit, que é sim um palco e uma montra onde a Visa tem querido estar presente, tem sido, aliás, uma patrocinadora fundamental e acreditamos que o ecossistema tanto de fintechs como de empresas, de PME, de tecido empresarial português, é muito robusto. Portanto, sim, com muita propensão à inovação. E por isso, também, o facto de fazermos este anúncio na Web Summit é um simbolismo disso mesmo. É um mercado que acreditamos, é um mercado na Europa que nós acreditamos, na Europa igualmente, obviamente, mas é um mercado que acreditamos e que, portanto, faz todo o sentido trazermos este anúncio.
Como é que se consegue garantir a segurança neste tipo de produtos como o stablecoin?
Isso é uma questão fundamental quando nós olhamos para stablecoins, obviamente. Para nós é muito importante a clareza regulatória, obviamente. A confiança e o compliance são a base do nosso sucesso global e da nossa escala, que, como já disse anteriormente, operamos em mais de 200 países. E o sucesso assenta-se, assim, na confiança e no cumprimento das normas de cada mercado, evidentemente. As stablecoins vão abordar este âmbito com o mesmo rigor e vamos fazê-lo sempre em diálogo constante com os reguladores, na Europa e no mundo. O objetivo é, sim, cumprir e ajudar a moldar um quadro seguro. E vamos exigir o máximo de rigor e compliance a todos os parceiros do piloto, alinhados sempre com os padrões da Visa. Nunca comprometer a segurança e a confiança que todos os consumidores e todos os nossos parceiros têm na rede, em prol do produto. Mas temos a certeza de que vamos conseguir atingir este objetivo. A confiança é a base de todo o nosso trabalho. Investimos muito em segurança e para que os nossos consumidores tenham o máximo de confiança. E qualquer parceiro que entre na rede Visa, seja de forma tradicional ou através de um regulador, passa por um processo muito rigoroso de verificação. Avaliamos a reputação tecnológica, práticas de segurança e, sobretudo, a infraestrutura de compliance deste parceiro. Só trabalhamos com quem demonstra um compromisso inequívoco com a segurança e a regulação. E isto tem de ser ponto assente para a Visa.
E há aqui uma componente de “democratizar” o acesso a pagamentos rápidos a regiões onde as infraestruturas bancárias ainda são limitadas. Até quanto é que esta inovação realmente ajuda a promover essa inclusão financeira?
Sim, é uma das vantagens que temos com este piloto, com esta solução. Ou seja, como referi, valor previsível porque está indexado ao dólar. Além disso, cada transferência que é registada é feita de forma transparente na blockchain e proporciona ainda acesso flexível para os consumidores. Podem manter, gastar e converter, como no caso da PME de Braga, as suas stablecoins. As stablecoins podem desbloquear o acesso a quem está em regiões sub-bancarizadas ou onde não existem contas bancárias em dólar. Isto é muito importante para nós. Fazemos o desbloquear de muitas outras regiões e, como diz, democratizamos o acesso ou bancarizamos regiões que não estão bancarizadas. Com esta integração, obviamente a Visa continua a liderar a evolução dos pagamentos digitais e proporcionamos pagamentos digitais onde eles ainda não existem, ligando o poder da blockchain à fiabilidade e ao alcance da nossa rede, que é a maior rede mundial de pagamentos digitais.
Essa ligação à tecnologia blockchain é o que faz a diferença, digamos assim, que faz a outros modelos ou outras soluções digitais que já estão no setor financeiro?
Não necessariamente. Eu diria que é um pouco de tudo, não é? Passa pelos protocolos da Visa, que como disse, cumprem requisitos da AML [Anti-Money Laundering] muito restritos, obviamente pela ligação blockchain. Mas na ligação blockchain já temos vários produtos que seguem este racional e depois também o facto de esta currency, portanto, estes stablecoins correrem sobre as redes da Visa, que é uma rede com milhões de end points, portanto, onde nós conseguimos expandir a escala de utilização das stablecoins.
Estão a trabalhar com os reguladores europeus ou do resto do mundo para garantir esta confiança neste novo paradigma de pagamentos digitais?
