Opinião

A chave para cidades mais humanas

Mário de Morais

No próximo dia 31 de outubro assinala-se o Dia Mundial das Cidades, uma oportunidade para refletir sobre o futuro das nossas cidades e sobre como queremos viver nelas. Em Portugal, onde o ritmo urbano tem acelerado todos os anos, enfrentamos desafios cada vez mais urgentes, que vão do congestionamento de tráfego e da crise de habitação, que agrava ainda mais os problemas de deslocação das pessoas, até aos níveis de poluição que ameaçam a saúde pública e a qualidade de vida daqueles que fazem a sua vida nas cidades. A solução não passa por construir mais acessos, ruas ou estacionamentos, mas sim por repensar a forma como nos deslocamos. E aqui a mobilidade partilhada surge como um caminho promissor e uma solução complementar aos transportes coletivos.

O conceito é simples, mas acredito que poderoso. Partilhar veículos, sejam estes carros, trotinetes ou bicicletas, reduz a necessidade de recorrer ao automóvel privado e diminui o espaço urbano ocupado por carros parados. Em cidades como Lisboa e Porto, onde o espaço é cada vez mais limitado, esta é uma abordagem que permite uma circulação mais fluida e desafoga zonas históricas que não foram pensadas para o transporte coletivo pesado.

Mesmo para quem não tem a possibilidade de se deslocar exclusivamente através de transportes públicos ou de mobilidade suave (como bicicletas ou trotinetes), o recurso aos TVDE’s retira carros da cidade e liberta espaço para as pessoas. Já para não falar do tempo que, todos os dias, os condutores despendem a procurar lugar para estacionar os seus carros no meio das cidades.

Além disso, a mobilidade partilhada contribui diretamente para a redução da pegada ambiental. Menos carros na rua significam menos emissões de CO₂, menos poluição sonora e ar mais limpo. De acordo com um estudo recente da consultora Oliver Wyman, na cidade de Berlim, o impacto da integração da mobilidade partilhada com os transportes públicos pode reduzir a utilização do carro privado em 20% até 2030 e cortar as emissões de CO2 em 40%.

Mas o impacto vai além do ambiental, porque este tipo de mobilidade significa também mais tempo para as pessoas, menos stress no dia a dia e maior acessibilidade a serviços e lazer. Ao tornar a deslocação das pessoas mais eficiente, estamos a criar cidades mais inclusivas e humanas, onde é também possível viver mais longe do centro sem perder acesso rápido a trabalho ou lazer, o que amplia o leque de opções habitacionais e permite que cada pessoa escolha o local que melhor se adapta ao seu estilo de vida.

A tecnologia entra ainda como uma das aliadas nesta transformação. As plataformas digitais permitem que os cidadãos encontrem rapidamente alternativas de transporte, combinem diferentes modos de deslocação e tomem decisões mais inteligentes e personalizadas. Mas, acima de tudo, promovem uma mudança cultural ao passarmos de uma lógica de posse do carro para uma lógica de acesso a soluções que servem as nossas necessidades.

Celebrar o Dia Mundial das Cidades é, por isso, também celebrar escolhas que tornam as nossas cidades mais inteligentes e sustentáveis. No final, a pergunta que nos devemos colocar é simples. Queremos cidades congestionadas ou cidades que nos permitem viver melhor? Cidades cheias de carros ou cidades para as pessoas? A mobilidade partilhada oferece uma resposta clara e a oportunidade de transformar o presente, para que as cidades do amanhã sejam espaços mais limpos e humanos onde todos cabemos.

Mário de Morais,
responsável de Ride-hailing da Bolt em Portugal

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