Portugal tem uma costa de quase 3.000 quilómetros, 37 marinas e portos de recreio e 42 estações náuticas certificadas. Mas, apesar do potencial, a náutica de recreio continua longe de ocupar o papel estratégico que poderia ter na economia azul. Esta foi uma das principais conclusões do 1.º Congresso Náutico Internacional, organizado pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal), que reuniu mais de 450 participantes em Mafra.
O setor, que emprega cerca de 10.000 pessoas e representa mais de 500 milhões de euros em volume de negócios, reivindica uma estratégia de longo prazo e menos obstáculos administrativos. “Portugal oferece condições excecionais, mas é preciso simplificar processos, reduzir burocracia e modernizar infraestruturas”, afirmou Fernando Sá, presidente da Divisão Náutica da ACAP.
“Simplex Náutica”
Entre as propostas apresentadas, destacou-se a criação de um Plano Estratégico Nacional para a náutica de recreio, com horizonte a 20 anos, e um “Simplex Náutica”, espécie de programa de modernização administrativa para o setor. A ACAP defende ainda um plano de investimento público para modernizar as infraestruturas marítimas e portuárias e reforçar o papel das autarquias e do Governo na valorização da náutica como atividade económica, turística e formativa.
Entre as propostas debatidas estiveram a criação de um guichet único para decisões sobre o mar, o recurso a parcerias público-privadas para financiar novas marinas e a necessidade de melhor comunicação e integração entre entidades.
Segundo dados apresentados durante o evento por Hermano Rodrigues, diretor da EY-Parthenon, Portugal conta com mais de 6.000 empresas ligadas à náutica de recreio, mas ocupa apenas o 12.º lugar no ranking europeu, muito atrás de países como Itália ou França. “É necessário produzir estudos robustos que orientem políticas públicas e atraiam investimento privado”, sublinhou o consultor.
A náutica como âncora da economia azul
Na sessão de encerramento, o secretário de Estado das Pescas e do Mar, Salvador Malheiro, defendeu que “é preciso potenciar a náutica e fazer dela uma âncora da estratégia nacional para o mar”, insistindo numa abordagem integrada que conjugue economia, ambiente e comunidades locais.
Já Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente e orador principal do congresso, sublinhou que a transição verde deve ser um eixo essencial do setor, ainda que existam “diversos constrangimentos ao nível das infraestruturas”. Para o antigo governante, a náutica precisa de atuar em quatro frentes: “infraestrutura, financiamento, competências e circularidade”.
A perspetiva europeia chegou por via de Philip Easthill, secretário-geral da European Boating Industry (EBI), que destacou as oportunidades de crescimento do turismo náutico e a necessidade de reforçar a competitividade através da cooperação entre políticas públicas e indústria.