Como eu disse estamos em diálogo constante com os reguladores na Europa e no mundo relativamente a este tema das stablecoins. Mantemos e vamos sempre manter uma ação rigorosa aos protocolos de compliance e todas as entidades participantes devem e têm de cumprir os requisitos da AML. Trabalhamos com as entidades reguladoras para garantir a integridade de todo o programa que estamos a lançar e todos os programas associados a stablecoins que temos vindo a lançar à medida que a adoção das stablecoins acelera. Portanto, sim.
Referiu que Portugal é um dos mercados estratégicos na Visa global. O que é que vos faz acreditar no mercado português? E também, neste segmento dos criptoativos, se é um mercado em que há potencial para se crescer?
Sim. Em primeiro lugar Portugal tem um mercado de pagamentos altamente dinâmico, o que beneficia muito a crescimento de soluções inovadoras. Em segundo lugar, penso que é de conhecimento comum que Portugal é um país altamente exportador, portanto, temos muitas empresas que fazem pagamentos internacionais e que requerem alguns requisitos com pagamentos quase instantâneos, sem horários bancários e sem atrasos transfronteiriços e tudo isto são soluções que a Visa pode proporcionar a este tipo de empresas para que a economia se desenvolva mais rápido. E, portanto, todos estes fatores tornam o mercado português muito interessante para a Visa no que toca a desenvolvimento de mercado. E ligando a inovação, gig economy ou marketplaces ou freelancers ou criadores de conteúdo, também temos cada vez mais este nicho a crescer. Portanto, é um nicho que claramente, e este piloto é prova disto, claramente a Visa está a desenvolver e, portanto, acreditamos que também podemos dar resposta brevemente. Ou também já estamos a dar resposta na verdade.
Nesta ótica, que desenvolvimentos é que o mercado português ainda poderá esperar que tragam mais inovação?
Temos várias coisas planeadas. Isto é um anúncio de vários que vão-se fazer ao longo de 2025 e 2026. Temos várias coisas planeadas em termos de inovação que vão também ser aplicáveis ao mercado português.
O investimento na prevenção de fraudes é um dos pontos essenciais para o grupo?
Vou dar aqui alguns números que podem ser interessantes, no que toca, por exemplo, a como é que conseguimos prevenir a fraude através de inteligência artificial nos cartões e contas, neste momento, que depois também estamos a replicar isto para stablecoins. Aquilo que nós fazemos na segurança, nas contas, nos cartões, é exatamente o mesmo que estamos a fazer nas stablecoins. Temos mais de 30 anos de experiência a proteger todo o ecossistema e investimos 12 mil milhões em tecnologia nos últimos anos, isto especificamente em ferramentas de inteligência artificial que nos ajudam a prevenir fraude. O que nos tem ajudado a prevenir, anualmente, 40 mil milhões em fraude. Isto, obviamente, são números muito grandes, mas mostram a segurança do ecossistema Visa e como estamos preparados para integrar este tipo de soluções na nossa rede.
E como a Visa alia inovação nos pagamentos com os temas da sustentabilidade?
Nós abordamos sempre a inovação de uma maneira muito responsável. E isso, em Portugal, tem sido exatamente da mesma maneira. Atingimos a neutralidade carbónica das nossas operações em 2020, portanto, há cinco anos, que é muito relevante, já foi há bastante tempo. E temos um compromisso de atingir emissões líquidas zero até 2040. A transição para a eletricidade 100% renovável nos escritórios e data centers virá também. Portanto, estamos nesse caminho. E o nosso intuito geral é reduzir o próprio impacto e produzir um comércio mais sustentável em toda a rede global. Isto é muito importante para nós, no momento em que falamos de stablecoins, blockchain e etc., mencionarmos que, ao mesmo tempo e paralelamente, estamos a trabalhar nesta neutralidade carbónica e em energias sustentáveis.
Sobre esta edição da Web Summit, quais são as expectativas relativamente à vossa presença, que já não é a primeira vez?
Eu diria que seja tão bem-sucedida como ano passado. No ano passado tivemos uma presença muito forte. Fizemos também alguns anúncios. Este ano contamos com o mesmo dinamismo, uma presença também forte, o mesmo interesse. Continuar a contribuir para a inovação do ecossistema em Portugal, não só de pagamentos, mas tecnológico no geral. E continuar a ser muito presentes, não só na Web Summit, mas ao longo de todo o ano, neste ecossistema tecnológico.





