Kim Cattrall: “Precisamos de histórias sobre mulheres para lhes dar a tranquilidade de saberem que não estão sozinhas”

É conhecida por grande parte do público pela sua participação na série "O Sexo e a Cidade", onde deu vida a Samantha, uma das quatro protagonistas, mas foi como diretora que realmente se encontrou na indústria: a contar histórias sobre mulheres. "Há cerca de 15 anos, olhei à minha volta e pensei que não havia…
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Durante a sua passagem por Lisboa, Kim Cattrall defendeu o papel das mulheres em Hollywood e falou sobre a forma como dedica a sua carreira a dar-lhes voz.
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É conhecida por grande parte do público pela sua participação na série “O Sexo e a Cidade”, onde deu vida a Samantha, uma das quatro protagonistas, mas foi como diretora que realmente se encontrou na indústria: a contar histórias sobre mulheres.

“Há cerca de 15 anos, olhei à minha volta e pensei que não havia bons papeis suficientes para mulheres na minha faixa etária, na casa dos 50 anos. Então, tomei essa decisão ousada e disse que queria ser produtora. Queria ter voz ativa nos projetos que iria fazer, com quem e onde. Todas essas coisas eram muito importantes para mim. Podemos acordar de manhã e pensar ‘é um trabalho’ ou podemos acordar de manhã e pensar ‘é o trabalho’. Foi por isso que entrei neste ramo, para contar histórias, especialmente sobre mulheres. E agora, à medida que envelheço, essas histórias são muito mais satisfatórias e ricas de contar”, afirmou Kim Cattrall, numa conferência de imprensa durante o Tribeca Film Festival, em Lisboa.

Até porque, como a própria afirmou, o crescimento de Hollywood deve-se, também, ao talento de diversas mulheres. “Hollywood foi construída com base nessas mulheres incríveis. Bette Davis, Marlene Dutra. O que elas representavam era: elas realmente conseguiram. E nós perdemos isso, recuperámos nos anos 60 e 70, e agora estamos a lutar por isso novamente. Mas há uma coisa sobre a história que é reconfortante: já passámos por isso antes, talvez não exatamente nas mesmas circunstâncias, e, no final, vamos sair. Pelo menos é o que eu espero”, disse.

E acrescentou: “A minha jornada é tornar-me produtora. Espero que, com o meu nome, a minha experiência e as minhas conexões, eu possa realizar projetos que falem sobre mulheres em todo o mundo. Eu protestei pelo caso Roe vs. Wade, isso fez parte do meu despertar como jovem mulher na cidade de Nova Iorque no início dos anos 70. Agora estamos a fazê-lo novamente. Precisamos de histórias sobre mulheres para lhes dar a tranquilidade de saberem que não estão sozinhas, acho que o lugar mais difícil para uma mulher é sentir-se sozinha no que está a passar”.

Era da inteligência artificial

Numa altura em que vários artistas estão a assinar petições para limitar todas as tendências de inteligência artificial (IA) que estão a surgir, Kim juntou-se a este coro ao considerar a IA “assustadora”. “Acho que ainda nem começámos a compreender o que está a caminho. É por isso que precisamos da humanidade, precisamos uns dos outros”, disse.

E a provar essa necessidade está o próprio processo e aquilo que Kim considera ter aprendido com todos os papeis que fez ao longo da carreira. “Acho que cada papel me ensina algo de uma maneira diferente. Ensina-me a ouvir sobre como os humanos são, o que os atrai, o que os repele, não o óbvio, mas as subtilezas. E ensina-me mais sobre tolerância, a não ter uma atitude, a ser aberta, a tentar compreender o que outra pessoa está a passar”, contou.

Uma vez que estava num festival de cinema, Kim Cattrall deixou ainda uma dica a todos os interessados em seguir o mesmo percurso que a própria. “Acho que há duas respostas. Uma delas, a mais importante, é que têm de ter a certeza de que é para eles. É um estilo de vida muito diferente do que parece nas redes sociais. É muito exigente, afasta-os das pessoas que amam e da sua família, normalmente têm de ir para outro lugar onde estejam a fazer filmes e televisão. É uma situação de tentativa e erro. Como te sentes ao fazer isso? Faz-te sentir vivo? Aterroriza-te? Ouvir realmente, e acho que isso é algo que muitos de nós não dedicamos tempo suficiente a fazer, que é ouvir, porque acho que se ouvires realmente como te sentes e as perguntas que surgem, isso determinará se vais em frente ou não. Além disso, se decidires seguir em frente, sê corajoso”, concluiu.

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